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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O PENSAMENTO DE UBALDI E A DOUTRINA ESPÍRITA

Fazendo um estudo comparativo entre o pensamento de Pietro Ubaldi e a Doutrina Espírita, podemos identificar várias propostas bem como atitudes que denotam significativa discordância conceitual e/ou metodológica entre seus respectivos conteúdos. Vejamos alguns tópicos relacionados a essa discussão:
1)      Pietro Ubaldi até quase 50 anos ainda se considerava um "bom católico", e só passa a se afastar mais efetivamente da igreja católica quando o vaticano coloca suas obras “A Grande Síntese” e “Ascese Mística” no Index Librorum Prohibitorum. José Amaral (amigo pessoal e conhecido biógrafo de Pietro Ubaldi, em seu respectivo trabalho biográfico sobre Pietro Ubaldi, o qual encontra-se inserto como anexo na parte final da obra de Pietro Ubaldi “Grandes Mensagens”, publicado pela FUNDAPU) afirma que “quando A Grande Síntese foi colocada no Librorum Indice Prohibitorum, pela Igreja, sua dor foi titânica, porque ele amava aquele livro, revelado por Sua Voz. Tão grande fora seu desânimo que “decidiria quebrar a pena, renunciar a escrever, renunciar a compreender e, afinal, renunciar a pensar. Mas não compreendera que sua vontade não bastava e que não é possível, mesmo que se queira, sufocar o espírito”.  Apesar de tamanha decepção com a igreja católica, Ubaldi ainda vai se considerar um “franciscano” por toda a sua vida. Primeiramente, denominava-se católico até quase 50 anos e depois monista e/ou universalista, apesar de “franciscano”. Tal episódio demonstra a forte influência católica no pensamento do autor italiano. Pietro Ubaldi nunca se considerou Espírita.
2)      Ubaldi afirmou ter lido Kardec no ano de 1912 (curiosamente, ele comenta isso em palestra proferida em 1951 para público predominantemente espírita, destacando somente o caráter reencarnacionista do Espiritismo, como se esse tópico fosse a única informação que a Doutrina Espírita nos oferece). Todavia, até 1939, Pietro Ubaldi ainda se considerava um “bom católico”. Assim, a suposta leitura de Kardec não o tornou espírita, pois continuou católico praticante (inclusive com confessor) durante várias décadas (vide texto de José Amaral em “Grandes Mensagens”). Se Ubaldi leu Kardec, leu de forma superficial, ou, por outro lado, não concordou ou não se impressionou muito. Assim como acontece com muitos católicos no Brasil, Ubaldi teve acesso ao conteúdo espírita, passando a acreditar na reencarnação, mas sem qualquer compromisso com o estudo doutrinário espírita. Ubaldi era, no máximo, um simpatizante de algumas ideias do Espiritismo, e acreditava ter superado, e muito, a Obra Kardeciana.
3)      Pietro Ubaldi fez um curioso “voto de pobreza”, em 1927, quando seu pai desencarna. Em primeiro lugar, poderíamos questionar: “voto de pobreza” é atitude espírita? Em princípio, não. A Doutrina Espírita está muito mais sintonizada, nesse sentido, com o pensamento do Apóstolo Paulo: “Fazendo com as mãos o que for bom, para ter o que repartir com aquele que passa por necessidades”. Ou seja, os recursos materiais devem ser empregados para gerar obras e produções efetivas no campo do bem. É interessante registrar que Ubaldi, que nasceu em “berço de ouro”, não trabalhou de forma efetiva durante um largo intervalo de tempo (desde sua formatura em Direito em 1910 até ser nomeado professor de inglês na Sicília em 1931, o único “trabalho” efetivo que ele teve foi como motorista de veículos durante a Primeira Guerra Mundial, pois ele nunca assumiu, de fato, a administração das fazendas e demais propriedades e negócios de sua rica família[vide a supracitada biografia de Pietro Ubaldi elaborada por José Amaral e publicada pela FUNDAPU em anexo à obra “Grandes Mensagens”). Aliás, Ubaldi não se opôs a um casamento de interesses proposto por seus pais (vide biografia de Ubaldi por José Amaral, “Grandes Mensagens”; vide também “Para Entender Ubaldi” J. Damas Martins; Júlio Damasceno), no qual juntaram a sua fortuna com a fortuna de sua futura esposa (6 fazendas de um e mais 6 fazendas do outro). Em segundo lugar, no seu “voto de pobreza”, Ubaldi “abriu mão” dos seus direitos à herança paterna em benefício de sua esposa (casaram em regime de comunhão de bens) e dos seus filhos (os quais viveram com Ubaldi até a desencarnação do referido autor). Portanto, é pertinente um novo questionamento: Ubaldi realmente abriu mão de seus bens como ele e seus adeptos defendem para atribuírem a Ubaldi um suposto desapego material?!
4)      Segundo o biógrafo José Amaral, quando comenta sobre o quarto pessoal de Pietro Ubaldi (na referida obra biográfica), Ubaldi não tinha o hábito da leitura. Diz-nos José Amaral: “somente não havia lugar nesse quarto para livros de outros escritores, não havia nem mesmo uma prateleira destinada a livros que não fossem os seus e Ubaldi era um homem culto. Sua grande cultura provinha de outras vidas, da juventude e do período de maturação interior, espiritual. Agora, para escrever, não precisava mais de biblioteca, porque sabia ler no grande livro da vida e tinha o universo em suas mãos, através de sua poderosa intuição”. Em outras palavras, Ubaldi não lia coisa alguma. Como ele e seus adeptos podem achar que existe algo de científico em alguém que não lê nada, além de suas próprias obras? E, ademais, se ele fosse minimamente espírita, não teria que estudar com alguma freqüência as obras de Kardec e outras obras doutrinárias?! Os médiuns espíritas não são constantemente convocados ao estudo doutrinário, ao estudo de si mesmo, e ao estudo de outras obras respeitáveis a respeito do Espiritualismo e do Espiritismo?! Até médiuns que não se consideram espíritas estudam, o que, aliás, é muito louvável. Como “ele tinha o universo em suas mãos”, não precisava estudar?! Trata-se de atitude vaidosa e muito infeliz. Qualquer indivíduo minimamente esclarecido sabe que temos que estudar a vida toda, em um processo conhecido atualmente como “educação continuada”. Será que alguém com pretensão apostólica e revolucionária em termos evolutivos não tinha conhecimento disso?
5)      Ubaldi, em toda a sua obra, considera a vida física na Crosta um verdadeiro “inferno terrestre”. Tal postura contrasta grosseiramente com a visão positiva que a Doutrina Espírita apresenta a respeito da Reencarnação e de suas respectivas lutas evolutivas, as quais consistem em mecanismos da Lei de Progresso atuando em nosso próprio benefício.
6)      Pietro Ubaldi está sempre enfatizando, em todos os seus 24 livros, que sua vida física foi um terrível “martírio”, vivendo com intensa “dor”, em todas as fases de sua longa vida de 85 anos e alguns meses. O que nós, Espíritas, aprendemos com Allan Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne, Eurípedes Barsanulfo, Chico Xavier, Yvonne Pereira e tantos outros notáveis autores espíritas é que devemos amar a vida física, aprendendo a não hipervalorizar os problemas pessoais, sabendo que muitas vezes outros que estão à nossa volta sofrem muito mais e não comentam suas próprias lutas e dores (vale a pena ler o texto “O Bem e o Mal Sofrer”, inserto no Capítulo V – “Bem-Aventurados os Aflitos”, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”). Enfrentar a luta da vida física com atitude elevada espiritualmente também significa lamentar menos, sem hipervalorizar seus próprios problemas, aprendendo a esquecer nossas próprias dores através do trabalho contínuo de auxílio aos nossos irmãos. Ubaldi só escreve sobre si mesmo e passa a impressão de ser o indivíduo mais sofredor do mundo. Tamanho nível de conflito íntimo não parece ser característica espiritual de grandes missionários do bem, ainda mais se lembrarmos que Ubaldi achava que era a reencarnação do “Apóstolo Simão Pedro”. Se lermos a obra de André Luiz, perceberemos que excessiva lamentação é típica de Espíritos que ainda estão longe de serem considerados mentores espirituais. O próprio André Luiz é por diversas vezes advertido sobre essa atitude na sua primeira obra “Nosso Lar”. Para encerrar esse tópico, poderíamos questionar: Chico Xavier costumava reclamar muito de sua vida material? E a vida de Chico Xavier foi pouco desafiadora em termos de dificuldades e lutas? Não é a resposta para as duas questões. O modus vivendi de Pietro Ubaldi é o oposto daquele característico de Chico Xavier. Quem estaria em coerência com o Evangelho de Jesus? É evidente que Chico Xavier. Nesse contexto, vale lembrar as recomendações do Apóstolo Paulo: “Regozijai-vos sempre!”; e “Aprendi a não mais ir ter convosco em tristeza”. Como nos ensina Divaldo Franco (Palestra e “Pinga-Fogo” desenvolvido no início de 1990 no Centro Espírita Meimei, no ABC paulista intitulado “A Casa Espírita”) “eu não posso crer no dia e na noite na mesma situação, no mesmo momento e no mesmo local. Como eu creio em Kardec, o outro deve estar errado. Porque eu creio em Kardec por opção pessoal...”.
7)      Além de se achar a reencarnação do “Apóstolo Pedro”, Pietro Ubaldi e seus discípulos consideram que a obra de Ubaldi veio diretamente de Cristo e que sua missão é a maior da história da humanidade desde Francisco de Assis. Entretanto, o conteúdo das mensagens de “Sua Voz” (supostamente Jesus de Nazaré) é muito fraco, vaidoso e repetitivo, sendo inadmissível considerar Jesus ou qualquer Espírito da “Falange do Espírito da Verdade” seu autor. Erasto na mensagem “Caracteres do Verdadeiro Profeta”, inserta em “Instruções dos Espíritos” (Capítulo 21 – “Falsos Cristos e Falsos Profetas” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”) ensina-nos:
Outra consideração a fazer é a de que a maior parte dos verdadeiros missionários de Deus ignoram que o sejam. Realizam aquilo para que  foram chamados, graças ao poder de seu próprio gênio, secundados pelo poder oculto que os inspira e os dirige, à sua revelia, e sem que o tivessem premeditado. Numa palavra: os verdadeiros profetas se revelam pelos seus atos e são descobertos pelos outros, enquanto os falsos profetas se apresentam por si mesmos como enviados de Deus. Os primeiros são humildes e modestos; os segundos, orgulhosos e cheios de si, falam com arrogância, e como todos os mentirosos, parecem sempre receosos de não serem aceitos. Já se viram desses impostores apresentarem-se como apóstolos do Cristo, outros como o próprio Cristo, e, para vergonha da humanidade, encontraram pessoas bastante crédulas para aceitarem as suas imposturas. Uma observação bem simples, entretanto, bastaria para abrir os olhos aos mais cegos: se o Cristo reencarnasse na Terra, o faria com todo o seu poder e todas as virtudes, a menos que se admita, o que seria absurdo, que ele houvesse degenerado. Ora, da mesma maneira que se tirarmos a Deus um dos seus atributos, já não teremos Deus, se tirarmos uma só das virtudes do Cristo, não mais o teremos.
