Não
há nenhuma controvérsia dentro do meio espírita a respeito do aborto, que é
tido como grave delito em relação às Leis Divinas em todas as obras que são
consideradas, de fato, referências doutrinárias. Personalidades espíritas como
Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, J. Raul Teixeira, Emmanuel, André Luiz,
Marlene Nobre, entre outras, são unânimes em considerar tal procedimento um
terrível crime contra as Leis de Deus.
Especificamente
sobre o aborto, diferentemente do que acontece com os métodos anticoncepcionais
propriamente ditos, não há nenhuma polêmica envolvendo tal questão entre a
grande maioria das religiões, pelo menos no que se refere à consideração de tal
posicionamento um grave delito em relação às Leis de Deus. Vale registrar que tal concordância é uma
raridade no que se refere ao estudo de religiões comparadas.
As
controvérsias sobre o aborto, que ocorrem frequentemente entre materialistas,
acontecem justamente porque tais indivíduos desconhecem que o momento decisivo
da ligação do Espírito ao corpo físico é o chamado momento da concepção, também
denominado fertilização ou fecundação. Portanto, qualquer interrupção
intencional do desenvolvimento embrionário representa a eliminação de uma vida
humana efetivamente constituída, o que obviamente não consiste em uma atitude
moralmente aceitável.
Dentro
deste contexto, os chamados dispositivo intra-uterino (DIU) e “pílula do dia
seguinte” são considerados pela doutrina espírita como métodos abortivos, pois
agem posteriormente à concepção.
Por outro
lado, o uso da camisa de Vênus ou camisinha, por exemplo, não representa ação
abortiva, pois se trata de um procedimento que impede a formação da célula-ovo
ou zigoto, ou seja, ocorre antes do momento decisivo da reencarnação, que é a
concepção. O mesmo vale para as pílulas anticoncepcionais normais (que não são
aquelas “do dia seguinte”) e outros métodos. Neste caso, há discordância entre
os diversos posicionamentos religiosos, pois ao contrário da Igreja católica,
por exemplo, o Espíritismo não combate o uso deste tipo de procedimento para o
controle da natalidade. Até porque o combate sistemático à camisinha e a outros
métodos anticoncepcionais acaba fomentando, indiretamente, um maior número de
gestações indesejadas, o que, por conseqüência, tende a gerar um maior número
de abortos.
De qualquer
maneira, isso não significa que o Espiritismo estimule a sexolatria que impera
em nossa sociedade, muito pelo contrário, pois o Espiritismo estabelece que a
educação moral, a qual repercute na educação afetivo-sexual, é uma necessidade
premente do Espírito imortal. O fato de não considerar um crime o uso da
camisinha, tal como o aborto é considerado, não significa que estejamos necessariamente
estimulando a irresponsabilidade sexual. O que ocorre é que o aborto é uma
infração gravíssima do ponto de vista espiritual, o que não corresponde,
necessariamente, à situação espiritual associada ao uso camisinha. Logicamente
que o uso da camisinha e de outros métodos anticoncepcionais (não abortivos;
vale o comentário de certa forma redundante!) devem ser empregados com
racionalidade e responsabilidade, não nos isentando da necessidade da educação
de nossas funções genésicas.
Os
indivíduos que defendem o aborto deveriam acompanhar com mais atenção exames de
ultrassom de gestantes com seis (6) a nove (9) semanas de gravidez, nos quais
muitas vezes já é possível ver o coraçãozinho do bebê batendo fortemente assim
como uma morfologia humana já bem estruturada.
Muitos
afirmam que “a mulher tem o direito de fazer o que quiser com o próprio corpo”,
o que não deixa de ser uma frase bastante discutível, pois dá margem a aceitar
como moralmente correto atitudes como, por exemplo, o uso abusivo de drogas. Entretanto,
mesmo que admitamos tal afirmativa como correta do ponto de vista ético, há outra
questão que jamais deve ser esquecida. De fato, o corpo do neném não faz parte
do corpo da mãe! Isso fica explícito pela ação do sistema imunológico do organismo
materno, o qual reconhece no bebê um corpo estranho, uma espécie de antígeno,
que deve ser combatido se houver possibilidade.
