A
famosa expressão “advogado do diabo” tem sido utilizada atualmente no dia-a-dia
quando alguém vai defender uma tese que o “defensor momentâneo” muitas vezes
não aceita ou que é contrária às idéias do grupo em que o defensor está
inserido. Essa proposta tem a finalidade de testar melhor a solidez dos
argumentos contrários à respectiva tese defendida pelo grupo. A tese em
questão, teoricamente, deveria ter um expressivo número de evidências
consistentes para que o grupo mantivesse sua opinião e para que a eventual
defesa dessa idéia fosse convincente lógica, científica, didática e
retoricamente.
A expressão advém de uma função
exercida na igreja até a década de 80 (O ofício de Advogado do Diabo foi
estabelecido em 1587 e foi abolido pelo Papa João Paulo II em 1983). Por
exercer essa função, o Promotor Fidei era popularmente conhecido como
"Advogado do Diabo" (Latim advocatus diaboli), na qual um
padre ficava responsável por um estudo amplo, profundo e deveras crítico sobre
a biografia de um candidato à canonização. Esse ceticismo serviria para
levantar fortes suspeitas sobre supostos milagres e sobre a vida moral do
candidato a santo. Isso faria com que eventuais deslizes morais e/ou ausência
de obras espirituais ficassem bem explícitos a fim de que aqueles que
recebessem o título de santo realmente fossem dignos dele. O objetivo desse
processo seria evitar a ocorrência de erros que foram muito comuns na história
da igreja associados à canonização de indivíduos de atitudes distantes daquelas
esperadas por alguém digno de reconhecimento de valor espiritual.
Humberto de Campos narra o caso de
São Domingos, célebre inquisidor espanhol, que foi canonizado por meio de
influência política dos membros de sua ordem religiosa, mas que, de forma
alguma, mereceria tal distinção.
O fato é que nós temos sempre muita
dificuldade para analisar a qualidade intrínseca das ações e principalmente das
intenções de quem as pratica. Jesus, conhecendo essas nossas limitações,
forneceu-nos uma orientação bem objetiva: “Conhece-se a árvore pelos frutos”.
Então, basicamente, devemos analisar a quantidade (perseverança e
constância/disciplina do esforço no bem) e principalmente a qualidade das ações
no bem (a intensidade de amor verdadeiro e de qualidades morais associadas a
cada atitude e ao modo pelo qual ela é desenvolvida). Devemos estar atentos à
atitude pessoal antes, durante, e depois do cumprimento das referidas ações; à
presença ou não de vaidade pessoal no desempenho dessas tarefas; à expectativa
ou não de reconhecimento pelas obras realizadas (“Que a vossa mão esquerda não
saiba o que dá a vossa mão direita”); à presença de falhas morais no desempenho
da tarefa do bem etc. Tal avaliação deve valer primeira e basicamente para a
análise de nós mesmos a fim de investigarmos a atitude moral de cada um de nós,
em um processo sincero e honesto de auto-conhecimento.
Além
da auto-avaliação, tal atitude também pode ser utilizada para analisarmos, por
exemplo, o valor moral de um livro espírita ou não; para inferirmos a qualidade
moral de um grupo de estudos doutrinários e/ou mediúnicos dentro da casa
espírita; para avaliarmos a qualidade intrínseca de um trabalho de assistência
sócio-educacional etc. Essa atitude cuidadosa é inevitável em nossa vida, pois
como Jesus afirmou “Haverá falsos cristos e falsos profetas”. Esses “falsos
cristos” são “cegos que guiam cegos”, portanto estaríamos sendo cegos
(espiritualmente) ao segui-los, e como eles mesmos são cegos, estaríamos
fadados ao fracasso espiritual, pelo uso de referências comportamentais
equivocadas.
Leonardo Marmo Moreira
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