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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O PENSAMENTO DE UBALDI E A DOUTRINA ESPÍRITA

Fazendo um estudo comparativo entre o pensamento de Pietro Ubaldi e a Doutrina Espírita, podemos identificar várias propostas bem como atitudes que denotam significativa discordância conceitual e/ou metodológica entre seus respectivos conteúdos. Vejamos alguns tópicos relacionados a essa discussão:
1)      Pietro Ubaldi até quase 50 anos ainda se considerava um "bom católico", e só passa a se afastar mais efetivamente da igreja católica quando o vaticano coloca suas obras “A Grande Síntese” e “Ascese Mística” no Index Librorum Prohibitorum. José Amaral (amigo pessoal e conhecido biógrafo de Pietro Ubaldi, em seu respectivo trabalho biográfico sobre Pietro Ubaldi, o qual encontra-se inserto como anexo na parte final da obra de Pietro Ubaldi “Grandes Mensagens”, publicado pela FUNDAPU) afirma que “quando A Grande Síntese foi colocada no Librorum Indice Prohibitorum, pela Igreja, sua dor foi titânica, porque ele amava aquele livro, revelado por Sua Voz. Tão grande fora seu desânimo que “decidiria quebrar a pena, renunciar a escrever, renunciar a compreender e, afinal, renunciar a pensar. Mas não compreendera que sua vontade não bastava e que não é possível, mesmo que se queira, sufocar o espírito”.  Apesar de tamanha decepção com a igreja católica, Ubaldi ainda vai se considerar um “franciscano” por toda a sua vida. Primeiramente, denominava-se católico até quase 50 anos e depois monista e/ou universalista, apesar de “franciscano”. Tal episódio demonstra a forte influência católica no pensamento do autor italiano. Pietro Ubaldi nunca se considerou Espírita.
2)      Ubaldi afirmou ter lido Kardec no ano de 1912 (curiosamente, ele comenta isso em palestra proferida em 1951 para público predominantemente espírita, destacando somente o caráter reencarnacionista do Espiritismo, como se esse tópico fosse a única informação que a Doutrina Espírita nos oferece). Todavia, até 1939, Pietro Ubaldi ainda se considerava um “bom católico”. Assim, a suposta leitura de Kardec não o tornou espírita, pois continuou católico praticante (inclusive com confessor) durante várias décadas (vide texto de José Amaral em “Grandes Mensagens”). Se Ubaldi leu Kardec, leu de forma superficial, ou, por outro lado, não concordou ou não se impressionou muito. Assim como acontece com muitos católicos no Brasil, Ubaldi teve acesso ao conteúdo espírita, passando a acreditar na reencarnação, mas sem qualquer compromisso com o estudo doutrinário espírita. Ubaldi era, no máximo, um simpatizante de algumas ideias do Espiritismo, e acreditava ter superado, e muito, a Obra Kardeciana.
3)      Pietro Ubaldi fez um curioso “voto de pobreza”, em 1927, quando seu pai desencarna. Em primeiro lugar, poderíamos questionar: “voto de pobreza” é atitude espírita? Em princípio, não. A Doutrina Espírita está muito mais sintonizada, nesse sentido, com o pensamento do Apóstolo Paulo: “Fazendo com as mãos o que for bom, para ter o que repartir com aquele que passa por necessidades”. Ou seja, os recursos materiais devem ser empregados para gerar obras e produções efetivas no campo do bem. É interessante registrar que Ubaldi, que nasceu em “berço de ouro”, não trabalhou de forma efetiva durante um largo intervalo de tempo (desde sua formatura em Direito em 1910 até ser nomeado professor de inglês na Sicília em 1931, o único “trabalho” efetivo que ele teve foi como motorista de veículos durante a Primeira Guerra Mundial, pois ele nunca assumiu, de fato, a administração das fazendas e demais propriedades e negócios de sua rica família[vide a supracitada biografia de Pietro Ubaldi elaborada por José Amaral e publicada pela FUNDAPU em anexo à obra “Grandes Mensagens”). Aliás, Ubaldi não se opôs a um casamento de interesses proposto por seus pais (vide biografia de Ubaldi por José Amaral, “Grandes Mensagens”; vide também “Para Entender Ubaldi” J. Damas Martins; Júlio Damasceno), no qual juntaram a sua fortuna com a fortuna de sua futura esposa (6 fazendas de um e mais 6 fazendas do outro). Em segundo lugar, no seu “voto de pobreza”, Ubaldi “abriu mão” dos seus direitos à herança paterna em benefício de sua esposa (casaram em regime de comunhão de bens) e dos seus filhos (os quais viveram com Ubaldi até a desencarnação do referido autor). Portanto, é pertinente um novo questionamento: Ubaldi realmente abriu mão de seus bens como ele e seus adeptos defendem para atribuírem a Ubaldi um suposto desapego material?!