Importante
frisar que, segundo André Luiz, o perispírito desempenha papel decisivo no
desenvolvimento embriológico-fetal, atuando como modelo organizador biológico
(MOB), para utilizar uma expressão bastante empregada por estudiosos da área.
De fato, sem a presença do perispírito e de sua influência através dos centros
vitais (os chamados “chakras”), o desenvolvimento do novo corpo não ocorreria
adequadamente, acontecendo o chamado aborto espontâneo ou natural.
A
própria situação dos ditos anencéfalos não altera quaisquer questões a respeito
do aborto, pois, são seres que necessitam da oportunidade da vivência material
para rearmonizarem suas organizações perispirituais. Ademais, o termo
anencéfalo é uma expressão de significado altamente variável do ponto de vista
biológico, implicando que o nível de desenvolvimento do sistema nervoso central
pode ser bastante diferenciado e devem ser analisados caso a caso para se
identificar o prognóstico em termos de perspectivas cognitivas durante a vida
física. Por conseguinte, o fato de um bebê ser considerado anencéfalo não
justifica de nenhuma maneira a interrupção da gestação.
Talvez
a situação mais dramática em termos de gestação indesejada não seja o neném
anencéfalo e muito menos a gravidez na adolescência, mas a gravidez gerada por
violência sexual. De fato, provavelmente esta situação consista no maior
desafio para suas vítimas. Realmente, não somente a mãe, mas também o neném que
aceita reencarnar nessa situação dolorosa são Espíritos submetidos a uma
provação terrível (a qual pode ser em muitos casos uma expiação propriamente
considerada). A única observação que nos cabe dentro deste contexto é que, como
diz Jesus, “o que é da carne é carne e o que é do Espírito é Espírito”, o que
significa que a origem espiritual do bebê não tem relação direta com a evolução
espiritual dos pais ou mesmo com a maneira pela qual ele foi concebido. Além
disso, matar o bebê é punir um inocente do crime de outro indivíduo. É claro
que são situações terríveis que somente um esforço hercúleo do ponto de vista
espiritual pode fazer com que os envolvidos consigam passar ilesos do ponto de
vista espiritual. Em todo o caso, vale sempre o conhecimento espírita sobre a
Lei da Causa e Efeito e da Reencarnação para orientar o uso do nosso
livre-arbítrio, de maneira que saibamos minimamente proceder nas diversas
situações da vida para tentar quitar débitos antigos e não adquirir novos,
buscando, se possível, algum crédito adicional no bem novo que estivermos nos
esforçando para desenvolver.
“Se
não podeis ainda com as coisas mínimas porque estais ansiosos pelas outras”,
disse Jesus. Tal observação deve estar bem nítida na mente de todos nós para
que rejeitemos quaisquer processos associados a ações abortivas, abraçando a
paternidade e a maternidade como missões das mais belas que Deus pode nos
conceder. Mesmo que determinada Lei
humana considere o aborto uma atitude legal, ele sempre será um comportamento
imoral, porque está em oposição às Leis de Amor que regem o Universo.
De qualquer
maneira, se eventualmente algum de nós já cometeu tal ato, não cabe desespero e
nem auto-punição. A solução para soluções deste jaez sempre passa pelo esforço
adicional nos trabalhos do bem, cumprindo rigorosamente os novos deveres e, se
possível, superando o nível de cumprimento do dever e atingindo a abnegação,
também chamada renúncia. Este patamar espiritual só é mantido com muita disciplina
e dedicação, situação em que buscamos doar mais de nós mesmos os recursos de
amor e educação que jazem, muitas vezes em estado latente dentro de nós, para
aqueles que carecem de um carinho de pai ou de mãe. As alternativas para
superar possíveis equívocos nessa área são muitas, basta o desejo sincero de
tentar realizar no bem que a Misericórdia Divina virá em nosso socorro para
conseguirmos fazer mais e melhor no campo do Amor ao Próximo.
Leonardo Marmo Moreira
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