Esses que se apresentam como o Cristo revelam todas as suas virtudes? Eis a questão. Observai-os, sondai-lhes os pensamentos e os atos, e verificareis que lhes faltam sobretudo as qualidades distintivas do Cristo: a humildade e a caridade, enquanto lhes sobram as que ele não tinha: a cupidez e o orgulho. Notai ainda que neste momento existem, em diversos países, muitos pretensos cristos, como há também numerosos e pretensos Elias, supostos São João ou São Pedro, e que necessariamente não podem ser todos verdadeiros. Podeis estar certos de que aos exploradores da credulidade, que acham cômodo viver às expensas daqueles que lhes dão ouvidos”.
8)      O seguinte comentário de Erasto também está inserto em “Instruções dos Espíritos” (Capítulo 21 – “Falsos Cristos e Falsos Profetas” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”) em uma outra mensagem denominada “Os Falsos Profetas da Erraticidade”. Essa análise bastante contundente também ajuda-nos na conscientização da necessidade de criteriosa avaliação do conteúdo obtido mediunicamente. Erasto esclarece-nos: “Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer, devem ser não somente muito bons, mas também eminentemente racionais. Pois bem: passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do bom-senso, e vereis o que restará. Então concordareis comigo em que, sempre que um Espírito indicar, como remédio para os males da Humanidade, ou como meios de realizar a sua transformação, medidas utópicas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou quando formula um sistema contraditado pelas mais corriqueiras noções científicas, só pode ser um Espírito ignorante e mentiroso” (Erasto, Discípulo de Paulo, 1862). O próprio Codificador do Espiritismo Allan Kardec elaborou um capítulo em “O Livro dos Médiuns” para comentar sobre mensagens que ele recebera e que eram indignas de serem da autoria dos supostos mentores espirituais que as assinaram, alertando-nos quanto aos perigos da mediunidade. Kardec ensina-nos a avaliar rigorosamente o conteúdo das mensagens de origem mediúnica, hábito não cultivado por Ubaldi.
9)      Pietro Ubaldi é médium de um Espírito só. Ele só recebeu mensagens de “Sua Voz” durante toda a sua vida. Isso é muito estranho. Também no capítulo 21 “Falsos Cristos e Falsos Profetas” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, entre outras passagens, a Codificação ensina-nos que essa é uma característica de médiuns que estão assessorados por Espíritos mistificadores. Se avaliarmos os principais médiuns do Movimento Espírita, tais como Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, Yvonne do Amaral Pereira, entre outros, identificaremos grande número de Espíritos comunicantes e com obras com características e propostas bem distintas (portanto, cada Espírito escreve segundo seu estilo pessoal). Aliás, mesmo médiuns com tarefas de menor projeção costumam receber diferentes Espíritos. Ubaldi não apenas recebe comunicações de um único Espírito, como esse Espírito seria o próprio Jesus. Segundo a Doutrina Espírita, tal situação pode sugerir fascinação. Divaldo Franco e Júlio César Grandi Ribeiro comentam em várias oportunidades sobre a intensa atuação de Chico Xavier em reuniões de desobsessão, recebendo mensagens psicofônicas de Mentores Espirituais no início e/ou no fim das reuniões e de grande número de Espíritos obsessores durante o transcurso das reuniões de intercâmbio com Espíritos sofredores.
10)   O próprio encontro entre Pietro Ubaldi e Chico Xavier, em 1951, demonstra que Pietro Ubaldi é médium de somente um Espírito: “Sua Voz”. Na presença de Chico Xavier (no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo-MG), Ubaldi recebe mensagem psicográfica de “Sua Voz”. Enquanto isso, Chico Xavier recebe mensagens psicográficas de Francisco de Assis e de Emmanuel e mensagens através de sua vidência e audiência de grande número de Espíritos familiares de Pietro Ubaldi que já tinham desencarnado, para surpresa do autor italiano. Por que Ubaldi não percebeu esses Espíritos? E não notou nenhuma outra entidade? Isso ocorre porque Ubaldi não era um “médium de ação”, ou seja, não tinha uma mediunidade significativa, apesar dos seus adeptos afirmarem ser ele “a maior antena psíquica do século XX” (“Para Entender Ubaldi”/J. Damas Martins; Júlio Damasceno). Portanto, essa “exclusividade” autoral concernente ao Espírito “Sua Voz” sugere fortemente que Ubaldi nunca foi um médium ostensivo (o que também fica evidente ao se estudar outras passagens da vida e da obra de Pietro Ubaldi) e não era cuidadoso na avaliação do conteúdo da mensagem que ele gerava, pois, caso contrário, ele deveria ficar surpreso por somente receber mensagens de um único Espírito. É evidente que Ubaldi elaborou uma obra que possui fortíssimo componente anímico, através de grande auto-sugestão, o que pode ser atribuído à sua vontade de ser médium e à ausência de estudo a respeito dos problemas e riscos que o trabalho mediúnico e/ou espiritual apresenta para aqueles que não se preparam convenientemente para superá-los.
11)   A mensagem de Emmanuel dirigida a Pietro Ubaldi no encontro entre Chico Xavier e Ubaldi, em 1951, é um grande alerta a Ubaldi sobre o significado do Espiritismo para os homens na Terra, como legítima revivescência do Evangelho de Jesus. Aparentemente, Ubaldi não se sensibilizou significativamente, preferindo continuar sua “carreira-solo”, desenvolvendo um trabalho a parte da Doutrina Espírita.
12)   Ubaldi defende o chamado “Monismo”, que seria uma espécie de panteísmo, no qual matéria e espírito seriam interconversíveis, estando ambos “mergulhados em Deus”. Do ponto de vista espírita são dois equívocos: a interconversão entre matéria e espírito; e a visão panteísta de Deus. A Doutrina Espírita estabelece uma proposta dualista, na qual espírito (ou princípio espiritual) e matéria (ou princípio material) são realidades totalmente distintas, embora interagentes (vide Primeira Parte de “O Livro dos Espíritos”). Além disso, “O Livro dos Espíritos” rejeita categoricamente a idéia panteísta, estabelecendo que Deus (“A inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”), Espírito e Matéria são totalmente independentes (vide, igualmente, Primeira Parte de “O Livro dos Espíritos”).
13)   Admitir a Queda Espiritual é rejeitar Allan Kardec. Entretanto, nossas heranças religiosas associadas à interpretação literal do “Gênesis” ainda dificultam o entendimento doutrinário. Léon Denis afirma em “Cristianismo e Espiritismo” que os erros na interpretação do “Gênesis” constituem causa de uma série de doutrinas equivocadas no Cristianismo e no Espiritualismo de uma forma geral. Severino Celestino e Pastor Nehemias Marien também corroboram essa opinião de Denis. Obviamente, as fortes contaminações católicas na formação dos pseudo-espíritas e semi-espíritas vêm sendo um problema no movimento espírita. Entretanto, no caso de Ubaldi, a problemática adquire maiores proporções. De qualquer forma, Ubaldi nunca disse que sua obra era espírita. Nesse contexto, o erro maior, indiscutivelmente, é dos Espíritas que tentam “forçar” o reconhecimento da obra de Pietro Ubaldi como “obra espírita”. Por outro lado, apesar de Ubaldi não considerar sua obra espírita, tem a atitude contraditória de sugerir que os Espíritas incorporem suas obras no corpo doutrinário espiritista, proposta que foi contundentemente rejeitada por renomados espíritas, como é o caso do Professor J. Herculano Pires.
14)   Poderíamos reconhecer algum valor relativo na obra de Ubaldi, pois o fato de ser obra espiritualista, e não espírita, não retira do autor italiano eventual mérito que sua obra possa apresentar. Aliás, muitos autores espiritualistas são respeitados e até mesmo admirados no meio espírita. Daí, a considerá-lo “autor espírita” e, para alguns, “renovador” e ou “reformador” de Kardec vai uma grande diferença. De qualquer maneira, para um autor fornecer contribuição ao Movimento Espírita, sua obra precisa estar em coerência com os postulados básicos da Doutrina Espírita e ser chancelada pela “Universalidade do Ensino dos Espíritos”. Isso ocorre porque Espírito Superior não conta mentira! Espírito Superior comenta aquilo que conhece profundamente. Se não conhece, não comenta, ou comenta dentro dos limites do seu conhecimento, pois, afinal, não são levianos, e não vão se arriscar a ensinar algo errado a seus irmãos. Assim, o médium preparado intelecto-moralmente poderá conseguir uma boa “filtração” da mensagem dos Espíritos Superiores, contribuindo com a chegada até nós, encarnados, de conteúdos que realmente nos iluminem com a Verdade. Tais conteúdos, por diferentes Espíritos, diferentes médiuns (todos elevados intelecto-moralmente) e diferentes grupos, tendem a se confirmarem mutuamente. Entretanto, a obra de Ubaldi não é corroborada por autores espíritas respeitáveis, encarnados ou desencarnados.
15)   Pietro Ubaldi não era cuidadoso com o fenômeno mediúnico e baseava suas conclusões em meras suposições. As ideias de “Queda Original” e de que nosso Universo é um “Anti-sistema” não apresentam nenhuma confirmação por autores respeitáveis, sejam eles encarnados ou desencarnados.
16)   Na sua obra final intitulada “Cristo”, Ubaldi defende que Jesus sofreu na sua Paixão, Crucificação e Morte, pois era um “Espírito decaído” e só voltou para o Reino dos Céus, o que Ubaldi denomina “Sistema”, após o sofrimento final do Julgamento, Crucificação e Morte. Portanto, Jesus sofreu porque estava expiando sua “rebeldia” e como uma espécie de “anjo decaído”, ainda precisava terminar de pagar por seus erros. Essa espécie de “pagamento de pecados” só foi completada, segundo Ubaldi (vide sua obra “Cristo”), após sua morte física na cruz, para que só então Jesus pudesse voltar ao “Sistema”, isto é, à condição de habitante do “Reino dos Céus”, na concepção ubaldista. Essa visão a respeito de Jesus discorda fortemente de todos os autores respeitáveis do Espiritismo, encarnados e/ou desencarnados, não sendo corroborada por nenhuma obra representativa associada à Doutrina Espírita. Todos estariam errados e “Sua Voz”/Ubaldi estaria certo?! Provavelmente, não. Portanto, novamente Ubaldi não possui o respaldo da “Universalidade do Ensino dos Espíritos”.
17)   Sistematicamente, Ubaldi tenta atribuir um caráter científico à sua obra, o que não tem nenhum fundamento, pois ele não aplicou nenhum método de avaliação da mensagem e nenhum tipo de avaliação do que escrevia. Aliás, considerava isso dispensável, pelo menos no que diz respeito à obra “A Grande Síntese” (vide seu comentário em “Nova Civilização do Terceiro Milênio”), a qual, para Ubaldi, era “irretocável”.