4)      Segundo o biógrafo José Amaral, quando comenta sobre o quarto pessoal de Pietro Ubaldi (na referida obra biográfica), Ubaldi não tinha o hábito da leitura. Diz-nos José Amaral: “somente não havia lugar nesse quarto para livros de outros escritores, não havia nem mesmo uma prateleira destinada a livros que não fossem os seus e Ubaldi era um homem culto. Sua grande cultura provinha de outras vidas, da juventude e do período de maturação interior, espiritual. Agora, para escrever, não precisava mais de biblioteca, porque sabia ler no grande livro da vida e tinha o universo em suas mãos, através de sua poderosa intuição”. Em outras palavras, Ubaldi não lia coisa alguma. Como ele e seus adeptos podem achar que existe algo de científico em alguém que não lê nada, além de suas próprias obras? E, ademais, se ele fosse minimamente espírita, não teria que estudar com alguma freqüência as obras de Kardec e outras obras doutrinárias?! Os médiuns espíritas não são constantemente convocados ao estudo doutrinário, ao estudo de si mesmo, e ao estudo de outras obras respeitáveis a respeito do Espiritualismo e do Espiritismo?! Até médiuns que não se consideram espíritas estudam, o que, aliás, é muito louvável. Como “ele tinha o universo em suas mãos”, não precisava estudar?! Trata-se de atitude vaidosa e muito infeliz. Qualquer indivíduo minimamente esclarecido sabe que temos que estudar a vida toda, em um processo conhecido atualmente como “educação continuada”. Será que alguém com pretensão apostólica e revolucionária em termos evolutivos não tinha conhecimento disso?
5)      Ubaldi, em toda a sua obra, considera a vida física na Crosta um verdadeiro “inferno terrestre”. Tal postura contrasta grosseiramente com a visão positiva que a Doutrina Espírita apresenta a respeito da Reencarnação e de suas respectivas lutas evolutivas, as quais consistem em mecanismos da Lei de Progresso atuando em nosso próprio benefício.
6)      Pietro Ubaldi está sempre enfatizando, em todos os seus 24 livros, que sua vida física foi um terrível “martírio”, vivendo com intensa “dor”, em todas as fases de sua longa vida de 85 anos e alguns meses. O que nós, Espíritas, aprendemos com Allan Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne, Eurípedes Barsanulfo, Chico Xavier, Yvonne Pereira e tantos outros notáveis autores espíritas é que devemos amar a vida física, aprendendo a não hipervalorizar os problemas pessoais, sabendo que muitas vezes outros que estão à nossa volta sofrem muito mais e não comentam suas próprias lutas e dores (vale a pena ler o texto “O Bem e o Mal Sofrer”, inserto no Capítulo V – “Bem-Aventurados os Aflitos”, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”). Enfrentar a luta da vida física com atitude elevada espiritualmente também significa lamentar menos, sem hipervalorizar seus próprios problemas, aprendendo a esquecer nossas próprias dores através do trabalho contínuo de auxílio aos nossos irmãos. Ubaldi só escreve sobre si mesmo e passa a impressão de ser o indivíduo mais sofredor do mundo. Tamanho nível de conflito íntimo não parece ser característica espiritual de grandes missionários do bem, ainda mais se lembrarmos que Ubaldi achava que era a reencarnação do “Apóstolo Simão Pedro”. Se lermos a obra de André Luiz, perceberemos que excessiva lamentação é típica de Espíritos que ainda estão longe de serem considerados mentores espirituais. O próprio André Luiz é por diversas vezes advertido sobre essa atitude na sua primeira obra “Nosso Lar”. Para encerrar esse tópico, poderíamos questionar: Chico Xavier costumava reclamar muito de sua vida material? E a vida de Chico Xavier foi pouco desafiadora em termos de dificuldades e lutas? Não é a resposta para as duas questões. O modus vivendi de Pietro Ubaldi é o oposto daquele característico de Chico Xavier. Quem estaria em coerência com o Evangelho de Jesus? É evidente que Chico Xavier. Nesse contexto, vale lembrar as recomendações do Apóstolo Paulo: “Regozijai-vos sempre!”; e “Aprendi a não mais ir ter convosco em tristeza”. Como nos ensina Divaldo Franco (Palestra e “Pinga-Fogo” desenvolvido no início de 1990 no Centro Espírita Meimei, no ABC paulista intitulado “A Casa Espírita”) “eu não posso crer no dia e na noite na mesma situação, no mesmo momento e no mesmo local. Como eu creio em Kardec, o outro deve estar errado. Porque eu creio em Kardec por opção pessoal...”.
