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quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Sexo, a Homossexualidade e a Inversão Sexual à Luz da Doutrina Espírita


                O espírito, como princípio inteligente, a priori, não tem um sexo definido. Isto equivale a dizer que, apesar da potencialidade sexual ser algo inerente a todos os espíritos, não existe, previamente, uma diferenciação de gênero, masculino ou feminino, no princípio inteligente. Essa característica não é uma exclusividade para o aspecto sexual do comportamento da criatura, pois o mesmo ocorre em todas as demais áreas de atividade do ser, uma vez que o espírito não possui qualquer bagagem espiritual ou cultural no início da sua trajetória de desenvolvimento anímico. Entretanto, isso não impede que ele adquira um comportamento altamente polarizado na área genésica como função da sucessão das experiências encarnatórias.

                O criador dotou as manifestações de caráter sexual de altos níveis de sensação para que a reencarnação, e com ela a perpetuação da espécie, pudesse ser sustentada através da produção contínua de novos corpos materiais. De fato, este mecanismo estaria associado às Leis naturais de reprodução e conservação, em concordância com “O Livro dos Espíritos”. Ademais, desde o reino animal, os contatos sexuais constituem um veículo importante para a constituição dos laços familiares, onde o princípio inteligente trabalha os rudimentos dos sentimentos de afeto, visando, ao trabalhar as sensações, atingir sentimentos e patamares mais elevados de manifestação espiritual.

                De qualquer maneira, a intensidade do instinto sexual constitui algo extremamente marcante no comportamento da criatura, o que levou Freud a definir o ser humano como “um animal sexual”. De fato, a herança das sensações animais aliada à ausência de ideais superiores torna o ser humano, muitas vezes, escravo de suas manifestações fisiológicas. Por isso, Joanna de Ângelis divide os seres humanos em homens fisiológicos e homens psicológicos. Os primeiros só teriam interesses e atitudes visando satisfazer suas necessidades sensoriais, como comer, dormir e manter relações sexuais. Os últimos não se restringiriam a essas manifestações e, apresentando valores mais elevados, seriam portadores de ideais superiores, ou seja, objetivos existenciais maiores nas áreas do trabalho, da educação, da fraternidade, da religiosidade etc. Ademais, os homens psicológicos desenvolveriam suas atividades fisiológicas com profundo respeito a si mesmos, ao corpo físico de que são portadores e aos irmãos envolvidos nessas manifestações, evitando excessos que podem acarretar processos cármicos de difícil resolução.

                Esse grande impacto comportamental oriundo de nossas energias, tendências e experiências sexuais responde por vários desequilíbrios da humanidade. O ser humano sempre oscilou entre o completo desregramento e a abrupta castração das energias sexuais. O desregramento seria uma conseqüência de propostas materialistas que visam à obtenção do prazer sensorial até a exaustão como principal forma de realização humana. A castração, na maioria de vezes com origem em tradições culturais alicerçadas em religiões machistas, seria motivada pela consciência de culpa em manifestações afetivo-sexuais que trazemos tanto de forma consciente como de maneira inconsciente, incluindo aí, bagagens de reencarnações anteriores. Essa consciência de culpa, em função de vários desequilíbrios nessa área, levou os religiosos do passado a considerar, equivocadamente, o sexo como algo extremamente pecaminoso e com funções exclusivamente ligadas à procriação. Desta forma, o indivíduo que almejasse ser considerado “santo” e “dirigente religioso” precisaria, “por decreto”, abster-se de quaisquer manifestações sexuais. Obviamente, não se pode alterar um comportamento tão marcante simplesmente pela imposição de uma regra. Essa mentalidade gerou profundos conflitos afetivo-sexuais em inumeráveis religiosos, os quais continuam ocorrendo até os dias atuais, gerando, nos casos mais drásticos, pelo menos segundo alguns especialistas, tristes acontecimentos como pedofilia, abusos sexuais, entre outros.