Portanto, não há sustentabilidade doutrinária na tentativa de inserção da obra de Pietro Ubaldi como obra subsidiária do Movimento Espírita.

Leonardo Marmo Moreira

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

PIETRO UBALDI SERIA UM AUTOR ESPÍRITA?

                Pietro Ubaldi (nascido em 18 de Agosto de 1886 em Foligno na Itália e desencarnado em 29 de Fevereiro de 1972, aos 85 anos) foi um autor italiano, que se fixou no Brasil no início da década de 50, e que recebeu substancial atenção por parte do Movimento Espírita Brasileiro. Suas obras foram significativamente difundidas no meio espírita, tendo sido publicadas, inclusive, pela própria Federação Espírita Brasileira (FEB) (trata-se de “A Grande Síntese” obra de 1932, que a FEB publicou em 1939, traduzida ao português por Guillon Ribeiro). Realmente, a comunidade espírita representou, e ainda representa nos dias atuais, a majoritária parte do público leitor das obras de Pietro Ubaldi.

O conteúdo da obra de Pietro Ubaldi, que abrange 24 livros, sua metodologia de trabalho, assim como sua atitude perante as questões espirituais, o Movimento Espírita e a sociedade em geral constituem materiais para análise que fornecem subsídios para nossa reflexão, visando responder à pergunta título desse artigo. Vejamos, portanto, alguns tópicos concernentes aos três ângulos da questão:

1)      Pietro Ubaldi já era um homem de meia idade (45 anos), quando recebeu, em princípio através de sua mediunidade intuitiva, a primeira mensagem da entidade que se denominou “Sua Voz”. Segundo Doutor Bezerra de Menezes, através da mediunidade de Yvonne Pereira, os médiuns mais confiáveis, a priori, seriam aqueles que apresentaram sua faculdade de forma ostensiva desde a primeira infância, pois, nestes casos, tal tarefa já teria sido planejada e preparada muito antes da atual encarnação. Esse não é o caso de Pietro Ubaldi. O recebimento da sua primeira mensagem de origem espiritual ocorreu no Natal de 1931 e a mensagem é intitulada “Mensagem do Natal”. Tal mensagem seria incluída no livro “Grandes Mensagens”. Vejamos o primeiro parágrafo de “Sua Voz”:
“No silêncio da Noite Santa, escuta-me. Põe de lado todo o saber e tuas recordações; põe-te de parte e esquece tudo. Abandona-te à minha voz; inerte, vazio, no nada; no mais completo silêncio do espaço e do tempo. Neste vazio, ouve minha voz que te diz - ergue-te e fala: Sou eu”.

                Essas recomendações de “Sua Voz” estão em clara oposição com tudo o que Allan Kardec e a Doutrina Espírita nos ensinam sobre a atitude que o médium deve ter em relação à mensagem mediúnica.
A ordem “Põe de lado todo o saber e tuas recordações; põe-te de parte e esquece tudo. Abandona-te à minha voz”, sugere fortemente que o médium não deveria utilizar de qualquer tipo de avaliação crítica em relação ao conteúdo da mensagem a ser recebida. Durante o processo de recepção mediúnica propriamente dita é natural que tal atitude de “passividade” seja compreensível, mas de forma nenhuma essa deve ser a atitude na avaliação da qualidade da mensagem, depois de seu recebimento. Essa recomendação é a antítese da recomendação que Emmanuel faz a Chico Xavier, quando de sua primeira aparição ao médium de Pedro Leopoldo: “Chico, se algum dia, algo que eu te disser estiver em oposição a Jesus e a Allan Kardec, você deverá me deixar e ficar com Jesus e Allan Kardec”. O médium que não submete o conteúdo de origem mediúnica à avaliação crítica está muito predisposto à fascinação, ou seja, a hipervalorizar o conteúdo da mensagem que recebe bem como a evolução espiritual do(s) Espírito(s) comunicante(s). Entretanto, esse tipo de avaliação do conteúdo da mensagem não era algo a que Ubaldi estivesse atento, uma vez não se considerava um Espírita militante, e, portanto, não se sentia comprometido com as diretrizes kardecianas. Na melhor das hipóteses, Ubaldi tinha lido, de passagem, algumas obras espíritas, sendo, no máximo um simpatizante de algumas idéias espiritistas.

