O assunto
relacionado ao consumo humano de carne é, frequentemente, motivo de
controvérsias dentro do movimento espírita. Isto ocorre porque, em um primeiro
momento, ao ler "O Livro dos Espíritos" (L.E.), parece que os
Espíritos aprovam, sem restrição, a alimentação carnívora. Entretanto, as duas
respostas de “O Livro dos Espíritos” (L.E.) que abordam o referido assunto deveriam
ser estudadas com mais cuidado.
De fato, a
frase "a carne nutre a carne", utilizada pelos Espíritos superiores
para responder a uma destas questões não entra no cerne propriamente dito da
questão levantada pelo Codificador, pois o principal problema não é a questão
nutricional, mas sim o problema moral. É claro que podemos discutir os aspectos
positivos e negativos da carne, do ponto de vista nutricional, mas o problema
principal não é esse. Kardec poderia questionar se seria lícito fazer uso de
bebidas alcoólicas, ou de excesso de algum outro tipo de alimento, e não o fez.
O Codificador elege como questão mais relevante a discussão sobre a alimentação
carnívora, provavelmente devido à questão moral relacionada à antiqüíssima
dúvida: é correto ou não matar animais para comer?!
Obviamente, os
mentores espirituais da falange do Espírito de Verdade sabiam disso, ou seja,
sabiam das intenções do Codificador e das principais implicações relacionadas à
questão levantada por Kardec. Vale, portanto, questionar: Por que não entraram
no cerne da questão. Por que não a exploraram com maior profundidade? Por que
não exploraram mais o assunto, nem em “O Livro dos Espíritos” (L.E.) e nem nos
demais livros do “Pentateuco Espírita”? Na “Revista Espírita”, há uma mensagem
muito contundente que sugere que deixemos e/ou minimizemos o hábito de ingerir
carne. Tal mensagem estaria em contradição com o L.E.?! Kardec se enganou ao publicá-la
na “Revue Spirite”?! Trata-se de uma mistificação que enganou o Codificador?
Kardec a publicou porque considerou que o assunto não estava devidamente
esclarecido?
É importante
ressaltar que é lícito discutir a eficácia nutricional da carne como alimento e
se é imprescindível ou não à nossa saúde física, mas a principal questão ,
sobretudo do ponto de vista filosófico-religioso, diz respeito ao fato de
termos de abater os animais. Isso seria eticamente aceitável?! Seria moralmente
elevado tal hábito?!
Em suma, a
qualidade da carne como alimento e o nível moral da atitude de se matar animais
para alimentação são duas questões importantes, mas a segunda é a mais
relevante do ponto de vista espírita. Se admitirmos a hipótese da atitude de se
matar animais para a alimentação ser reprovável do ponto de vista moral, a
relevância nutricional da carne não serviria de justificativa para contrapor o
erro moral do abate dos animais. Esse subterfúgio seria ainda menos aceitável
se houverem alternativas nutricionais que possam substituir a carne.
Muitos
poderiam questionar: “Mas existem muitas pessoas que passam fome no mundo. Não
seria lícito nesse caso?!” Essa seria uma segunda questão, e não a questão
central e inicial. Essa questão seria o mesmo que dizer: “Consideramos
eticamente questionável ou negativo o consumo de carne. Mas, e se estivermos
passando fome?! Seria aceitável comer carne?!”. É possível que a resposta a
essa segunda pergunta seja sim. Entretanto, das pessoas que ingerem carne,
quantas estão passando fome?! E quantas não estão acabando com sua saúde por
excesso de ingestão de carne?!
Se os
Espíritos da falange do Espírito de Verdade, em L.E., aprovam totalmente o
consumo da carne, como alguns confrades sugerem, então Emmanuel, André Luiz e
Humberto de Campos, entre outros, erraram completamente. Pois eles realmente
têm posicionamentos marcantes sobre o assunto, que não corroboram a
interpretação pró-consumo de carne das duas questões de L.E.. André Luiz tem
afirmações contundentes a favor de, no mínimo, minimizarmos o consumo de carne
tanto em "Os Mensageiros" como em "Missionários da Luz". Emmanuel
também tem uma resposta bem explícita a favor da diminuição do consumo
carnívoro na obra “O Consolador”.
Autores
espirituais importantes para a Doutrina Espírita como Emmanuel e André Luiz não
poderiam errar tantas vezes, e com tamanha ênfase. Então, o que estaria
acontecendo?!