                Realmente, os traumas na área sexual são tão intensos que os diversos tipos de preconceitos focados na questão sexual são dos mais discriminatórios e cruéis de nossa sociedade. Prostitutas e homossexuais são, sobretudo dentro do contexto da tradição judaico-cristã, tratados de forma muito pouco fraterna até os dias de hoje. É interessante e ao mesmo tempo triste constatar que quando desejamos ofender alguma pessoa, normalmente acusamos os homens de serem homossexuais ou maridos traídos e as mulheres de serem prostitutas. Obviamente, as ofensas são mais sentidas quando direcionadas a seres queridos como é o caso das mães, o que motivou, infelizmente, a elaboração dos mais divulgados “palavrões” de nossa sociedade. Isso explica, pelo menos em parte, a chocante constatação de que a maioria dos homens de nossa sociedade é mais ofendida quando é acusada de ser homossexual do que de ser assassino ou ladrão.

                Essa espécie de “ódio sexual” decorre, basicamente, da nossa pouca elevação ao trabalhar as bagagens instintivas que trazemos de nossa estada em etapas primitivas do reino animal, onde a energia sexual era um ponto decisivo na formação dos grupos e na determinação da hierarquia dos mesmos.

                Neste contexto, vale registrar que a tendência homossexual em si mesma não representa qualquer tipo de queda espiritual, uma vez que o espírito imortal percorre incontáveis reencarnações, podendo alternar o sexo dos corpos utilizados. Assim sendo, as tendências sexuais em níveis variados constituem uma característica inerente ao processo reencarnatório. De qualquer maneira, tal como ocorre com a heterossexualidade, a homossexualidade requer muita vigilância para não ser “motivo de escândalos” ao seu portador, tendo-se em vista o comportamento sexólatra generalizado em nossa sociedade.

    Como todo comportamento, o sexo é antes de tudo uma atitude mental. Desta forma, a partir das contínuas experiências reencarnatórias, o espírito adquire hábitos sexuais que se tornam marcas muito arraigadas em sua personalidade. Desta forma, após trilhar incontáveis experiências no reino animal, o espírito chega à condição hominal com condicionamentos profundos na área sexual, independentemente da vestimenta física que carregue em uma reencarnação específica.
               
              Logo, fatores como educação familiar deficiente; ausência de elevado nível de educação religiosa para orientação sexual sólida (que é fruto da orientação moral de uma forma geral) e isenta de preconceitos; influência de amigos sem maiores recursos ético-morais, sobretudo na área sexual (já que na adolescência, fase decisiva para a formação do comportamento sexual do indivíduo, o jovem deseja ser aceito pelo grupo e desenvolve uma gama de atividades, na maioria das vezes, vinculado a uma turma de amigos); excessivo apelo sexual em todos os meios de comunicação; influência de entidades espirituais infelizes, entre outros, favorecem um tipo de “sexualização” do comportamento de nossas crianças e jovens de maneira extremamente precoce, em uma fase em que o indivíduo ainda está formando seus valores pessoais na nova reencarnação. Desta maneira, muitas vezes verdadeiras crianças já são sexualmente ativas e muitas vezes promíscuas antes mesmo de ter a mínima condição para administrar suas vidas. Consequentemente, grande número de adolescentes e até mesmo pré-adolescentes recém-saídas da puberdade enfrentam a chamada “gravidez indesejada”, iniciando processos reencarnatórios irresponsáveis que afetam vários indivíduos. Isso quando permitem que tais reencarnantes nasçam, o que, indiscutivelmente, já apresenta significativo mérito, pois, em vários casos, as jovens mães optam pela lamentável alternativa do aborto.
             
              Por outro lado, vale adir que em nossa sociedade, carente de valores morais, nós saímos de uma terrível homofobia para um comportamento misto, onde determinados núcleos aceitam e até estimulam a homossexualidade e outros centros continuam apresentando quase que um verdadeiro ódio ao homossexual.
      