2)      A obra de Ubaldi tinha um certo caráter messiânico, não estando sujeita a qualquer avaliação, principalmente no que era atribuído à “Sua Voz”, conforme o próprio Ubaldi assevera no prefácio da obra “A Nova Civilização do Terceiro Milênio”. Diz Ubaldi sobre “A Grande Síntese”:
“Este não é livro que se possa retocar, corrigir, cujo texto se possa ampliar, enxertando-lhe digressões, conceitos novos. Nasceu de um jato, em um dado momento histórico, com determinada função social e espiritual, através de particular estado psicológico de intuição. Condicionado por esses elementos especiais e irreproduzíveis, conservou-se inalterável, como se vasado em bronze, inviolável e firme, qual rochedo que desafia as tempestades dos séculos”.
Portanto, Ubaldi dá um caráter de “texto sagrado” à sua obra “A Grande Síntese”, fazendo dela uma espécie de “palavra de Deus”, algo que denota um misticismo exagerado, tornando tal livro algo que não poderia ser questionado. Lembra a visão fanática de algumas religiões cristãs em relação à Bíblia e a interpretação literal que tais grupos religiosos apresentam em relação aos textos bíblicos. Ubaldi mostra-se muito contraditório, pois considera seu trabalho algo altamente científico, mas age como um religioso fanático, sem nenhum tipo de metodologia ou critério de avaliação científica do conteúdo recebido intuitivamente. Nada perto da avaliação efetuada sistematicamente por Allan Kardec, incluindo o “Controle Universal do Ensino dos Espíritos” proposto pela Codificação. De fato, o posicionamento de Ubaldi é muito diferente da postura de Allan Kardec, que deixou claro que se, em algum momento, a ciência deixasse evidente algum erro conceitual no Espiritismo, o movimento espírita deveria deixar esse conceito equivocado e seguir com a Ciência. Ubaldi considerava “A Grande Síntese” irretocável.
Há outras evidências de que a atitude ubaldiana difere do modus operandi de Allan Kardec. De fato, a segunda edição (que se tornou a edição definitiva) de “O Livro dos Espíritos” foi amplamente revisada e ampliada em relação à primeira edição. Com “O Livro dos Médiuns” também é feita uma ampla revisão para a segunda edição, que também passa a ser a versão definitiva desta obra, sem significar, no entanto, que devemos considerá-lo um “texto irretocável”, o que retiraria da Doutrina Espírita seu aspecto científico.

3)      O segundo parágrafo da “Mensagem de Natal” de autoria de “Sua Voz” é o seguinte:

“Exulta pela minha presença: grande bem ela é para ti; grande prêmio que duramente mereceste. É aquele sinal que tanto invocaste deste mundo maior em que vivo e em que tu creste. Não perguntes meu nome; não procures individuar-me. Não poderias; ninguém o poderia. Não tentes uma inútil hipótese. Sabes que sou sempre o mesmo”.


        “Exulta pela minha presença: grande bem ela é para ti; grande prêmio que duramente mereceste...” também denota sério perigo, pois o Espírito comunicante exalta tanto a própria personalidade assim como a personalidade do médium. Ele tanto se auto-elogia como elogia o médium. Esse tipo de abordagem vai se repetir em toda a obra de Ubaldi. “Sua Voz” sempre exalta o sofrimento, as dores, a renúncia, a missão etc. pertinentes à vida de Ubaldi. A promoção da vida e da obra de Ubaldi consiste em um dos temas centrais da própria obra de Ubaldi. Poderíamos reflexionar: Nós observamos esse tipo de comentário nos Espíritos que orientaram Kardec? E nos Espíritos que orientaram Chico Xavier? E nos Mentores Espirituais que se comunicaram através de Yvonne Pereira?  E nos Guias Espirituais que trouxeram mensagens através de Divaldo Franco? Obviamente, a resposta para todos esses outros médiuns é não. “Sua Voz” e Ubaldi devem ter esquecido de que “aquele que se humilha será exaltado e aquele que se exalta será humilhado”.
É aquele sinal que tanto invocaste deste mundo maior em que vivo e em que tu creste”. Parece que Ubaldi “invocava” sistematicamente o “mundo maior”, o que também é percebido em outras passagens. O Professor Herculano Pires diz: “Evoque uma pedra, e ela atenderá”. Quem evoca excessivamente o mundo espiritual, quer muito obter uma mensagem e tende a acreditar, sem análise crítica, em tudo o que está registrado na referida mensagem. Chico Xavier dizia: “O telefone toca de lá para cá”. Não devemos forçar o intercâmbio espiritual. A comunicação que surge com espontaneidade, pode ser mais bem avaliada e corre menos risco de sofrer processos anímico-mistificadores.

4)      Aparentemente, Ubaldi começa a acreditar que sua missão é a maior de todas nos últimos séculos. Algo totalmente sem precedentes, desde Jesus e Francisco de Assis. Passa, inclusive, a acreditar ser a reencarnação do “Apóstolo Pedro”. De fato, grande número de discípulos de Ubaldi considera que “Sua Voz” é o próprio Jesus. Vejamos o motivo em mais uma mensagem obtida em data que corresponde à importante efeméride católica:

“Sua Voz” diz na última frase da “Mensagem do Perdão” (2 de agosto de 1932, dia do Perdão da Porciúncula " de São Francisco: “Porque eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.
        Portanto, “Sua Voz”, em um primeiro momento recomenda “Não perguntes meu nome; não procures individuar-me. Não poderias; ninguém o poderia. Não tentes uma inútil hipótese. Sabes que sou sempre o mesmo”. Todavia, em um segundo momento, muda de idéia, e resolve sugerir que é Jesus (“Porque eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”).


5)      A segunda mensagem de Pietro Ubaldi recebeu o sugestivo título de “Mensagem da Ressurreição”, a qual, curiosamente, foi recebida na páscoa de 1932. Parece que a entidade comunicante, não satisfeita em utilizar expressões católicas, somente atua em “dias santos” e datas festivas católicas. Vejamos os parágrafos sétimo e oitavo da referida mensagem:
“A quem sofre eu digo: “Coragem! És um decaído que na sombra reconquista a grandeza perdida”.
É a justa reação da Lei que livremente transgredistes e que exige o retorno ao equilíbrio; instrumento de ascensão, a dor vos aponta o caminho de que fugistes; impõe-vos reabrirdes vossa alma, fechada pelas alegrias fáceis que infelizmente vos cegam, para que alcanceis júbilos mais altos e verdadeiros. A dor é uma força que vos constrange a refletir e a buscar em vós mesmos a verdade esquecida. É imposição de um novo progresso”.
À luz da Doutrina Espírita, o conteúdo agora fica completamente comprometido. As mensagens começam a defender que quem sofre é um Espírito “decaído”. De fato, a chamada “Queda Espiritual” vai ser pregada em toda a obra de Pietro Ubaldi (vale destacar a obra que recebe o impactante título “Queda e Salvação”). Esse ponto chave está em brutal oposição a toda a obra da Codificação Espírita, que combateu sistematicamente as ideias de “anjo decaído”, “reencarnação como castigo (exclusivamente para Espíritos falidos)”, “regressão espiritual”, “metempsicose” etc.
Se “Sua Voz” é Jesus ou algum Espírito de altíssima evolução, como pode discordar tão fortemente do que “A Falange do Espírito de Verdade” enunciou na Codificação Kardeciana sobre um princípio básico da Lei de Deus?!

6)      Ubaldi fica arrasado quando suas obras “A Grande Síntese” e “Ascese Mística” são colocadas no Index Librorum Prohibitorum da Igreja católica, em 1939. Cabe a pergunta: Um espírita se surpreenderia com isso, em plena década de 30?! E, o que é pior, um espírita de fato ficaria tão chocado com isso? Por um acaso, ele pretendia que suas obras fossem adotadas pela igreja católica?!

7)      Apesar de, a priori, Ubaldi ter afirmado que lera algumas obras de Allan Kardec, Ubaldi não as lia com frequência e muito menos outras obras subsidiárias da Doutrina Espírita. A única exceção (em termos de leitura, não de leitura assídua) teria sido “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” (Humberto de Campos/Francisco C. Xavier). Além disso, Ubaldi jamais se considerou espírita, e nunca frequentou com assiduidade o Movimento Espírita, jamais se integrando ao Movimento Espírita Brasileiro, por mais que essas oportunidades lhe fossem sempre renovadas. Ubaldi pretendia criar um movimento próprio, que seria conhecido como “Monismo” ou “Universalismo”, entre outras denominações. Contudo, Ubaldi foi apoiado por Espíritas, desde seu tempo de Itália. Recebeu cartas estimuladoras de Ernesto Bozzano e recebeu a visita de Silvino Canuto Abreu, que lhe informara que o autor italiano usufruía de grande número de leitores entre os Espíritas brasileiros. Ubaldi torna-se correspondente de Clóvis Tavares, que organiza sua grande viagem ao Brasil em 1951, na qual Ubaldi profere muitas conferências para um público com grande presença de espiritistas. Aos poucos, Ubaldi percebe que seu público é basicamente constituído de espíritas brasileiros, mas, mesmo assim, não se sensibiliza em procurar uma maior integração com o movimento. Portanto, muitos espíritas haviam escolhido ler Ubaldi, apesar de Ubaldi não ter escolhido ser espírita.

8)      No Brasil, Ubaldi vive de sua aposentadoria como professor e dos direitos autorais da sua obra. Essa é realmente uma informação chocante! A obra de Ubaldi, em princípio de origem mediúnica-inspirativa, gerava dinheiro para o próprio Ubaldi. Ora, será que Ubaldi não sabia que a mediunidade com Jesus deve ser exercida gratuitamente?! Será que ele não sabia que o trabalho espiritual não deve gerar dinheiro para os seus agentes?! Será que Ubaldi não sabia que “de graça deve ser dado, o que de graça foi recebido”?! E onde estava “Sua Voz”, que não o alertou?! Será que ele, apesar de ter visitado por duas vezes Chico Xavier em Pedro Leopoldo não procurou seguir o exemplo de desapego e desinteresse material do médium mineiro?! Será que os espíritas leitores de Ubaldi achavam e acham isso normal?! Consideram essa atitude coerente com a Doutrina Espírita?! Não procuraram alertar o autor italiano quanto a isso?!

