Se Jesus foi
um Agênere (um ser não gerado, sem corpo de carne, ou seja, portador apenas de
um corpo fluídico; algo como um perispírito constantemente materializado),
hipótese levantada por alguns confrades e simpatizantes do Espiritismo, por que
Ele não se desmaterializou logo após sua morte?!
Ele
teria ficado em uma atitude de fingimento (fingindo-se de morto) durante um
tempo enorme após sua morte na cruz?! Posteriormente, teria continuado na mesma
“interpretação” após a retirada do corpo da cruz?!
Note que esse
intervalo de tempo não foi pequeno, pois José de Arimatéia, após a confirmação
da morte de Jesus, teria se dirigido à sede do Governo de Pilatos, pedindo autorização
ao próprio Pilatos para se tornar o responsável pelo corpo de Jesus. O diálogo
com Pilatos aparentemente não teria sido muito rápido. De qualquer maneira, após
o consentimento do representante romano na Palestina, ele teria retornado ao
Gólgota, participando do procedimento de retirada do corpo de Jesus da cruz.
Subsequentemente, os discípulos transportam o corpo de Jesus para um
determinado local, relativamente distante dali. Em seguida, como era de praxe
na época, preparam minimamente o corpo de Jesus com essências apropriadas para
o tratamento do cadáver e o deixam neste local previamente adquirido (um buraco
em uma rocha anteriormente selecionada e adquirida pelos discípulos de Jesus). Só,
então, após o fechamento do buraco com uma grande pedra, Jesus teria podido se
desmaterializar para manter seu grande “segredo” intacto.
Admitindo-se,
a priori, essa hipótese moralmente questionável de Jesus ser portador de um
corpo fluídico, o Mestre teria realmente agido de forma deliberada visando
fingir que o seu corpo era de carne como o de qualquer pessoa. Jesus teria
realmente evitado que as pessoas se dessem conta da sua verdadeira realidade
física na Terra através de uma atitude no mínimo curiosa. De fato, Ele teria
chegado ao cúmulo de se fingir de morto por várias horas, sem poder abrir os
olhos, sendo retirado de um local, transportado para outro lugar, buscando como
um grande ator, dar ao corpo físico as propriedades mecânicas que são
observadas nos cadáveres comuns.
Tal proposta
não se coaduna com a elevação do Mestre. Realmente, a hipótese do Docetismo ou
Neo-Docetismo merece, no mínimo, uma cuidadosa precaução. Devemos nos lembrar
de Erasto (“É preferível rejeitar 10 verdades do que aceitar uma única
mentira”) e questionar criticamente aqueles que assim pensam, quando,
obviamente, consideram-se espíritas. Se o indivíduo defende tal proposta e se
diz apenas espiritualista, ele está minimamente coerente com sua própria
auto-definição, não merecendo quaisquer análises maiores de nós espíritas. Se
se afirma espírita, o problema é maior em função da atitude de incoerência
doutrinária e da eventual divulgação de idéias esdrúxulas que perturbam a
evolução doutrinária do movimento espírita. Realmente, na melhor das hipóteses,
o Docetismo continua sendo uma mera especulação, uma elucubração
filosófico-religiosa, sem nenhuma fundamentação em fatos e sem nenhuma
contribuição efetiva do ponto de vista doutrinário. E se não há evidência
factual (Voltaire já dizia: “Nada mais brutal do que o fato!”), tal idéia não
pode ser sequer admitida como hipótese científica, e, se não é ciência, “não
pode ser considerada parte integrante da Doutrina Espírita”, como asseverou
Allan Kardec ao dissertar sobre tal questão em “A Gênese”.
A Codificação
Kardequiana não se constitui em uma espécie de Reforma, como é o caso da
Reforma Protestante, porque o Espiritismo nasceu como Ciência através da
análise do fato, que, no caso em questão, é o fenômeno mediúnico das mesas
girantes e falantes. Várias obras ditas espíritas, mediúnicas ou não, não
respeitam esse tipo de cuidado, apresentando idéias meramente hipotéticas sem
nenhum tipo de constatação possível. Seria o caso de se perguntar, se Jesus
disse que “somos Deuses” e se igualmente afirmou que “tudo aquilo que Ele
fizera, nós também poderíamos fazer e muito mais”, por que nunca mais alguém
veio ao mundo e ficou aqui como agênere durante um bom intervalo de tempo (de
no mínimo três anos, por exemplo)?! Essa e outras perguntas surgem ao se
admitir as hipóteses docetistas e neo-docetistas e, depois de tanto tempo,
ainda permanecem sem respostas minimamente racionais.
Leonardo Marmo Moreira
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