Uma das
questões que frequentemente surgem dentro do Movimento Espírita (como também
dentro dos movimentos religiosos em geral) diz respeito à atuação
político-social que o Espírita militante deve apresentar. Divaldo Pereira
Franco comenta sobre isso: “O Espírita militante tem o direito de votar e de
ser votado, assim como tem o direito de não querer participar de cargos
políticos de uma forma direta, eletiva ou não”.
A linha
diretriz básica da Doutrina Espírita, que remete ao próprio Evangelho de Jesus,
é que educando o homem de uma forma integral, estaremos melhorando a sociedade
nas suas bases e, lenta e gradualmente, isso melhorará todas as instituições
representativas dessa mesma sociedade. Por essa razão, o Movimento Espirita não
costuma levantar bandeiras políticas, lutando por instituições passageiras e da
sociedade civil, em concordância com o procedimento do próprio Mestre Jesus. Educando
o indivíduo, ele terá mais discernimento e mais valores morais para escolher e
atuar em todos os níveis da sociedade.
Por outro
lado, individualmente, cada ser pode e deve ser ativo socialmente, o que não
significa necessariamente querer ter cargos políticos, pois existem,
obviamente, várias formas de se contribuir para a melhoria da sociedade além da
atuação política propriamente dita. De qualquer maneira, o Espírita militante
pode, se assim o desejar, escolher “ter cargos políticos”, tal como ocorreu com
o Doutor Bezerra de Menezes e com Freitas Nobre. Tal escolha é de foro íntimo e
totalmente livre do ponto de vista doutrinário, em que pese que o Espírita
consciente deverá buscar uma elevada atuação ético-moral em todas as suas
atitudes nas vidas física e espiritual. Portanto, as escolhas devem ser
bastante refletidas, pois necessitamos contribuir para a evolução da sociedade
do ponto de vista espiritual em todas as nossas atuações.
Em que
segmento da sociedade darei uma contribuição mais efetiva à melhoria da vida
das pessoas, aumentando minha cota de paz íntima, limpeza de consciência e
valores espirituais? Essa questão deve estar no foco de toda reflexão de
Espíritas militantes, quando tomem decisões de assumir qualquer compromisso
para com a sociedade, seja de teor político-administrativo ou não.
Assim, dentro
da proposta de “Dar a César o que é de César e dar a Deus o que é de Deus” é
necessário um elevado auto-conhecimento para sabermos que tipo de compromisso
desejamos para nós mesmos. Isso é fundamental para que desenvolvamos
razoavelmente bem essas duas tarefas fundamentais (“Dar a César” e “Dar a
Deus”), sem cairmos, voluntariamente, em situações espirituais complexas, nas
quais sentiremos dificuldade para administrá-las com elevado nível de
espiritualidade.
Além disso,
temos que ter em mente que todos nós trazemos para a Crosta terrestre
compromissos espirituais específicos e pessoais. Comumente, entretanto, ao
chegarmos à encarnação, tentamos fugir de nossos compromissos, assumindo outras
propostas que não são as mais interessantes para a nossa evolução espiritual. É
claro que isso nos é permitido, pois o livre-arbítrio é base da Lei de Deus e,
ademais, uma mudança de rumo não necessariamente significa um desastre do ponto
de vista espiritual, em que pese que nem sempre poderia ser o mais
aconselhável. Nesse contexto, faz-se pertinente uma avaliação das
potencialidades pessoais, intenções, objetivos e implicações pessoais,
familiares e sociais para saber se nos convém tal escolha, pois, como diz o
Apóstolo Paulo: “Tudo me é lícito, nem tudo me convém”. De fato, toda escolha
de um gênero de tarefas, sobretudo daquelas mais absorventes e desgastantes,
implica em ter menos tempo e disponibilidade para outros gêneros de atividade.
Cabe tentar escolher com sabedoria as que seriam mais interessantes para nós.
Leonardo Marmo Moreira