9)      Apesar de utilizar dos direitos autorais de sua obra, tais recursos não cobriam 20% dos seus gastos mensais. E Ubaldi não conseguia cumprir com seus compromissos materiais por meio de sua aposentadoria como professor e dos direitos autorais de sua obra “espiritual”. Tanto que em 1955 recebeu uma ordem de despejo do apartamento em que residia em São Vicente-SP. O problema foi contornado porque Benedito Zancanner doou o dinheiro necessário para comprar outro apartamento semelhante àquele em que morava. O problema imediato foi resolvido, mas Ubaldi voltou a ter sérias dificuldades financeiras (mesmo tendo ganhado um apartamento!) no biênio 1962-1963. Surpreendentemente, Ubaldi publica um “Apelo ao Mundo”, pedindo dinheiro a todos os seus admiradores para que ele conseguisse manter sua família, e, consequentemente, sua obra não sofresse solução de continuidade! Portanto, não há dúvida de que o trabalho espiritual de Ubaldi era fonte direta e indireta de renda para a manutenção material de si mesmo e de sua família. Definitivamente, Ubaldi não era um médium e/ou autor espírita!

10)   No segundo semestre de 1963, por ocasião do Congresso Espírita Pan-americano (CEPA), em Buenos Aires, Ubaldi, que nunca agiu como espírita e nem se considerou espírita, envia uma carta aos participantes do Congresso arvorando-se em reformador e atualizador do Espiritismo. Elabora várias críticas duras ao Espiritismo e oferece sua obra para que o Espiritismo não ficasse em estado “estacionário”.  Sobre sua própria obra, Ubaldi não se contém, e se auto-elogia, como havia aprendido com “Sua Voz”:
“Trata-se de uma teoria obtida, que permite caber dentro do Espiritismo, porque atingida por inspiração, ou intuição, considerada a mais alta forma de mediunidade consciente, controlada pela razão; usada como verdadeiro método de pesquisa”.
        Em primeiro lugar, Ubaldi não utilizou nenhum tipo de controle que pudesse ser tido como “verdadeiro método de pesquisa”. Em segundo lugar, o trabalho de Ubaldi consiste em uma complexa mistura daquilo que é atribuído à “Sua Voz” e aquilo que é do próprio autor encarnado, seja de origem paranormal anímica seja de reflexões conscientes. Quando ele diz “considerada a mais alta forma de mediunidade consciente”, resta dizer por quem é considerada, e quais as evidências científicas dessa opinião. Ubaldi claramente tem interesse em defender seu processo mediúnico e destacá-lo acima dos demais métodos de obtenção mediúnica, mas não demonstra empregar quaisquer métodos de controle, pois sua obra, sobretudo “A Grande Síntese”, era “irretocável”.

11)   Vale citar o artigo do confrade Alexandre Fontes da Fonseca, que, como professor-pesquisador de Física e estudioso da Doutrina Espírita faz uma análise crítica da obra “A Grande Síntese”, denominada “Um análise científica de algumas afirmações de “A Grande Síntese”, a qual foi publicada em “Jornal de Estudos Espíritas”. Esse autor afirma o seguinte, no resumo do respectivo artigo: “Afirmações científicas contidas na obra “A Grande Síntese”, de Pietro Ubaldi, são analisadas aqui com base em conhecimentos atuais da Ciência. O nível dos erros científicos e de interpretação dos conceitos da Física contrastam com a pretensão do autor espiritual de estar com a verdade. Isso mostra que a obra não tem valor científico”.
Também é importante lembrar, mais uma vez, que, para Pietro Ubaldi, a obra “A Grande Síntese” não seria obra sujeita a qualquer tipo de alteração. O que, por si só, já não é postura científica, ainda mais, se considerarmos que estudiosos tem demonstrado erros conceituais grosseiros no corpo do texto. Os erros de Física discutidos pelo artigo de Alexandre F. Fonseca ilustram isso.

Os estudiosos que se dispuserem a tentar ler algo da obra de Pietro Ubaldi perceberão uma obra carente de conteúdo, megalomaníaca, egocêntrica e vaidosa. Além de apresentar caráter autobiográfico, o texto de Ubaldi é prolixo, com excessivas adjetivações, em uma linguagem com estilo grandiloquente, empolada, que tenta convencer mais pelas frases de impacto e pelas repetições do que propriamente pelas suas informações.
A título de ilustração, vejamos algumas colocações da conclusão da obra “A Nova Civilização do Terceiro Milênio”, na qual Ubaldi utiliza expressões e comentários como: “inferno terrestre” (duas vezes); “Assim sou: apocalíptico contraste de aspirações e misérias”; “Meu espírito triunfa, mas o corpo está cansado”; “Em geral, devo bem pouco a meus semelhantes, que só me deram desgostos e sofrimentos”; “Senti em mim um desespero cósmico...”; “Por isso tudo, o conjunto da presente obra valerá mais pela tentativa que pelo que realmente foi feito”; “...este livro é uma ponte lançada para o infinito”, entre outras. Em suma, Ubaldi e/ou “Sua Voz” comenta excessivamente de si mesmo, de suas dores e de suas conquistas, em um processo constrangedor de auto-promoção, usando expressões sem clareza de sentido, buscando denotar um pseudo-profundidade filosófica, bem distante do que aprendemos com a objetividade e a didática do Mestre Allan Kardec.
Aparentemente, Pietro Ubaldi era um indivíduo que tinha realmente interesse em questões espirituais e apresentava, de fato, uma sinceridade nessa busca. Entretanto, somente essa predisposição positiva não foi suficiente para realizar uma obra consistente, em função do despreparo para lidar com o fenômeno mediúnico e com a avaliação do conteúdo da mensagem. Crendo ser um “Apóstolo”, sua vaidade, suas tendências católicas e sua excessiva credulidade o fizeram aceitar fanaticamente o que a sua intuição (ou “Sua Voz”) lhe trazia.

A leitura da obra de Ubaldi, dentro do amplo universo do Espiritualismo, poderia trazer alguma coisa de positivo para aqueles que ainda estão buscando familiaridade com temas como reencarnação e mediunidade. Entretanto, tal obra, assim como seu autor/médium encarnado, não pode ser considerada espírita e apresenta, à luz da Doutrina Espírita, diversos erros conceituais e metodológicos.

Leonardo Marmo Moreira

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Questionamentos sobre esclarecimentos espíritas no velório

Recentemente, temos sido questionados sobre a atitude espírita mais adequada no velório. Obviamente, o espírita deve ter uma atitude de vigilância moral e espiritual para contribuir efetivamente com o desencarnante, principalmente através da prece e das suas vibrações através da conduta elevada; e com a família bem como os amigos encarnados do desencarnante, através do apoio emocional e espiritual, dentro dos limites naturais que a situação permita.  Isso pode ou não incluir algum esclarecimento doutrinário pontual, desde que solicitado por um único indivíduo ou por um grupo e respeitando a liberdade individual de cada ser humano. Entretanto, alguns confrades nos questionaram a respeito de orientações recebidas em determinados grupos espíritas que recomendavam um trabalho fortemente doutrinário em velórios, seja velório de famílias espíritas ou não-espíritas, independentemente desse trabalho ser sido ou não solicitado pela família.

Primeiramente temos que relembrar que o assunto velório é muito delicado, pois cada indivíduo reage à desencarnação de um ser querido de uma forma muito particular. Em que pese a muito provável boa intenção dos proponentes da supracitada diretriz, temos que convir que muitos familiares e amigos podem estar em verdadeiro estado de choque, ou seja, em contundente perturbação emocional e espiritual. Ademais, o trabalho de uma vida de amadurecimento religioso não pode ser improvisado, sobretudo em um momento de grande estresse emocional. Como dizem alguns estudiosos norte-americanos: “Na hora da ação, a hora da preparação já passou”.

Assim sendo, em princípio, sem maiores detalhes a respeito das nuances que envolvem tal orientação, não podemos concordar com as referidas sugestões. Não é possível elaborar um grupo de estudo ad hoc para o velório (e o que é pior, para velório de qualquer tipo de família). A iniciativa poderia ser modificada e melhorada consideravelmente se fosse para ser formado um grupo de estudos na casa espírita que abordasse temas como velório, morte, adaptação ao mundo espiritual etc. 

Seria interessante, por exemplo, o estudo das obras de André Luiz, a obra "Voltei" de Irmão Jacob, entre outras obtidas pela mediunidade de Chico Xavier. Poderíamos também citar “Memórias de Um Suicida” de Yvonne Pereira e as obras de Manoel P. Miranda pelo médium Divaldo Franco. Tais obras deveriam ser utilizadas objetivando, obviamente, o estudo dentro da Casa Espírita. Daí a constituir um grupo que vá a "velórios espíritas ou não espíritas, para orar, e fazer uma explanação" vai uma enorme diferença. Portanto, a não ser que exista um convite bem explícito, que represente o desejo de toda a família, tal iniciativa não seria interessante, pois poderia acarretar situações desagradáveis de conflito religioso e antipatia, totalmente dispensáveis, principalmente para o Espírito desencarnante, em momento de tamanha comoção.