7)      Além de se achar a reencarnação do “Apóstolo Pedro”, Pietro Ubaldi e seus discípulos consideram que a obra de Ubaldi veio diretamente de Cristo e que sua missão é a maior da história da humanidade desde Francisco de Assis. Entretanto, o conteúdo das mensagens de “Sua Voz” (supostamente Jesus de Nazaré) é muito fraco, vaidoso e repetitivo, sendo inadmissível considerar Jesus ou qualquer Espírito da “Falange do Espírito da Verdade” seu autor. Erasto na mensagem “Caracteres do Verdadeiro Profeta”, inserta em “Instruções dos Espíritos” (Capítulo 21 – “Falsos Cristos e Falsos Profetas” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”) ensina-nos:
Outra consideração a fazer é a de que a maior parte dos verdadeiros missionários de Deus ignoram que o sejam. Realizam aquilo para que  foram chamados, graças ao poder de seu próprio gênio, secundados pelo poder oculto que os inspira e os dirige, à sua revelia, e sem que o tivessem premeditado. Numa palavra: os verdadeiros profetas se revelam pelos seus atos e são descobertos pelos outros, enquanto os falsos profetas se apresentam por si mesmos como enviados de Deus. Os primeiros são humildes e modestos; os segundos, orgulhosos e cheios de si, falam com arrogância, e como todos os mentirosos, parecem sempre receosos de não serem aceitos. Já se viram desses impostores apresentarem-se como apóstolos do Cristo, outros como o próprio Cristo, e, para vergonha da humanidade, encontraram pessoas bastante crédulas para aceitarem as suas imposturas. Uma observação bem simples, entretanto, bastaria para abrir os olhos aos mais cegos: se o Cristo reencarnasse na Terra, o faria com todo o seu poder e todas as virtudes, a menos que se admita, o que seria absurdo, que ele houvesse degenerado. Ora, da mesma maneira que se tirarmos a Deus um dos seus atributos, já não teremos Deus, se tirarmos uma só das virtudes do Cristo, não mais o teremos.
Esses que se apresentam como o Cristo revelam todas as suas virtudes? Eis a questão. Observai-os, sondai-lhes os pensamentos e os atos, e verificareis que lhes faltam sobretudo as qualidades distintivas do Cristo: a humildade e a caridade, enquanto lhes sobram as que ele não tinha: a cupidez e o orgulho. Notai ainda que neste momento existem, em diversos países, muitos pretensos cristos, como há também numerosos e pretensos Elias, supostos São João ou São Pedro, e que necessariamente não podem ser todos verdadeiros. Podeis estar certos de que aos exploradores da credulidade, que acham cômodo viver às expensas daqueles que lhes dão ouvidos”.
8)      O seguinte comentário de Erasto também está inserto em “Instruções dos Espíritos” (Capítulo 21 – “Falsos Cristos e Falsos Profetas” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”) em uma outra mensagem denominada “Os Falsos Profetas da Erraticidade”. Essa análise bastante contundente também ajuda-nos na conscientização da necessidade de criteriosa avaliação do conteúdo obtido mediunicamente. Erasto esclarece-nos: “Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer, devem ser não somente muito bons, mas também eminentemente racionais. Pois bem: passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do bom-senso, e vereis o que restará. Então concordareis comigo em que, sempre que um Espírito indicar, como remédio para os males da Humanidade, ou como meios de realizar a sua transformação, medidas utópicas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou quando formula um sistema contraditado pelas mais corriqueiras noções científicas, só pode ser um Espírito ignorante e mentiroso” (Erasto, Discípulo de Paulo, 1862). O próprio Codificador do Espiritismo Allan Kardec elaborou um capítulo em “O Livro dos Médiuns” para comentar sobre mensagens que ele recebera e que eram indignas de serem da autoria dos supostos mentores espirituais que as assinaram, alertando-nos quanto aos perigos da mediunidade. Kardec ensina-nos a avaliar rigorosamente o conteúdo das mensagens de origem mediúnica, hábito não cultivado por Ubaldi.
