Ao identificarmos um indivíduo como médium, estamos afirmando que se
trata de um ser humano caracterizado por muitos como um “paranormal”. Isso
porque seu nível de percepção extra-sensorial é bem superior ao nível da
maioria dos indivíduos de nossa sociedade, os quais seriam os ditos “normais”
(daí paranormalidade ou parapsiquismo).
A
conscientização em relação a essa realidade é fundamental para que atenuamos um
equívoco em termos de interpretação dos postulados kardequianos, que ocorre em
nosso movimento espírita em relação à identificação dos “médiuns de ação”. De
fato, sob certo aspecto básico (uma telepatia mínima), todos têm algum nível de
percepção mediúnica, por menor que seja, pois isso é uma característica
inerente ao Espírito. Entretanto, partindo-se dessa premissa, muitos têm
esperado a ocorrência de fenômenos paranormais ostensivos por meio de qualquer
criatura que se disponha a frequentar determinadas reuniões.
A proposta
kardequiana em relação à definição de médiuns assim como ao trabalho dos mesmos
nas casas espíritas têm sido deturpada em muitos setores de nosso movimento,
pois com base nessa frase solta, totalmente fora de contexto, “todos são
médiuns”, muitos confrades pretendem obter psicografias, psicofonias e
vidências de indivíduos que não possuem intensidade mediúnica suficiente para
isso. Portanto, essa premissa errônea torna-se altamente perigosa, pois
dependendo do nível de discernimento doutrinário do pressuposto “grupo
mediúnico”, pode dar margem a vários tipos de processo anímico e, o que é ainda
pior, até mesmo mistificações inconscientes propriamente ditas.
Uma semente
de uma grande árvore pode ser considerada potencialmente uma árvore, isto é, uma
“árvore em potencial”, mas, no momento presente, ainda não é esta árvore e não
apresenta várias características que tipificam a árvore. O mesmo vale para os
“médiuns em potência” em relação aos verdadeiros “médiuns ostensivos”.
O grande
“Apóstolo do Espíritismo”, Léon Denis, por exemplo, conta um pouco da sua
experiência inicial desanimadora com reuniões mediúnicas:
“Como tantos outros – disse ele -, procurava
provas, fatos precisos, de modo a apoiar minha fé, mas esses fatos demoraram
muito a vir. A princípio insignificantes, contraditórios, mesclados de fraudes
e mistificações, que não me satisfizeram, absolutamente, a ponto de, por vezes,
pensar em não mais prosseguir em minhas investigações, mas, sustentado, como
estava, por uma teoria sólida e de princípios elevados, não desanimei.
“Parece-me que o Invisível deseja experimentar-nos,
afirmou Denis, medir nosso grau de perseverança, exigir uma certa maturidade de
espírito antes de entregar-nos a seus segredos.”
Se tais
dificuldades ocorreram com o próprio Léon Denis, que obviamente tinha uma
missão altamente relevante e decisiva para os rumos de Espiritismo na Terra,
certamente também (e com mais razão) poderão acontecer conosco as mesmas
dificuldades na área da experimentação mediúnica. Um dos fatores que gera esse
tipo de dificuldade é a dificuldade de se encontrar um bom número de
indivíduos, para cada casa espírita, que, além de serem realmente médiuns
ostensivos, são Espíritas conscientes e dedicados, comprometidos com a tarefa
espiritual.
Leonardo Marmo Moreira
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