De fato, nem sempre o “grupo de estudos e exposição espírita” será bem-vindo no velório, sobretudo em se tratando de velórios não espíritas! E mesmo em velórios espíritas, nem sempre somos amigos da família e nem sempre a família quer que haja "explanações".

Neste contexto, fomos igualmente interrogados sobre o respeito que devemos ter pelas orientações dos dirigentes espíritas que recomendaram tal iniciativa. Essa também é uma questão que requer necessariamente grande cota de educação, tato, bom-senso e preparação doutrinária.

            A "hierarquia" no Movimento Espírita é dada em primeiro lugar pelo amor e pela autoridade moral (enfim, pelo elevado caráter e pela bondade) e pelo conteúdo doutrinário dos participantes, juntamente com a coerência e simplicidade de atitudes associadas à ação de cada trabalhador dentro da instituição espírita. Claro que devemos respeitar os cargos e a direção da Casa e/ou órgãos espíritas, assim como as respectivas responsabilidades associadas a cada posição no Movimento Espírita, mesmo quando tenhamos opiniões divergentes a respeito de algum ponto doutrinário ou diretriz institucional. Mas isso não quer dizer que a direção da Casa esteja necessariamente correta, do ponto de vista doutrinário, em todas as suas determinações. A Doutrina Espírita tem por meta encaminhar-nos à Verdade e é para isso que estudamos e trabalhamos, a fim de que “a Verdade nos liberte” de nossas mazelas morais. Entretanto, o Espiritismo também ensina-nos o “Livre-arbítrio” e que “A cada um é dado conforme suas obras”, implicando que não conseguiremos, e muito menos deveremos, violentar a consciência de quem quer que seja, independentemente da situação. Nosso trabalho é de educação global, e, para que isso ocorra de forma eficaz, temos que respeitar o tempo requisitado pelos indivíduos.


Somente a constância no estudo doutrinário fará com que nós tenhamos segurança doutrinária para, juntamente com uma "humildade dinâmica", poder avaliar a qualidade de cada informação que é veiculada no movimento espírita, seja de origem mediúnica ou não. Essa atitude é fundamental porque individualmente somos membros do Movimento Espírita, e teremos, é claro, nossa cota de responsabilidade pessoal pelo que fizermos e pelo que não fizermos como células do Movimento Espírita.

Leonardo Marmo Moreira

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Evolução Anímica: Determinismo Divino ou Esforço Evolutivo do Princípio Inteligente?

Recentemente, um querido amigo levantou algumas questões a respeito da evolução do princípio espiritual, ou seja, concernentes à evolução do princípio inteligente:

Em que momento e em que contexto ocorre o processo de individualização do princípio inteligente? Podemos considerar esse processo como evolução do princípio inteligente ou o mesmo ocorre em função do Determinismo Divino?

Começando pela segunda parte, temos que frisar para o nosso amigo que a Evolução Espiritual faz parte do Determinismo Divino. Não há nenhuma contradição entre os dois conceitos. Desta forma, o processo de individualização do princípio inteligente é igualmente evolução do princípio inteligente e também ocorre em função do Determinismo Divino. Assim sendo, a Evolução Espiritual não constitui ideia oposta ao Determinismo Divino. Pelo contrário, somente evoluímos porque Deus assim o deseja. Acontece que nos primórdios da evolução anímica tal processo acontece sem espaço para o livre-arbítrio do princípio inteligente, implicando que os automatismos naturais funcionam de forma muito lenta e gradual, porém sem margem para grandes variações individuais de intensidade evolutiva, que é o que acontece na fase hominal da evolução. De fato, como seres conscientes, nós, Espíritos na fase hominal, podemos acelerar ou atrasar nosso processo evolutivo, dependendo dos pensamentos, escolhas, esforços e atitudes, os quais podem significar melhor ou pior aproveitamento do tempo e das experiências. Esse nível de consciência não existe nas fases iniciais do processo evolutivo, fazendo com que a evolução seja mais lenta, porém ocorra de forma mais contínua, sem estar sujeita a grandes acidentes de percurso, como ocorre na fase hominal, em função da liberdade de escolha individual. 

 Sobre a primeira parte da pergunta, essa é uma questão muito difícil, porém, poderíamos conjecturar, com base nos capítulos 3 (Evolução e Corpo Espiritual - itens "primórdios da vida"; "nascimento do reino vegetal" e "formação das algas") e 10 ("Palavra e responsabilidade") da obra de André Luiz, "Evolução em Dois Mundos", que desde a formação do vírus, estrutura viva mais elementar que a célula, o processo de individualização já iniciou e que o mesmo vai se acentuando e ganhando maior delineamento em outras manifestações da vida, como bactérias, algas e vegetais. Assim, no reino animal, a individualização já é um fato consumado, com o princípio inteligente partindo para outras aquisições, tais como, o pensamento contínuo, os sentimentos mais elaborados, a memória, a noção de família e comunidade etc.
 
Leonardo Marmo Moreira

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Parábola do Filho Pródigo ou Parábola dos Dois Filhos?!

                Apesar do nome tradicional atribuído à belíssima e esclarecedora metáfora de Jesus, “Parábola do Filho Pródigo”, talvez seria interessante chamá-la, para fins didáticos, “Parábola dos Dois Fiilhos”, ou algo que o valha (poderíamos ousar sugerir “Parábola do Filho Pródigo e do Filho Obediente”), destacando também o papel do filho tradicionalmente menos comentado e estudado.

                Essa sugestão é baseada em uma reflexão muito simples: na verdade, ora agimos como o filho pródigo, ora agimos como o filho obediente. Portanto, “somos os dois filhos”, tendendo, a cada momento que passa, para um ou outro lado, dependendo dos nossos valores espirituais, do contexto de vida que enfrentamos e do que estamos sentindo em relação à vida em cada instante, sobretudo em relação a nós mesmos e a nosso irmão.

                Quando desperdiçamos oportunidades evolutivas, o que acontece quase sempre, e sentimo-nos necessitados do amparo da Misericórdia Divina, identificamo-nos facilmente com o Filho Pródigo, e ficamos contentes em reconhecer que “quando ainda estava longe, o Pai correu em direção a ele e o abraçou”, simbolizando a aceitação e o acréscimo de Misericórdia que recebemos após cada queda espiritual. Trata-se de um bem-estar semelhante àquele que sentimos quando ouvimos o famoso “Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados e Eu vos aliviarei”. Isso ocorre porque ainda somos, na grande maioria, Espíritos muito endividados e com sérias dificuldades espirituais.

                Por outro lado, infelizmente, não apresentamos a mesma alegria quando notamos que a Providência Divina auxiliou a nosso irmão, ou seja, que nosso irmão é que, em determinado momento, está sendo o Filho Pródigo do referido contexto. Dessa forma, é comum agirmos como o “Filho obediente”, apesar de não termos, frequentemente, o hábito de perceber a identificação do comportamento apresentado com o filho que fica na casa paterna. Realmente, todas as vezes que nos colocamos na postura de indivíduos relativamente íntegros e que não estamos tendo “sorte na vida”, questionando os supostos benefícios que nosso irmão, a priori menos merecedor, tem recebido, estamos agindo como o “Filho Censor”, conforme adjetivação proposta por Emmanuel em “Palavras de Vida Eterna”.  De fato, quando outras pessoas, que apresentam postura espiritual em princípio menos elevada que a nossa, recebem oportunidades interessantes de refazimento espiritual temos dificuldades em aceitar o fato com alegria.

                A famosa Parábola nos ensina muito a respeito da necessidade de ajudar o Pai no auxílio a irmãos mais carentes de apoio espiritual, sem nenhuma manifestação de ciúme ou inveja propriamente considerada. Até porque, por várias oportunidades temos precisado e continuaremos, por muito tempo, a precisar, da misericórdia de Deus para que desfrutemos de novas oportunidades que não fazemos jus pelos nossos atos. É o chamado “Acréscimo de Misericórdia”, do qual todos nós somos, vez por outra, necessitados e beneficiários.

                O Apóstolo Paulo afirma “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” e Emmanuel comenta tal versículo em “Palavras de Vida Eterna”, inferindo que é mais fácil chorar com os que choram do que se alegrar com os que se alegram. Entretanto, precisamos das duas atitudes para evoluir, pois, ambas caracterizam diferentes manifestações da caridade. Ensina-nos nosso Benfeitor Emmanuel na supracitada obra: “não te envaideças por ser bom, pois se Deus permitiu estares com Ele é para que estejas com Ele ajudando a teu irmão”. O verdadeiro Amor fica feliz com a felicidade e com as oportunidades ofertadas a nossos irmãos.