A problemática
questão parece envolver o momento histórico da publicação de “O Livro dos
Espíritos”. À época, estávamos, por exemplo, muito longe de eliminar a
escravidão no Brasil, (mesmo no chamado "Coração do Mundo, Pátria do
Evangelho”). A escravidão acabaria no Brasil somente em torno de 28 anos após a
publicação da segunda edição (edição definitiva) de “O Livro dos Espíritos” (em
torno de 31 anos após a publicação da primeira edição de “O Livro dos
Espíritos”). Nos Estados Unidos, iria começar a Guerra da Secessão, que também
era motivada, entre outros fatores, pela questão da escravidão. Ora, se o ser
humano, em países civilizados, ainda escravizava outros seres humanos por causa
da cor da epiderme, o que aconteceria se o Espiritismo levantasse, naquele
tempo, a bandeira da alimentação sem carne?! A Doutrina Espírita seria ainda
mais perseguida do que foi, mais ridicularizada do que foi, pois era uma
discussão ainda precoce para a esmagadora maioria dos habitantes da crosta.
Portanto, seria um desgaste desnecessário e contraproducente ao desenvolvimento
do movimento espírita assumir tal posição naquela época.
De fato,
muitos companheiros Espíritas da atualidade continuam achando eticamente
elevado matar animais para comer. Mais
de 150 anos após a publicação da segunda edição de “O Livro dos Espíritos”. Se
é difícil discutir isso atualmente, mesmo dentro do meio espírita, imagine naquele
tempo. O ensino precisa chegar até nós no momento que estamos minimamente
preparados para a sua assimilação. Em “Nosso Lar”, o Ministro Genésio afirma
para André Luiz: “Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”. Em “O
Livro dos Espíritos”, os Espíritos superiores afirmam: “Luz demais ofusca ao
invés de clarear (esclarecer)”. De fato, o processo educacional para a mudança
de costumes é constante, porém lento e gradual.
Alguns
autores, visando simplificar a questão, afirmam que Chico Xavier comia carne. Na
verdade, essa informação necessita de maior contextualização sobre os hábitos
de vida de Chico Xavier. Em todo caso, é
bastante curioso tal argumento ser utilizado com tão frequência, pois três
autores espirituais, dentre os principais que escreviam pela mediunidade de
Chico Xavier, induzem a, no mínimo, diminuir tal comportamento. Quem, portanto,
está com a razão: Os mentores e autores espirituais da obra de Chico Xavier
(que consiste no principal legado de sua vida, pois é obra para ser estudada
através dos séculos. Tanto é que Emmanuel dissera em uma famosa reunião de
materialização, na qual Chico Xavier era o instrumento mediúnico: “A tarefa do
Chico é o livro!”) ou aqueles que afirmam, de forma simplista que Chico Xavier
comia carne. Chico Xavier tinha por hábito tentar ser simples e humilde e, na
medida do possível, não constranger as pessoas que não tinham a elevação dos
seus hábitos e, indiretamente, não criar uma idolatria exagerada sobre a sua
pessoa, o que, apesar de seus esforços, acabou, em alguns casos, acontecendo.
Além disso, esse argumento de que Chico Xavier
comia carne não modifica em nada o conteúdo das obras que os instrutores espirituais
dele trouxeram. Alguns simplificam a questão, o que parece ocorrer simplesmente
porque comem carne, o que é um grave erro. Neste caso, estaria havendo uma
distorção de um conceito doutrinário porque ainda não podemos vivenciá-lo, o
que é um erro crasso visando uma justificação perante a consciência, o que,
além de não funcionar, não faz o menor sentido perante a Doutrina Espírita. Quando
pregamos Doutrina Espírita, não estamos pregando para os outros, mas para nós
mesmo e não estamos afirmando que vivenciando tudo aquilo que nossa consciência
já considera errado. “Os são não necessitam de médico”, e o fato de ainda não
vivenciar integralmente os postulados espíritas, não nos inviabiliza para
iniciarmos o trabalho doutrinário.
Afinal, o primeiro
passo é o estudo doutrinário; o segundo é a conscientização do que é correto
perante as Leis de Deus; o terceiro é a conscientização da necessidade de
modificar para melhor os nossos hábitos, procurando a harmonização com essas
Leis; o quarto consiste em traçarmos estratégias e iniciarmos o esforço de
transformação efetiva de nossa personalidade; o quinto seria perseveramos no
esforço iniciado para efetivarmos a médio ou longo prazo uma efetiva mudança
para melhor.
Emmanuel
afirma: “Começar é fácil; Perseverar é muito difícil; Concluir a tarefa é
raríssimo!”
Reflitamos na
necessidade de aprofundarmos o estudo doutrinário e o intercâmbio de idéias,
sem preconceitos, para que cada vez mais “nos aproximemos da Verdade para que
ela nos liberte”.
Leonardo Marmo Moreira
Como comparar a Codificação com pseudos sábios como André Luiz e Emmanuel? Respeitem a Doutrina Espirita!!!!!
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