             Ora, nosso corpo físico constitui uma ferramenta fundamental à nossa encarnação e, como espíritas, sabemos que “o acaso não existe”. Desta forma, nós não podemos acreditar que reencarnamos no sexo errado, assim como seria ilógico acreditar que reencarnamos na família errada ou em uma situação sócio-econômica equivocada e assim por diante. Desta forma, a atitude natural dos pais seria fomentar, antes de tudo, uma formação ético-moral-religiosa sólida para todas as crianças, e, em um segundo momento,  favorecer, em princípio, a formação heterossexual das crianças e jovens, uma vez que o corpo que Deus nos concedeu tem uma função específica atrelada ao sexo em questão. Obviamente, há espíritos que trazem marcas profundas do sexo oposto em sua organização psicológica e são aqueles que, até certo ponto pertinentemente, afirmam que “não escolheram sua orientação sexual, mas já nasceram assim”. Por outro lado, em muitas famílias, crianças e jovens com conflitos sexuais muito sutis, inclusive explicáveis dentro do contexto dos conflitos naturais da idade, os quais seriam perfeitamente contornáveis com o apoio familiar e a orientação espírita, recebem um inexplicável estímulo ao comportamento homossexual. Algumas vezes são, inclusive, estimulados nessa escolha por psicólogos e educadores, em uma atitude de conseqüências lastimáveis do ponto de vista espiritual. São aqueles que muitas vezes sem nenhuma marca mais efetiva do sexo oposto “fazem a opção homossexual”. Ora, a homossexualidade não deveria ser uma opção como a escolha de um curso no vestibular ou de um modelo de carro na concessionária porque, em princípio, a escolha natural deve ser aquela correspondente à própria constituição física do indivíduo.
   
             Certamente, adversários espirituais podem astutamente aproveitar desse descuido de pais e de educadores e psicólogos vinculados a teorias materialistas para acentuar perturbações mínimas a ponto de engendrar profundas problemáticas sexuais. Os obsessores, obviamente, aproveitam-se da fragilidade espiritual das futuras vítimas, para forjar desequilíbrios que venham a desajustar o reencarnado, já no início da sua jornada, o que pode comprometer toda a reencarnação do indivíduo, que, em princípio, poderia nem ser realmente um homossexual.

                Nesse ponto, o apoio espírita é fundamental para que a criança e o jovem tenham a quem recorrer já que em muitos casos o jovem não tem com quem conversar sobre o assunto, pois em sua família não teria abertura para abordar o problema. Nessa área, evangelizadores, dirigentes de mocidade espírita e trabalhadores da casa espírita de uma forma geral têm uma grande responsabilidade no que se refere ao auxílio fraterno a esses irmãos.

                Sobre a chamada “obsessão sexual”, podemos citar o excelente livro de Manoel Philomeno de Miranda pela mediunidade de Divaldo Pereira Franco intitulado “Sexo e Obsessão” bem como “Sexo e Destino”, “No Mundo Maior” e outros da lavra de André Luiz pelo médium Francisco Cândido Xavier como valiosas fontes de informações concernentes a um quadro de verdadeira “pandemia obsessiva” na área sexual que viceja em nossa sociedade. Logicamente, como acontece com todo processo obsessivo, a obsessão sexual tem nos desequilíbrios sexuais da própria criatura a antena psíquica para captar mensagens afins a essas tendências. Isto implica que esse quadro real de influenciação de maneira nenhuma nos exime de nossas responsabilidades, pois tais contatos estão alicerçados em nossos próprios desejos e fixações conscientes e subliminares.

       Se levarmos em consideração as informações obtidas através dos médiuns mais confiáveis sobre reencarnações de personalidades conhecidas, chegaremos à conclusão que a repetição de um mesmo sexo é o mais fenômeno mais comum.  Emmanuel, Yvonne Pereira, Francisco de Assis, Allan Kardec, Chopin, Joanna de Ângelis, Napoleão Bonaparte, entre outros, teriam reencarnado em várias ocasiões em um mesmo sexo. O próprio Dr. Hernani Guimarães Andrade, afirmando que “o sexo é uma das áreas do comportamento humano que mais imprime caráter no ser humano”, chega a concluir que a reencarnação é fator decisivo para a ocorrência do comportamento homossexual, quando o indivíduo que psiquicamente construiu uma trajetória em um sexo se reencarna no sexo oposto. Sendo o sexo uma atitude mental, uma sequência reencarnatória significativa em um mesmo sexo formataria uma série de fixações psicológicas difíceis de serem modificadas somente através de uma única experiência reencarnatória, quando da definição do sexo do novo corpo durante o planejamento reencarnatório.