                Dessa forma, em nossos exercícios diários de Auto-conhecimento, procuremos analisar nossos comportamento, ora de “Filho Pródigo”, ora de “Filho Obediente”, a fim de diminuirmos nossas quedas, cumprindo cada vez mais a vontade do Pai, mas também para amar mais aqueles irmãos que ainda estão distantes de procurar o cumprimento de seus próprios deveres para com a Consciência individual, que representa a Lei Cósmica dentro de nós.

Leonardo Marmo Moreira

quarta-feira, 4 de junho de 2014

A Parceria entre Herculano Pires e Chico Xavier

                A parceria entre Herculano Pires e Chico Xavier deu origem a interessantes livros, que são: “Na era do Espírito”; “Diálogo dos Vivos”; “Chico Xavier Pede Licença”; “Astronautas do Além” e “Na hora do Testemunho”.

Tais livros foram elaborados na primeira metade da década de setenta, apresentando, basicamente, uma estrutura autoral montada sobre um tripé: O comentário de apresentação da mensagem, elaborado pelo médium Chico Xavier (muitas vezes tratava-se da carta de apresentação da mensagem elaborada pelo médium em Uberaba-MG e enviada através dos Correios para Herculano Pires em São Paulo); A mensagem trazida pelo autor espiritual; e o texto comentando a mensagem propriamente dita assim como a carta de apresentação, de autoria do Professor José Herculano Pires.

A riqueza dos estudos produzidos por essa parceria é algo extraordinário, sendo que tais obras deveriam receber maior divulgação por parte do Movimento Espírita, uma vez que muitos desses livros são ignorados por um bom número de núcleos espíritas.

Além do elevado valor intrínseco dessas obras, as mesmas apresentam uma estruturação de obra de estudo doutrinário muito interessante, que demonstra não somente uma forma altamente didática de elaboração de volumes de estudo doutrinário como uma forma de estudo em nossas casas espíritas. De fato, os chamados “livros de mensagens” obtidos pela psicografia de Chico Xavier, apesar de muito lidos, não tem sido adequadamente estudados em grande número de casas espíritas.

Os livros de mensagens de autoria de Emmanuel e André Luiz, entre outros mentores, constituem grande contribuição para o nosso crescimento no conhecimento evangélico-moral-doutrinário, discutindo nuances complexas de nosso mundo íntimo assim como da vida espiritual e dos valores doutrinários. O professor Herculano Pires com seu indiscutível conhecimento Kardequiano, juntamente com elevada erudição, elabora análises de grande profundidade sobre o conteúdo apresentado pelas mensagens e também sobre as questões relacionadas ao fenômeno mediúnico que permitiu a obtenção da mesma. Herculano Pires comenta, contextualiza, aprofunda e valoriza o material obtido pela mediunidade Xavierina, ensinando-nos como devemos ler e estudar os chamados “livros de mensagens”. As diversas implicações comentadas por Herculano Pires, incluindo correlações com a ciência e a filosofia contemporâneas, demonstram acentuadamente a atualidade do pensamento espírita e a necessidade de maior reflexão e valorização de obras de inestimável valor espírita.


Vale registrar que os prefácios de tais obras, com especial destaque para “Diálogo dos Vivos” e “Chico Xavier Pede Licença” mostram a necessidade dessa troca de informações, ou seja, desse diálogo em prol de melhores interpretação e aproveitamento das mensagens que chegam por meio de grandes missionários da mediunidade, como é, obvimente, o caso de Chico Xavier.

Leonardo Marmo Moreira

quinta-feira, 29 de maio de 2014


Alcíone e a Obra Emmanuelina “Renúncia”: A Liberdade é total para o Amor”

                O livre-arbítrio é alicerce da Lei de Deus. E todos os caminhos consagrados ao bem são igualmente abençoados pela Providência Divina. Desta forma, todos os nossos esforços efetivos na procura e na construção do bem são inspirados por nossos mentores espirituais. Todas iniciativas são bem-vindas, pois caracterizam facetas da Lei Geral que é o Bem.

Assim sendo, mesmo quando os nossos mentores espirituais não acham o nosso projeto no bem o mais adequado para determinado contexto, eles consideram a possibilidade, respeitando o nosso livre-arbítrio e a nossa iniciativa de buscar tarefas positivas para nós mesmos e para nossos irmãos.

O bom senso deve sempre guiar tais iniciativas para que não nos percamos em projetos inapropriados. De qualquer maneira, se estamos focados no bem, nossos amigos terão paciência, amor e consideração por nossas idealizações.

Isso ocorreu na obra de Emmanuel “Renúncia”. Logo nas primeiras páginas percebemos os mentores tentando dissuadir, embora respeitosamente, o nobre Espírito de Alcíone de suas intenções focadas em uma possível reencarnação por amor a um grupo de Espíritos familiares. Consideravam o risco da empreitada e também o fato de, pessoalmente, Alcíone não necessitar de nova experiência daquele tipo. Todavia, prevaleceu a intenção de Alcíone e ela reencarnou por “renúncia” e, apesar de todos os perigos, alcançou grande vitória espiritual.

Obviamente, assumir riscos para fazer o bem, contra o opinião de mentores espirituais, constitui atitude que requer muita segurança pessoal, e não deve ser tida necessariamente como regra de conduta. O ideal seria tentar conciliar, na medida do possível, o orientação dos Espíritos mais experientes com nossos projetos no bem, mesmo admitindo, conforme ocorreu com Alcíone, a possibilidade de exceções serem bem-sucedidas.


Que nós tenhamos o bem sempre por base de tudo o que fazemos, desde nossas intenções mais profundas até a constituição dos projetos propriamente ditos. Assim, as tarefas por nós elaboradas serão equilibradas entre o bom senso e o amor. Como disse Jesus: “É necessário a pureza das pombas e a perspicácia das serpentes”.

Leonardo Marmo Moreira

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Feitiçaria

                A feitiçaria, também conhecida como magia, está associada à paranormalidade, abrangendo tanto fenômenos anímicos como mediúnicos. Com frequência, os processos ditos “mágicos” abrangem desde a curiosidade menos útil, passando por objetivos individualistas que gravitam principalmente em torno de questões cotidianas da vida material, tais como obtenção de dinheiro, conquistas amorosas, aquisição de bens materiais, curas de doenças, entre outros, chegando mesmo a atingir, em alguns casos, objetivos claramente maliciosos, focalizados no prejuízo de outras pessoas através de diversos mecanismos e com vários diferentes escopos. Neste caso, estaríamos tratando da chamada “Magia Negra”.

                Importante registar que assim como acontece com o mau olhado, a Feitiçaria envolve muitas crendices populares, sendo que algumas têm fundo de verdade e outras não, aumentando a confusão em torno do tema.  De qualquer maneira, o mau olhado normalmente ocorre sem que o seu emissor saiba de seu poder desequilibrante, enquanto que a feitiçaria já seria algo provocado conscientemente, muito embora com alguma cota de superstição associada ao procedimento.

                Considerando que os objetivos muitas vezes são frívolos ou até maldosos (além de utilizarem frequentemente de recursos materiais totalmente descartáveis), os Espíritos que eventualmente poderiam estar associados ao processo, isto é, os “parceiros espirituais” de tais iniciativas, não podem ser muito evoluídos espiritualmente.

                Os ditos “trabalhos” de feitiçaria ou “macumbas” (principalmente aqueles direcionados a prejudicar outrem), entre outros nomes, conectam o evocador e/ou o indivíduo que solicitou o trabalho aos Espíritos maldosos e/ou zombeteiros que se interessam por tais práticas. Obviamente, tais “pactos” constituem associações para o desenvolvimento de obsessões, o que torna tanto o evocador como o interessado na evocação (admitindo que não se trate do mesmo indivíduo) Espíritos obsessores. Portanto, independentemente do fato da ação atingir ou não o seu objetivo, a intenção e a ação inicial propriamente dita já terão sido feitas, criando, obviamente, compromissos espirituais negativos graves para os seus causadores.

                No que se refere ao alvo do processo, ele poderá ser ou não atingido de forma significativa, dependendo de sua vida moral. Logo, os mesmos cuidados gerais que devemos ter para nos proteger de obsessões oriundas exclusivamente de desencarnados são aconselháveis para nos proteger dos chamados “trabalhos”, pois esses últimos não deixam de constituir eventos de vinculação mental, emocional e espiritual para execução de atitudes antiéticas a terceiros.

                O processo propriamente dito de constituição do “pacto” normalmente envolve alguma “oferenda” para agradar aos parceiros desencarnados. Tais Espíritos são ainda muito apegados à matéria, o que faz com que, por consequência, sentem saudade de alimentos materiais, com alta cota de fluido vital, tais como frutos e alimentos de origem animal. Assim, alguns costumam até mesmo a matar galinhas ou outros pequenos animais no ato de “constituição do pacto” para que o fluido vital eliminado no momento da morte possa ser haurido pelos Espíritos vampirizadores. O próprio mentor André Luiz comenta sobre fato semelhante em “Missionários da Luz”, quando uma falange de vampirizadores levam um Espírito suicida para um matadouro para poderem vampirizar tanto os fluidos vitais exteriorizados pelo suicida como aqueles eliminados pelos animais abatidos.


