A
primeira nota de rodapé da obra “Memórias de Um Suicida” ilustra a riqueza
doutrinária dessa obra extraordinária que nos foi proporcionada graças ao
esforço hercúleo da médium Yvonne do Amaral Pereira. Trinta anos após a
desencarnação de Dona Yvonne (ela retornou à pátria espiritual no início de
março de 1984) cabe-nos agradecê-la em nossos corações e orações para que a
querida irmã receba da Espiritualidade todo o carinho e consideração que fez
por merecer após muitos anos de dedicação e sacrifício em prol da divulgação da
Doutrina Espírita.
A
primeira versão da referida obra foi rejeitada pela Federação Espírita
Brasileira (FEB), não tendo sido, portanto, publicada. De fato, nessa época, a
FEB era praticamente a única editora espírita existente no Brasil e as
dificuldades para se publicar um livro, sobretudo de origem mediúnica, eram
elevadas para um médium com limitadíssimos recursos econômicos como era o caso
de Dona Yvonne. Tratava-se de um texto bem mais resumido do que a obra
conhecida atualmente. Era, nessa ocasião, livro de autor único, ou seja, obra
de autoria do célebre escritor do Romantismo português Camilo Castelo Branco, o
qual houvera, em um primeiro momento,
utilizado do pseudônimo Camilo Cândido Botelho. Com a rejeição da primeira
submissão visando à publicação, Yvonne seguiu as recomendações do Espírito
Doutor Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, guardando os originais para
posteriores orientações. Realmente, ela passou a trabalhar com o admirável
Espírito Léon Denis, que revisou os originais, expandindo, substancialmente, o
texto, através de explicações, discussões, aprofundamentos e implicações
doutrinárias de cada evento narrado por Camilo. Assim, a nova versão de
“Memórias de Um Suicida”, a qual seria, finalmente, aceita para publicação pelo
corpo editorial da FEB, trata-se de obra de autoria dupla.
A parceria
entre os dois autores espirituais da obra, Camilo Castelo Branco e Léon Denis,
apresenta grande sinergia e entrosamento, visando enriquecer-nos de informações
sobre o mundo espiritual. O primeiro autor foi o responsável pelas narrativas,
com grande ênfase naquelas vivenciadas pelo próprio escritor, ou seja, aquelas
narradas na primeira pessoa do singular. O segundo autor espiritual, grande
apóstolo do Espiritismo desde quando encarnado, desdobra o conteúdo doutrinário
que pode ser inferido a partir das narrativas de Camilo Castelo Branco.
“Memórias de
Um Suicida” consiste em obra inestimável para o aprofundamento das nossas bases
kardequianas, sobretudo no que se refere ao conhecimento a respeito da vida no
mundo espiritual, estando ao lado das obras de André Luiz como referência nesse
quesito.
Vejamos a
primeira nota de rodapé na referida obra para termos uma ideia do conteúdo que
todo o texto apresenta:
“Após a morte, antes que o Espírito se
oriente, gravitando para o verdadeiro “lar espiritual” que lhe cabe, será
sempre necessário o estágio numa “antecâmara”, numa região cuja densidade e
aflitivas configurações locais corresponderão aos estados vibratórios e mentais
do recém-desencarnado. Aí se deterá até que seja naturalmente “desanimalizado”,
isto é, que se desfaça dos fluidos e forças vitais de que são impregnados todos
os corpos materiais. Por aí se verá que a estada será temporária nesse umbral
do Além, conquanto geralmente penosa. Tais sejam o caráter, as ações
praticadas, o gênero de vida, e o gênero de morte que teve a entidade
desencarnada – tais serão o tempo e a penúria no local descrito. Existem
aqueles que aí apenas se demoram algumas horas. Outros levarão meses, anos
consecutivos, voltando à reencarnação sem atingirem à Espiritualidade. Em se
tratando de suicidas o caso assume proporções especiais, por dolorosas e
complexas. Estes aí se demorarão, geralmente, o tempo que ainda lhes restava
para conclusão do compromisso da existência que prematuramente cortaram.
Trazendo carregamentos avantajados de forças vitais animalizadas, além das
bagagens das paixões criminosas e uma desorganização mental, nervosa e
vibratória completas, é fácil entrever qual será a situação desses infelizes
para quem um só bálsamo existe: a prece das almas caritativas!
Se, por muito longo, esse estágio exorbite
das medidas normais ao caso – a reencarnação imediata será a terapêutica
indicada, embora acerba e dolorosa, o que será preferível a muitos anos em tão
desgraçada situação, assim se completando, então, o tempo que faltava ao
término da existência cortada”.
Leonardo Marmo Moreira
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