         Ora, a não ser em casos mais graves, em que tal medida fosse, por motivo de força maior, algo realmente imprescindível, as sucessivas e constantes inversões sexuais causariam profunda perturbação espiritual. Se “Deus é amor”, “é a inteligência suprema...” e “não dá fardos pesados a ombros frágeis”, não promoveria uma transição tão brusca nessa área se isso não fosse, de fato, extremamente necessário. De fato, o objetivo da reencarnação é a educação do espírito e essa é premissa básica de todo tipo de planejamento reencarnatório. Obviamente, a escolha do sexo é um ponto capital nesse planejamento, pois afeta diretamente os tipos de atividade assim como os laços de relacionamento que serão desenvolvidos e/ou retomados.

Assim, a inversão sexual mais brusca deve ocorrer somente quando seja estritamente necessária e/ou quando não causar maior trauma nos espíritos em questão. André Luiz elucida essa questão em “Ação e Reação” ao relatar os esclarecimentos de Assistente Silas (capítulo 15), que assevera que a inversão sexual ocorreria em casos de missão e em casos de expiação, que sejam referentes especificamente a quedas na área sexual.

Se considerarmos a experiência do Dr. Hernani Guimarães Andrade em estudos de reencarnação, poderíamos acrescentar os casos onde o espírito não apresenta um comportamento sexual tão polarizado em um dos sexos. Neste caso, a inversão poderia causar um impacto muito menor, ou seja, muito menos conflitos e traumas. Esse perfil psicológico seria, sob certo aspecto, semelhante à inversão sexual motivada por grandes missões espirituais aqui na crosta, pois seria, por diferentes motivos, mais facilmente administrável pelo próprio reencarnante. Na missão, essa inversão não prejudicaria, e, pelo contrário, beneficiaria o missionário, pois fora de uma condição mais condizente com seu psiquismo, a obra seria protegida de perigos desnecessários, sem perturbar o missionário em função de sua evolução espiritual nessa área. Nos casos de ausência de maiores marcas de caráter sexual, apesar do espírito não apresentar tamanha evolução, ele se adaptaria com certa facilidade tanto a um pólo sexual quanto ao outro.

  O fato do sexo ser, antes de tudo uma atitude mental, explicaria, em concordância com elucidações do mentor André Luiz em Evolução em Dois Mundos, o fato de espíritos de homossexuais poderem mudar suas respectivas formas perispirituais com o passar do tempo, após a chegada ao mundo espiritual. Entretanto, como existem diferentes vertentes de comportamento homossexual, é plausível supor que tal processo seja mais comum nos chamados “transexuais” do que em outros tipos de homossexuais, uma vez que os “transexuais”, poderiam apresentar, em princípio, um quadro psicológico que corresponderia de maneira mais contundente à inversão da forma sexual, isto é, a uma nova morfologia corporal.
           
         De fato, o aprendizado referente às qualidades do sexo oposto poderia, pelo menos, até certa extensão, ser apreendido sem a necessidade absoluta de reencarnação no outro sexo. Tal propósito poderia ser assimilado, mesmo que parcialmente, através de uma atitude evangélica e lúcida de aproveitamento das oportunidades evolutivas tanto do ponto de vista intelectual como sob a perspectiva moral. De fato, as necessidades atuais da sociedade têm proporcionado e estimulado o aprendizado de uma gama de atividades que tradicionalmente pertenciam ao chamado “sexo oposto”. Essa realidade tem repercutido positivamente em uma relação de maior fraternidade e menos preconceito entre homens e mulheres.

                Joanna de Ângelis analisa em “Jesus à luz da psicologia profunda” a personalidade no nosso maior mestre, modelo e guia, Jesus de Nazaré. Nesta obra, a mentora espiritual ressalta que o mestre oscilava com perfeição e harmonia entre as qualidades masculinas e femininas, de acordo com cada situação, uma vez que, como espírito puro, o Mestre já possuía em nível de excelência ambos os grupos de qualidades. Ele não precisava ser fisicamente uma mulher para demonstrar a ternura materna em sua mais elevada expressão assim como exibia o comportamento que tipifica o amor mais característico dos pais em outras situações. Portanto, que o exemplo de Jesus seja uma constante em nossas vidas como meta a ser seguida, inclusive em relação ao profundo respeito e amor que devemos ao sexo propriamente dito e a todos os irmãos, independentemente de seus hábitos sexuais de quaisquer espécies.

Leonardo Marmo Moreira

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