                Importante registrar que o vínculo espiritual com a falange de Espíritos obsessores pode ser mantido até a desencarnação dos encarnados envolvidos e, neste caso, dificilmente o usuário da magia, sobretudo da “magia negra”, vai se desvincular deles em um curto espaço de tempo. Além disso, o fato de se vincular a um grupo obsessor, tornando-se igualmente um obsessor, também torna o obsessor um obsediado, em função do clima espiritual em que passará a viver junto de seus comparsas espirituais.

Leonardo Marmo Moreira

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Mau Olhado

                O homem encarnado apresenta uma estrutura tríplice: Espírito; Corpo intermediário semi-material; e Corpo Físico. Entretanto, o corpo intermediário semi-material (que age como interface entre Espírito e Corpo físico), o qual é representado basicamente pelo Perispírito, a rigor não é formada apenas pelo Perispírito propriamente dito, mas, também pelo Corpo vital, também conhecido como Duplo Etérico, que é constituído fundamentalmente por fluido vital.

                Esse binômio Perispírito-Duplo Etérico constitui a base fundamental para a ocorrência dos chamados “fenômenos paranormais”, os quais abrangem tanto os fenômenos anímicos como os fenômenos mediúnicos. Os fenômenos anímicos são aqueles em que fundamentalmente prevalece a ação da própria “alma” (vale lembrar que na definição da Codificação Kardequiana, alma é o Espírito encarnado) do paranormal ao contrário dos fenômenos mediúnicos, nos quais o encarnado é o “filtro” (ou “telefone”), pelo qual o Espírito densencarnado age, ou seja, transmite sua ação.

                Dentre os fenômenos anímicos, a ação magnética do encarnado através da exteriorização de fluidos vitais consiste em um dos mais relevantes fenômenos. Assim como fluidos vitais de pessoas moralmente elevadas têm ação equilibrante, confortadora e curadora, a emissão de fluidos vitais de indivíduos moralmente inferiores tende a ser desequilibrante e prejudicial às saúdes mental, perispiritual e física. Tais fenômenos, inerentes a todo ser humano, podem ser muito intensos em indivíduos que tenham maior facilidade na emissão fluídica (liberação ectoplásmica), conhecidos como “magnetizadores”.

                Desta forma, os magnetizadores moralizados podem contribuir muito para a saúde dos nossos irmãos através do “Passe Espírita” assim como aqueles não moralizados podem prejudicar muito a saúde dos outros através da exteriorização de seus fluidos de baixo padrão vibratório, algo que é conhecido vulgarmente como “mau olhado”, entre outros nomes.

                Entretanto, ambos os processos supracitados dependem basicamente da afinidade espiritual, ou seja, da sintonia que poderia haver entre o receptor da emissão (“alvo da emissão”) e o emissor do fluido vital. Alta sintonia representa grande transmissão e baixa sintonia significa baixa transmissão fluídica, tanto para os fluidos oriundos de seres elevados espiritualmente como para os fluidos originados de seres inferiores do ponto de vista espiritual.

                O foco, a atenção, o interesse, a curiosidade, a inveja e o ciúme, entre outras, são atitudes mento-emocionais que concentram, desencadeiam e atraem a emissão do fluido vital. Quando o indivíduo tem o dom da emissão em níveis maiores, sendo, portanto, um magnetizador, ele pode realmente impactar negativamente outros seres vivos suscetíveis, o que inclui animais e vegetais, pois ambos os grupos aproveitam grande estrutura de fluido vital. Ocorreria, dessa forma, uma transfusão fluídica, independentemente da qualidade dos fluidos em questão.

                A elevação de pensamentos, sentimentos, objetivos, intenções e ações representa o “Olhai, vigiai e orai” de Jesus, e, neste caso, a imunização para que a sintonia com os magnetizadores desequilibrados não ocorra. Como temos dificuldades em manter tais valores elevados, necessitamos desenvolver uma disciplina para manutenção desses estados em prol de nossa saúde físico-espiritual. Desta forma, evitaremos ser impactados por magnetizadores desequilibrados assim como evitaremos ser os próprios magnetizadores desequilibrados para outrem, se a nossa exteriorização fluídica for também substancial.


                Vale comentar sobre um aspecto muito sério em relação a essa questão, que diz respeito ao medo. Como o assunto está envolto em grande nível de superstição, conceitos errados e corretos se misturam, fazendo com que muitos indivíduos tenham um medo acentuado do mau olhado, enquanto outros considerem o fenômeno impossível de ocorrer e, por consequência, apresentam total destemor em relação à possibilidade de serem atingidos. O medo excessivo contra o mau olhado não deixa de constituir brecha espiritual para que o impacto negativo ocorra, uma vez que o medo é atitude auto-obsessiva profundamente perturbadora. Por outro lado, a excessiva confiança de que o “mau olhado nunca acontecerá comigo” é algo que diminui a auto-vigilância. O ideal seria conhecer a possibilidade de ocorrência e, de forma pró-ativa, tomar as medidas preventivas para que não sejamos atingidos pelo mau olhado. De fato, o impacto do “mau olhado” pode ser fator gerador de outros processos perniciosos, tais como a depressão e a instalação de processos obsessivos. Assim, dependendo de outros fatores espirituais, um prejuízo relativamente pequeno poderia desencadear outras problemáticas de forma crescente, implicando em graves processos espirituais.

Leonardo Marmo Moreira

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Evolução Individual e Evolução Coletiva: Analisando as chamadas “fases de viradas espirituais”

                O Espírito é imortal e jamais regride espiritualmente, podendo apenas estacionar evolutivamente por um período mais ou menos longo, a depender do apego à matéria, do comodismo evolutivo, da ausência de auto-conhecimento, entre outras limitações do educando em questão.

                Podemos inferir, portanto, que, com significativas exceções, que são os Espíritos que permanecem basicamente estacionados, ao avaliarmos a evolução espiritual de indivíduos dentro de um espaço de tempo relativamente grande, a tendência é que um razoável número de Espíritos tenham avançado de forma significativa. O quão representativo seria esse avanço é muito variável, pois depende do esforço individual, isto é, da aplicação de todas as potencialidades inerentes ao Espírito nesse objetivo previamente estabelecido por meio do uso do livre-arbítrio.

                A discussão proposta acima diz respeito, obviamente, ao mecanismo de cada evolução individual, que já consiste em processo altamente complexo, considerando os diferentes focos de evolução que a personalidade é desafiada a atingir em cada encarnação. Por outro lado, quando analisamos a evolução de uma coletividade, a questão torna-se ainda mais complexa, pois “a cada um é dado conforme suas obras” e ninguém consegue impor ao outro os seus próprios valores e diretrizes de comportamento, pois o livre-arbítrio é base da Lei de Deus. Considerando coletividades volumosas, como a população da Terra com um todo, a questão assume complexidades elevadas, em termos de previsão de processo evolução, o qual depende da decisão individual de cada Espírito.

                De qualquer maneira, pelo andamento dos grupos sociais, é possível a elaboração de uma avaliação da tendência de evolução moral geral das coletividades através de estudos sobre suas leis, usos, costumes e valores assim como o ritmo de evolução dos mesmos.

                Desta forma, somos cobrados pela própria consciência pela nossa evolução individual propriamente dita bem como pela nossa contribuição para com a evolução dos grupos dos quais fazemos parte.

                Assim sendo, como Espíritas sabemos que o mundo vai melhorar a partir da nossa melhoria individual e do nosso esforço ativo para contribuir direta e indiretamente para o surgimento de oportunidades evolutivas para nossos irmãos, através do que chamamos “amor dinâmico”, isto é, “amor em ação”, conforme definição de nosso confrade José Raul Teixeira.

                Apesar de ser válida a avaliação do andamento das coletividades rumo ao crescimento espiritual, até porque nossa programação reencarnatória inclui trabalhos em parceria com nossos irmãos, observamos, frequentemente, questões, até certo ponto, “excêntricas” que retornam à preocupação dos Espíritas, tais como “datas de mudança” ou “fases de viradas espirituais”.


                Uma certa preocupação com o andamento da evolução de uma coletividade é compreensível e até recomendável, mas exagerar essa preocupação na expectativa por um “ano específico de virada espiritual”, além de contraproducente, pois a evolução parte da nossa transformação individual e das decisões da Providência divina, não é algo com grande respaldo doutrinário, porque tais previsões estão sujeitas a modificações, em função das ações de cada um de nós. Além disso, quando exagerada, esse foco denota imaturidade espiritual, porque de uma forma ou de outra, sempre recebemos aquilo que plantamos, pela Lei de Causa e Efeito, e, além disso, Deus é amor e misericórdia, nos proporcionando o melhor dentro de nossas possibilidades de evolução. Assim sendo, se estamos realmente preocupados com a evolução espiritual da coletividade, maior cota de esforço individual devemos dedicar tanto no que se refere à nossa própria elevação, como em relação à elevação dos grupos que estamos associados. E Deus que é “soberanamente justo e bom” saberá nos proporcionar oportunidades evolutivas ótimas, de acordo com o nosso esforço e aproveitamento no campo do bem.

Leonardo Marmo Moreira