Allan Kardec e
Alexander Aksakof (autor de “Animismo e Espiritismo”) estabelecem que não
existe fenômeno mediúnico 100% puro, ou seja, sem nenhuma participação e/ou
influência por parte médium, o que é conhecido com fenômeno anímico ou
animismo. Isto ocorre, pois o fenômeno mediúnico basicamente consiste em um
fenômeno telepático, pressupondo, portanto, uma passagem (uma “decodificação”)
da mensagem por parte da mente do médium. Vale registrar que isso é aplicável
inclusive aos chamados médiuns inconscientes.
Portanto,
podem existir fenômenos paranormais totalmente anímicos, mas não podem existir
fenômenos paranormais totalmente mediúnicos, sem uma participação, mínima que
seja, de uma contribuição anímica por parte do médium.
Em
“O Livro dos Médiuns”, Allan Kardec e a falange do Espírito de Verdade nos
ensinam que um Espírito que envie uma mensagem em alemão para um médium francês
(ou brasileiro, ou de qualquer outra língua nativa diferente do alemão) somente
conseguirá enviá-la se o médium dominar o idioma alemão ou se tiver tido
contato com o idioma alemão em outra encarnação. Caso contrário, o fenômeno só
é possível se o Espírito soletrar a mensagem ou se houver perfeita e total
afinidade espiritual entre o Espírito comunicante e o médium, o que é raríssimo
em nosso mundo, em concordância com elucidação de Veneranda no capítulo 37
(intitulado “A Preleção da Ministra”) da obra “Nosso Lar”, de André Luiz.
E
um analfabeto?! Pode psicografar?! A resposta é sim. Aliás, Dona Yvonne do
Amaral Pereira afirma, na obra “Devassando o Invisível”, que analfabetos podem
trazer mensagens belíssimas. Entretanto, o fenômeno também é raríssimo, pois
além da necessidade das estruturas básicas intelectuais por parte do médium
(como é o caso do vocabulário, por exemplo), o Espírito comunicante necessita
vencer as resistências físicas da mão do médium, a qual não é acostumada a
escrever. Desta forma, assim como uma criança que esteja aprendendo a escrever
tem dificuldades mecânicas no processo escrevente, o médium analfabeto também
terá limitações para manejar o lápis e/ou a caneta. Desta forma, o fenômeno
mediúnico em questão acabará sendo um fenômeno misto, envolvendo tanto efeitos
intelectuais como efeitos físicos.
Em
“Devassando o Invisível”, no terceiro capítulo, o Espírito Chopin (que o
Espírito Charles, mentor espiritual de Yvonne Pereira, afirma ser o mesmo
Espírito que viveu como Ovídio, poeta romano, e Rafael Sânzio, pintor
renascentista) pede que Dona Yvonne procure um professor de música para que ela
desenvolva alguma bagagem nessa área para que ele, Chopin, pudesse enviar
mediunicamente algumas músicas através da mediunidade de Dona Yvonne.
Infelizmente, em função de um número enorme de outros compromissos e tarefas,
Dona Yvonne não pode atender ao pedido. De qualquer forma, este caso demonstra
a necessidade de bagagem intelectual por parte do médium para receber a
mensagem mediúnica.
De fato, o
próprio Chico Xavier afirma, no famoso “Pinga-fogo” de 1971, que Augusto dos
Anjos declamava para ele, durante o dia, as poesias (mediunidade de audiência)
que enviaria por psicografia na reunião da noite. Esta espécie de treinamento
preparatório ocorria a fim de familiarizá-lo como o vocabulário e com a
estrutura que seria utilizada em cada texto, para que, dessa forma, Chico
“filtrasse” melhor a mensagem. Entretanto, o próprio Chico revela que não
conseguiu filtrar totalmente o vocabulário de Augusto dos Anjos. A poesia foi
publicada, mas Chico Xavier explica que ela era mais bonita na versão original
do mundo espiritual.
Dona Yvonne
Pereira também foi avaliada por Victor Hugo a fim de ser médium desse escritor
espiritual para a redação de romances. No entanto, ele considerou que, na
ocasião, ela não tinha as condições necessárias para a transmissão do estilo
dele e passou a tarefa para Charles, ou seja, Victor Hugo contou a história
para Charles e Charles transmitiu para Dona Yvonne. De fato, como Victor Hugo é
um autor altamente reconhecido na Crosta terrena, se ele transmitisse um
romance sem o seu estilo característico, a falta de coerência estilística seria
negativa como evidência da imortalidade da alma. Nesse caso, ele preferiu
transmitir a mensagem para Charles e Charles que tem maior afinidade espiritual
e sintonia com Dona Yvonne (além de não ter a notoriedade de Victor Hugo como
autor encarnado), poderia contar a história com conteúdo e beleza, mas sem a
obrigação de reprodução estilística para evidenciar a imortalidade da alma, o
que ocorre sempre em se tratando de nomes que ganharam notoriedade quando
encarnados.
Por
conseguinte, fica evidente que não somente a bagagem moral do médium mas também
as conquistas intelectuais são fundamentais para uma excelente transmissão de
obras de elevado conteúdo espiritual. Isso reforça a necessidade do médium se
moralizar e se intelectualizar, crescendo culturalmente para ser um instrumento
mais afinado a serviço do bem.
Leonardo Marmo Moreira
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