9)      Pietro Ubaldi é médium de um Espírito só. Ele só recebeu mensagens de “Sua Voz” durante toda a sua vida. Isso é muito estranho. Também no capítulo 21 “Falsos Cristos e Falsos Profetas” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, entre outras passagens, a Codificação ensina-nos que essa é uma característica de médiuns que estão assessorados por Espíritos mistificadores. Se avaliarmos os principais médiuns do Movimento Espírita, tais como Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, Yvonne do Amaral Pereira, entre outros, identificaremos grande número de Espíritos comunicantes e com obras com características e propostas bem distintas (portanto, cada Espírito escreve segundo seu estilo pessoal). Aliás, mesmo médiuns com tarefas de menor projeção costumam receber diferentes Espíritos. Ubaldi não apenas recebe comunicações de um único Espírito, como esse Espírito seria o próprio Jesus. Segundo a Doutrina Espírita, tal situação pode sugerir fascinação. Divaldo Franco e Júlio César Grandi Ribeiro comentam em várias oportunidades sobre a intensa atuação de Chico Xavier em reuniões de desobsessão, recebendo mensagens psicofônicas de Mentores Espirituais no início e/ou no fim das reuniões e de grande número de Espíritos obsessores durante o transcurso das reuniões de intercâmbio com Espíritos sofredores.
10)   O próprio encontro entre Pietro Ubaldi e Chico Xavier, em 1951, demonstra que Pietro Ubaldi é médium de somente um Espírito: “Sua Voz”. Na presença de Chico Xavier (no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo-MG), Ubaldi recebe mensagem psicográfica de “Sua Voz”. Enquanto isso, Chico Xavier recebe mensagens psicográficas de Francisco de Assis e de Emmanuel e mensagens através de sua vidência e audiência de grande número de Espíritos familiares de Pietro Ubaldi que já tinham desencarnado, para surpresa do autor italiano. Por que Ubaldi não percebeu esses Espíritos? E não notou nenhuma outra entidade? Isso ocorre porque Ubaldi não era um “médium de ação”, ou seja, não tinha uma mediunidade significativa, apesar dos seus adeptos afirmarem ser ele “a maior antena psíquica do século XX” (“Para Entender Ubaldi”/J. Damas Martins; Júlio Damasceno). Portanto, essa “exclusividade” autoral concernente ao Espírito “Sua Voz” sugere fortemente que Ubaldi nunca foi um médium ostensivo (o que também fica evidente ao se estudar outras passagens da vida e da obra de Pietro Ubaldi) e não era cuidadoso na avaliação do conteúdo da mensagem que ele gerava, pois, caso contrário, ele deveria ficar surpreso por somente receber mensagens de um único Espírito. É evidente que Ubaldi elaborou uma obra que possui fortíssimo componente anímico, através de grande auto-sugestão, o que pode ser atribuído à sua vontade de ser médium e à ausência de estudo a respeito dos problemas e riscos que o trabalho mediúnico e/ou espiritual apresenta para aqueles que não se preparam convenientemente para superá-los.
11)   A mensagem de Emmanuel dirigida a Pietro Ubaldi no encontro entre Chico Xavier e Ubaldi, em 1951, é um grande alerta a Ubaldi sobre o significado do Espiritismo para os homens na Terra, como legítima revivescência do Evangelho de Jesus. Aparentemente, Ubaldi não se sensibilizou significativamente, preferindo continuar sua “carreira-solo”, desenvolvendo um trabalho a parte da Doutrina Espírita.
12)   Ubaldi defende o chamado “Monismo”, que seria uma espécie de panteísmo, no qual matéria e espírito seriam interconversíveis, estando ambos “mergulhados em Deus”. Do ponto de vista espírita são dois equívocos: a interconversão entre matéria e espírito; e a visão panteísta de Deus. A Doutrina Espírita estabelece uma proposta dualista, na qual espírito (ou princípio espiritual) e matéria (ou princípio material) são realidades totalmente distintas, embora interagentes (vide Primeira Parte de “O Livro dos Espíritos”). Além disso, “O Livro dos Espíritos” rejeita categoricamente a idéia panteísta, estabelecendo que Deus (“A inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”), Espírito e Matéria são totalmente independentes (vide, igualmente, Primeira Parte de “O Livro dos Espíritos”).
