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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Discordâncias Religiosas

Na Introdução de sua obra “O Evangelho de Tomé – Texto e Contexto”, o erudito escritor espírita Hermínio C. Miranda afirma que “ao contrário do que se poderia pensar, o movimento cristão primitivo não constituiu um bloco monolítico de crenças e ritos administrados por uma única e incontestada instituição. Durant (Durant, Will. Caesar and Christ. Simon Schuster, 1944, New York) estima em uma centena as seitas dissidentes suscitadas no decorrer dos três primeiros séculos da era cristã”.

De fato, através dos textos bíblicos é possível perceber que os próprios Apóstolos não apresentavam uma homogeneidade absoluta de idéias a respeito do significado de todos os ensinos que constituíam a Mensagem do Mestre Nazareno. Mesmo durante a vida de Jesus, é possível identificar certa dificuldade de compreensão, pelo menos em algumas mensagens, do significado mais profundo do ensino Crístico. Isso toma contornos mais dramáticos após a morte do Mestre quando se percebe uma forte hesitação por parte dos apóstolos em relação às atitudes que deveriam ser tomadas a partir daquele momento histórico. Essa insegurança só foi lenta e gradualmente atenuada após várias aparições do Mestre Nazareno.

De qualquer maneira, as diferenças de opinião continuariam a ocorrer entre os discípulos e apóstolos. O célebre debate sobre a necessidade ou não da circuncisão para os gentios convertidos ao Cristianismo é um exemplo bastante contundente desse tipo de controvérsia entre os seguidores de Jesus.

Ora, Jesus havia afirmado aos Apóstolos “Eu não sou do mundo e vocês do mundo também não são” e “Vocês não me escolheram, mas Eu escolhi a vós”, demonstrando que os Apóstolos eram Espíritos muito mais evoluídos do que a média da população do mundo daquela época, e que haviam sido previamente selecionados para a missão de divulgarem a mensagem evangélica. Mesmo assim, isso não impediu esses seguidores da “primeira hora” de apresentarem discordâncias doutrinárias, repercutindo, inclusive em debates acalorados em busca de uma compreensão abrangente do Evangelho. Portanto, não deveria ser surpreendente o número de seitas que foram paulatinamente sendo formadas com o passar do tempo.

Posteriormente, a partir do momento em que o Cristianismo torna-se a religião oficial do estado romano, uma única interpretação religiosa, isto é, uma única doutrina, é imposta a todos os cristãos de “cima para baixo”, limitando a liberdade intelectual dos estudiosos da religião cristã. Tal limitação só foi, de fato, implementada, porque as perseguições religiosas passaram a ser prática comum, o que acabou restringindo, de fato, as “leituras” diferentes do texto evangélico. No entanto, não deveríamos nos surpreender com o expressivo número de diferentes pensamentos cristãos dos primeiros séculos assim como não deveríamos nos chocar com o grande número de religiões cristãs e não-cristãs que existem atualmente.

As opiniões distintas no campo religioso são reflexos da heterogeneidade dos caracteres humanos, o que consiste em fenômeno semelhante ao que ocorre em outras áreas do conhecimento humano. O debate respeitoso de idéias, incluindo a busca pelo diálogo, seja em ambientes intra-religiosos ou inter-religiosos, deveria ser algo mais freqüente para os estudiosos da religião, assim como ocorre na Ciência e na Filosofia, uma vez que ninguém pode monopolizar a Verdade. Se esse tipo de mentalidade fosse praticado, os gestos de intolerância religiosa seriam atenuados em número e intensidade e o aprofundamento religioso geraria maior nível de espiritualidade para os adeptos de todas as correntes.

Leonardo Marmo Moreira

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