A
identificação da autoria espiritual de mensagens psicográficas não é tarefa
trivial. Allan Kardec constatou a complexidade do assunto através de seu amplo
e profundo estudo a respeito das comunicações mediúnicas. Além da complexidade
da identificação, a constatação, por parte do Codificador do Espiritismo, de
aspectos mais relevantes a serem analisados concernentes ao conteúdo da
mensagem (em primeiro lugar) e ao caráter moral do médium (em segundo lugar),
fez com que Kardec deixasse como terceira prioridade os estudos referentes à
identificação nominal do autor espiritual.
Existem
vários fatores que podem dificultar a identificação da autoria espiritual da
mensagem, tais como:
01)
No caso de autores espirituais que foram,
enquanto seres encarnados, escritores famosos: Diferença da bagagem cultural
entre o Espírito comunicante e o médium, a ponto da influência anímica limitar
a capacidade do autor imprimir seu estilo literário.
02)
No caso de nomes que se tornaram célebres
através de um médium específico: a transmissão de mensagens por intermédio de
outro médium pode dificultar a transmissão do estilo literário característico
do autor espiritual. Isso ocorre porque a influência anímica de médiuns
diferentes sobre o processo de “filtração mediúnica” das mensagens pode se
distinguir significativamente dependendo de fatores como a intensidade
mediúnica de cada medianeiro, a bagagem cultural geral de cada um deles, o
conhecimento específico sobre o assunto tratado pelo Espírito, o vocabulário e
o estilo de escrita de cada médium bem como a adequação deste estilo com o
estilo do Espírito comunicante.
03)
O mecanismo mediúnico de recebimento (mecânico;
semi-mecânico ou consciente), o qual pode variar de médium para médium,
afetando a reprodução do pensamento original do Espírito comunicante.
04)
As oscilações emocionais do médium durante a
fase na qual é instrumento do recebimento mediúnico de mensagens de um
determinado Espírito (pode ser em um único dia, quando se tratar de uma
mensagem isolada ou pode envolver um intervalo bem maior de tempo, chegando a
vários meses, quando consistir em recebimento de obras maiores e,
principalmente, com conteúdo contínuo, como, por exemplo, romances mediúnicos).
Essas inconstâncias emocionais podem dificultar a reprodução do pensamento
original do Espírito comunicante.
05)
A diferença de vibração entre Espírito
comunicante e médium que, quanto menor afinidade espiritual apresentarem, mais
dificuldades encontrarão para a transmissão de idéias do comunicante.
06)
As influências espirituais negativas, incluindo
obsessões propriamente ditas, que possam estar afetando o médium e/ou o grupo
familiar e/ou o grupo espírita que o médium freqüenta (e que pode ser o grupo
de sustentação dessa tarefa mediúnica específica). Tais dificuldades
diminuiriam a “blindagem mediúnica” , que consiste em importante fator protetor
da tarefa, sobretudo para o recebimento de romances mediúnicos.
07)
No caso de autores espirituais que foram
escritores encarnados famosos: as oscilações emocionais e a própria evolução
intelectual e, principalmente, moral do próprio autor desencarnado podem
modificar as áreas de interesse e de estilo em relação àquilo que esse autor
escrevia enquanto encarnado. Isso dificultaria a identificação do mesmo por
parte de críticos encarnados. Processos semelhantes são comuns nos próprios
autores encarnados, que muitas vezes modificam seus estilos em diferentes fases
da vida física. Em se tratando da desencarnação, isso poderia se manifestar com
maior ênfase, considerando a possível ocorrência de desencarnações e/ou
adaptações ao mundo espiritual traumáticas para o autor desencarnado. Vale
acrescentar que muitas vezes o autor espiritual está escrevendo décadas ou até
mesmo séculos depois da sua fase célebre enquanto escritor encarnado, o que
tende a aumentar as diferenças de estilo entre essas as duas fases do escritor
(como encarnado e como desencarnado).
08)
Os vocabulários e modismos lingüísticos
distintos em função das diferenças épocas das vidas físicas do autor espiritual
em relação ao médium, favorecendo uma influência anímica que descaracterizaria o
estilo do autor espiritual.
09)
No caso de autores espirituais que foram
escritores famosos em língua estrangeira à língua nativa do médium, a
reprodução do estilo do escritor pode ser dificultada pela diferença de estilos
de construção literária entre a língua nativa do autor espiritual quando
encarnado e a língua nativa do médium. Tal influência acaba podendo ser
acentuada pela diferença de épocas de vida física, o que deve fazer com o que a
língua estrangeira “antiga” do Espírito comunicante se distancie ainda mais da
“tradução” mais direta em relação à língua nativa “recente” do médium.
10)
No caso da defesa de postulados
filosófico-doutrinários que não correspondem às opiniões do médium pode haver
alguma influência na filtração mediúnica, caso o médium não seja muito hábil na
atividade de receptividade (“passividade”) em relação ao pensamento do Espírito
comunicante.
11)
No caso de assuntos nos quais o médium tenha
grande bagagem cultural e posicionamentos muito contundentes, a influência
anímica pode gerar uma reprodução de clichês mentais inerentes à personalidade
e aos pontos de vista do médium.
12)
No caso de assuntos nos quais o médium é
completamente leigo, o desconhecimento por parte do médium de termos técnicos
associados ao jargão do assunto abordado pelo Espírito podem dificultar a
objetividade e o uso das palavras de primeira escolha do autor espiritual.
Leonardo Marmo Moreira
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