A questão da
aparência do cadáver no período do velório tem sido fonte de interessantes
indagações envolvendo um grande número de casos. O assunto é complexo, pois a
aparência do cadáver depende de vários fatores, sendo que a paz do Espírito
desencarnante seria um fator importante, mas não o único. Em princípio, alguém
que tenha tido uma “boa vida” (uma encarnação de realizações valorosas do ponto
de vista espiritual), e também uma “boa morte” (um processo de desligamento
corpo-espírito que tenha sido bem administrado emocional e espiritualmente pelo
Espírito desencarnante), tenderia a gerar um cadáver com uma “boa aparência”,
destacando-se aí um aspecto facial mais sereno, pacífico e, em alguns casos,
podendo até denotar um leve contentamento.
De fato, são
conhecidos vários casos na História do Cristianismo, como é o caso de Clara de
Assis, cujos respectivos cadáveres apresentaram uma extraordinária resistência
à decomposição, sendo que, muitos deles permanecem com seus despojos carnais
altamente conservados até os dias de hoje, destacando-se, inclusive, um rosto
impressionantemente conservado. Entretanto, é importante destacar que vários
outros itens podem influenciar o processo de decomposição do corpo físico, sendo
que tais aspectos abrangem tanto fatores materiais como aspectos espirituais. A
título de ilustração poderíamos mencionar o tipo de morte, a idade física do
desencarnante, a temperatura e a umidade relativa do ar no local do velório, a
preparação espiritual da família e dos amigos presentes no velório, o nível
espiritual das preces e/ou diálogos dos indivíduos presentes no velório, o
tempo de duração do velório, o momento de desligamento definitivo do chamado
“cordão prateado” (liame que conecta o Perispírito ao Corpo Físico), entre
outros.
Neste
contexto, é interessante lembrar a informação de Irmão Jacob em “Voltei”,
quando assevera que após a ruptura do “cordão prateado”, o processo de
decomposição de seus despojos carnais acentuou-se significativamente, denotando
a relevância da questão do tempo do velório e também da evolução espiritual do
desencarnante, uma vez que o desenlace definitivo dependeria do grau de
adaptação do indivíduo à sua nova realidade. O próprio André Luiz narra em
“Obreiros da Vida Eterna”, que, em uma visita ao cemitério, surpreendeu-se ao
notar que vários Espíritos desencarnados ainda mantinham seus respectivos
“cordões prateados” conectados aos despojos carnais por se tratarem de
Espíritos imaturos para a Vida Espiritual. Assim sendo, a Providência Divina os
mantinha conectados para seu próprio bem e também para auxílio dos familiares e
amigos que permaneciam encarnados na crosta terrestre, os quais, certamente,
seriam perturbados pelas visitas muitas vezes inoportunas desses indivíduos.
De fato, “a
mente move a matéria”, significando que o Espírito, dirigindo o Perispírito,
guia, por conseqüência, o Corpo físico.
Em alguns
casos, quando o Espírito desencarnante realmente é portador de valores
espirituais de alta condição, poderia haver uma potencialização de aspectos
positivos para o bom aspecto do cadáver. No entanto, quanto mais evoluído é o
espírito, mais rapidamente poderia ser o desligamento definitivo do “cordão
prateado”, o qual deve favorecer um processo de decomposição mais rápido. Além
disso, devemos considerar que, normalmente, para Espíritos com certa maturidade
espiritual, os processos degenerativos dolorosos de longo curso são
experiências que, se bem administradas, podem fornecer profundo crescimento
espiritual e, consequentemente, elevado preparo para a transição
desencarnatória. Desta forma, realmente admitimos a possibilidade do aspecto
agradável apresentando pelo cadáver do referido Espírito estar pelo menos
minimamente relacionado à sua pressuposta condição espiritual elevada, apesar
da questão do “cordão prateado” já comentada.
Em suma,
admitimos a possibilidade do fenômeno da boa aparência poder ter relação com
uma boa condição intelecto-moral do Espírito Desencarnante, sem tornar, de
forma nenhuma, tal especulação uma regra, que não faria o menor sentido
doutrinário, uma vez que a condição espiritual não é o único fator envolvido no
fenômeno, além do fato de que sempre é dificílimo inferir sobre a real condição
espiritual de quem quer que seja. De fato, nós, encarnados, costumamos cometer
erros de análise quando inferimos sobre a real condição espiritual de
recém-desencarnados, pois é muito difícil conhecer todos os aspectos
intelecto-morais e evolutivos, associados à Lei de Causa e Efeito, que
tipificam cada desencarnante. Realmente, se todas as mortes e desencarnações
têm características gerais semelhantes, nenhuma deles é perfeitamente idêntica
à outra em suas particularidades, justamente devido ao grande número de
interferentes que especificam cada desencarnação, semelhantemente ao que ocorre
com as vidas físicas de todos nós. De qualquer maneira, relembrando sempre a
recomendação do Espírito Erasto em “O Livro dos Médiuns” de que “É preferível
rejeitar 10 verdades a aceitar uma única mentira”, devemos situar tal análise
como um estudo preliminar, que, obviamente, deve ser desenvolvido a partir de
maiores correlações com informações fidedignas de caráter espiritual que
certamente serão lenta e gradualmente expandidas para o nosso esclarecimento
contínuo.
Leonardo Marmo Moreira
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