O Espiritismo nos ensina algo muito
importante e que jamais teve uma proposta, assim como uma explicação, tão ampla
e profunda: a necessidade de educação intelecto-moral para aproveitarmos nossas
horas de sono.
Somos Espírito e usamos
temporariamente um corpo físico. Todavia, mesmo durante a encarnação, não
estamos totalmente presos ao corpo físico. Há situações em que recebemos uma
espécie de “liberdade condicional”. Tais situações permitem que o Espírito goze
de um pouco mais de liberdade em relação ao seu corpo físico. O caso mais comum
desse tipo de “liberdade condicional” ocorre através do sono físico.
Do ponto de vista físico, realmente necessitamos
de aproximadamente oito (8) horas de sono por dia; mas, do ponto de vista
espiritual, jamais ocorre qualquer tipo de interrupção de nossas atividades
mento-espirituais. Dessa forma, a consciência não para de atuar jamais. De
fato, durante as horas de sono físico, podemos adquirir (O Espírito
propriamente dito, isto é, o princípio inteligente do universo, a verdadeira
individualidade, também chamada de mente ou Eu superior, o qual é acompanhado
pelo perispírito ou corpo espiritual) uma liberdade parcial em relação ao corpo
físico.
Isso não significa que se eu costumo
dormir oito (8) horas por dia, eu costumo estar desdobrado oito (horas) por
dia. Em um bom intervalo desse tempo, o Espírito pode estar “coincidente” como
o corpo físico, ou seja, justaposto ao corpo, mas, de qualquer maneira, uma boa
parte desse intervalo de tempo dedicado ao sono físico pode estar, e
frequentemente está, associado a um desdobramento efetivo do Espírito.
O desdobramento parcial pelo sono
físico, com raras e especiais exceções, tem sido muito mal aproveitado pela
humanidade. Na verdade, a grande maioria das pessoas piora sua condição
espiritual durante as horas de desdobramento parcial pelo sono físico. A
chamada “vigilância moral” é frequentemente relaxada durante as horas de sono
e, desta forma, muitas tendências negativas que controlamos durante a vigília,
não controlamos durante o sono físico. Isso explica, pelo menos parcialmente, a
ocorrência de muitos sonos grosseiros em que podemos nos surpreender em
atitudes que somos incapazes de tomar durante o dia. Tal contexto tende a ser minimizado
com o estudo mais sério do Espiritismo e com um esforço mais sincero na
aplicação desses princípios libertadores a nós mesmos.
De fato, longe de aproveitarmos
nossas horas de contato mais efetivo com o mundo espiritual para gerarmos
inspiração e iluminação espiritual para nós mesmos, nós desperdiçamos todo esse
tempo e, o que é pior, muitas vezes ainda acentuamos viciações materiais,
processos obsessivos e comprometimentos negativos de toda espécie.
Um terço da vida física é um tempo
gigantesco, que pode gerar intuições positivas para a resolução de inúmeros
problemas existenciais que nos desafiam durante o dia (durante a vigília
física). Por outro lado, e infelizmente de forma mais comum para o nível
espiritual médio de nossa humanidade terrestre, podemos gastar esse tempo
engendrando perturbações para nós mesmos e para outrem, conturbando a capacidade
de desenvolvimento das tarefas diárias.
Neste contexto, o hábito da oração
antes de dormir é uma prática extremamente positiva e saudável do ponto de
vista espiritual, e com inevitáveis conseqüências perispirituais e físicas.
Entretanto, somente a oração não é suficiente. Muitos pensam que um simples
“Pai Nosso” ou uma “Ave Maria” ou qualquer outra oração, decorada ou não, nos
proporcionaria uma imunidade espiritual total, ou quase total, para todo e
qualquer tipo de possível perturbação espiritual que podemos adquirir durante
as horas de sono físico. Mas isso não é verdade. De fato, os pensamentos,
sentimentos, fixações, palavras e atos que praticamos durante todo o dia
constituem a preparação para a noite e para os hábitos que desenvolvemos
durante o desdobramento parcial gerado durante o sono físico. De forma
semelhante, tudo aquilo que fazemos, em Espírito, durante o respectivo
desdobramento parcial, influencia nosso estado mental, nossa tranqüilidade,
nossa capacidade de concentração, nosso apego ou não à matéria, nossas
lembranças, incluindo as negativas e/ou as positivas, entre outros estados
íntimos, durante o dia seguinte.
Isso ocorre porque a consciência não
para nunca e, não parando, estamos construindo nosso estado vibratório e nossas
afinidades espirituais a cada instante e sempre, sem nenhuma interrupção em
quaisquer que sejam as situações existenciais. Logo, um esforço de elevação de
pensamentos de aproximadamente cinco (5) minutos ajuda, mas não pode reverter
totalmente todo um dia inteiro de pensamentos negativos, agressivos,
vingativos, ressentidos, depressivos que tenhamos cultivado.
Assim, podemos gerar círculos
viciosos ou círculos virtuosos durante esses ciclos de vigília-desdobramento
parcial- vigília, dependendo de nossas diretrizes ético-morais e nossos
esforços por empreender nossa evolução espiritual.
As obras de André Luiz, através da
mediunidade de Chico Xavier (citaríamos, a título de exemplo, a extraordinária
obra “Missionários da Luz”, terceira obra da série “A Vida No Mundo
Espiritual”), e as obras oriundas da mediunidade de Dona Yvonne do Amaral
Pereira (tais como “Memórias de um Suicida”; “Devassando o Invisível” e “Recordações
da Mediunidade”), entre outras, mostram grande número de casos em que a
necessidade de educação para o sono é um dos pré-requisitos fundamentais para
uma evolução espiritual sustentável e mais substancial. O estudo desta
realidade e a tentativa de aplicação efetiva dessas informações em nossa
melhoria íntima é fundamental a fim de gerar um salto qualitativo que nos
permitiria adquirir, de fato, um patamar de maior espiritualidade durante toda
nossa vida física, vinte e quatro (24) horas por dia.
Leonardo Marmo Moreira