13)   Admitir a Queda Espiritual é rejeitar Allan Kardec. Entretanto, nossas heranças religiosas associadas à interpretação literal do “Gênesis” ainda dificultam o entendimento doutrinário. Léon Denis afirma em “Cristianismo e Espiritismo” que os erros na interpretação do “Gênesis” constituem causa de uma série de doutrinas equivocadas no Cristianismo e no Espiritualismo de uma forma geral. Severino Celestino e Pastor Nehemias Marien também corroboram essa opinião de Denis. Obviamente, as fortes contaminações católicas na formação dos pseudo-espíritas e semi-espíritas vêm sendo um problema no movimento espírita. Entretanto, no caso de Ubaldi, a problemática adquire maiores proporções. De qualquer forma, Ubaldi nunca disse que sua obra era espírita. Nesse contexto, o erro maior, indiscutivelmente, é dos Espíritas que tentam “forçar” o reconhecimento da obra de Pietro Ubaldi como “obra espírita”. Por outro lado, apesar de Ubaldi não considerar sua obra espírita, tem a atitude contraditória de sugerir que os Espíritas incorporem suas obras no corpo doutrinário espiritista, proposta que foi contundentemente rejeitada por renomados espíritas, como é o caso do Professor J. Herculano Pires.
14)   Poderíamos reconhecer algum valor relativo na obra de Ubaldi, pois o fato de ser obra espiritualista, e não espírita, não retira do autor italiano eventual mérito que sua obra possa apresentar. Aliás, muitos autores espiritualistas são respeitados e até mesmo admirados no meio espírita. Daí, a considerá-lo “autor espírita” e, para alguns, “renovador” e ou “reformador” de Kardec vai uma grande diferença. De qualquer maneira, para um autor fornecer contribuição ao Movimento Espírita, sua obra precisa estar em coerência com os postulados básicos da Doutrina Espírita e ser chancelada pela “Universalidade do Ensino dos Espíritos”. Isso ocorre porque Espírito Superior não conta mentira! Espírito Superior comenta aquilo que conhece profundamente. Se não conhece, não comenta, ou comenta dentro dos limites do seu conhecimento, pois, afinal, não são levianos, e não vão se arriscar a ensinar algo errado a seus irmãos. Assim, o médium preparado intelecto-moralmente poderá conseguir uma boa “filtração” da mensagem dos Espíritos Superiores, contribuindo com a chegada até nós, encarnados, de conteúdos que realmente nos iluminem com a Verdade. Tais conteúdos, por diferentes Espíritos, diferentes médiuns (todos elevados intelecto-moralmente) e diferentes grupos, tendem a se confirmarem mutuamente. Entretanto, a obra de Ubaldi não é corroborada por autores espíritas respeitáveis, encarnados ou desencarnados.
15)   Pietro Ubaldi não era cuidadoso com o fenômeno mediúnico e baseava suas conclusões em meras suposições. As ideias de “Queda Original” e de que nosso Universo é um “Anti-sistema” não apresentam nenhuma confirmação por autores respeitáveis, sejam eles encarnados ou desencarnados.
16)   Na sua obra final intitulada “Cristo”, Ubaldi defende que Jesus sofreu na sua Paixão, Crucificação e Morte, pois era um “Espírito decaído” e só voltou para o Reino dos Céus, o que Ubaldi denomina “Sistema”, após o sofrimento final do Julgamento, Crucificação e Morte. Portanto, Jesus sofreu porque estava expiando sua “rebeldia” e como uma espécie de “anjo decaído”, ainda precisava terminar de pagar por seus erros. Essa espécie de “pagamento de pecados” só foi completada, segundo Ubaldi (vide sua obra “Cristo”), após sua morte física na cruz, para que só então Jesus pudesse voltar ao “Sistema”, isto é, à condição de habitante do “Reino dos Céus”, na concepção ubaldista. Essa visão a respeito de Jesus discorda fortemente de todos os autores respeitáveis do Espiritismo, encarnados e/ou desencarnados, não sendo corroborada por nenhuma obra representativa associada à Doutrina Espírita. Todos estariam errados e “Sua Voz”/Ubaldi estaria certo?! Provavelmente, não. Portanto, novamente Ubaldi não possui o respaldo da “Universalidade do Ensino dos Espíritos”.
17)   Sistematicamente, Ubaldi tenta atribuir um caráter científico à sua obra, o que não tem nenhum fundamento, pois ele não aplicou nenhum método de avaliação da mensagem e nenhum tipo de avaliação do que escrevia. Aliás, considerava isso dispensável, pelo menos no que diz respeito à obra “A Grande Síntese” (vide seu comentário em “Nova Civilização do Terceiro Milênio”), a qual, para Ubaldi, era “irretocável”.

Portanto, não há sustentabilidade doutrinária na tentativa de inserção da obra de Pietro Ubaldi como obra subsidiária do Movimento Espírita.

Leonardo Marmo Moreira

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