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quarta-feira, 27 de junho de 2012

As Especulações Reencarnatórias no Movimento Espírita: Analisando a possibilidade Chico Xavier/Allan Kardec


                Allan Kardec estabeleceu o método da avaliação rigorosa do conteúdo da mensagem, através de análise de sua coerência com relação ao Evangelho, à estrutura doutrinária e à ciência. Essa profunda avaliação da mensagem, apesar de normalmente ser relacionada mais diretamente às obras psicográficas, também é totalmente aplicável às obras de autores encarnados. De qualquer forma, essa análise crítica inicial é sucedida por uma criteriosa avaliação do caráter moral do médium ou do autor encarnado bem como da equipe de trabalhadores que sustenta o trabalho do psicógrafo ou do escritor em questão. Poderíamos incluir neste tópico uma análise da preparação doutrinária do médium/escritor, pois, obviamente, um Espírita mais preparado doutrinariamente tende a ser mais autocrítico e educado mediunicamente. Por fim, em se tratando de trabalho mediúnico, analisa-se o nome do pressuposto autor espiritual da mensagem psicográfica. Se o nome em questão corresponder à figura conhecida, faz-se necessário comparar a obra do autor, enquanto Espírito desencarnado, com sua obra produzida como escritor encarnado. Semelhantemente, se um mesmo nome aparece através de obras produzidas por diferentes médiuns, faz-se necessário uma comparação de conteúdo e de forma, dos textos psicografados pelos diferentes instrumentos, a fim de confirmarmos se realmente se trata do mesmo Espírito.

           Obviamente, a influência anímica de diferentes instrumentos mediúnicos bem como o período passado no mundo espiritual pode influenciar o estilo do texto, mas essa influência não deve ser algo que descaracterize as peculiaridades do autor espiritual, pois, se assim ocorrer, mais interessante seria que esse Espírito utilizasse outro nome, ou seja, um pseudônimo diferente para os diferentes médiuns, sob pena de denegrir a imagem da mediunidade e do próprio Espiritismo em função da clara distinção entre os artigos produzidos.

            A aprovação em relação a essa avaliação prévia, no entanto, não torna a mensagem necessariamente uma verdade doutrinária, mas, sim, uma mensagem que, a priori, tem conteúdo para ser considerada em estudos subsequentes mais profundos e amplos do ponto de vista doutrinário.  A partir dessa seleção prévia, uma série de estudos muito consistentes tem que ser desenvolvida para que o conteúdo da mensagem em questão possa, ao longo de um intervalo de tempo mais ou menos longo, ser considerado parte integrante da Doutrina Espírita.
                
              Em primeiro lugar, para que a análise do conteúdo da mensagem seja do mais alto rigor doutrinário, é necessário que quem a faça possua profunda base doutrinária, incluindo aí conhecimentos evangélicos e científicos para que não seja enganado pelas mensagens oriundas de Espíritos pseudo-sábios. Em segundo lugar, a análise do caráter moral do médium e a sua preparação doutrinária bem como a moral e o nível doutrinário de todo o seu grupo espírita também fornece importante respaldo à análise do conteúdo da mensagem. Este fato é importante, pois grupos constituídos por indivíduos afins podem corroborar-se mutuamente, sendo que a unanimidade dentro de um único grupo ou de pequeno número de grupos espíritas de maneira nenhuma é indicação de elevado conteúdo doutrinário. Neste caso, a submissão de um determinado artigo ou livro a grupos espíritas conscientes de diferentes núcleos e localidades, funcionaria como uma segunda etapa para testar eventuais equívocos. Essa submissão voluntária às críticas doutrinárias é fundamental para que nós espíritas não façamos “obra pessoal”, mas contribuições à Doutrina Espírita e ao Movimento Espírita, que devem ser, obviamente, o objetivo dos trabalhadores espiritistas. É evidente que a opinião dos demais grupos pode estar equivocada e, por essa razão, é fundamental avaliar de onde provêm as críticas e, principalmente, a consistência ou inconsistência dos argumentos inseridos nestas análises. Mais uma vez, voltamos à questão do preparo de quem analisa e também da bagagem doutrinária de quem avalia essa análise. De qualquer maneira, muitas vezes o que impede a aceitação de uma determinada crítica não é exatamente a ausência de preparação doutrinária, mas a vaidade do autor da obra, o que acaba ressaltando, mais uma vez, a análise do caráter moral do referido autor.
                
                Em se tratando de realidades espirituais, tais como dia-a-dia no mundo espiritual, avanços científicos obtidos por pesquisadores desencarnados, mecanismos de ação mediúnica, níveis de manifestação perispiritual e reencarnações passadas de personalidades famosas, entre outras, esse rigor analítico torna-se ainda maior, pois é extremamente difícil para os pesquisadores encarnados chegarem a conclusões definitivas sobre todas essas complexas questões espirituais. Desta forma, além de todas as etapas supracitadas de estudo pormenorizado, o extraordinário Codificador do Espiritismo estabeleceu como critério o “Caráter Universal do Ensino dos Espíritos”, sendo que tal critério somente seria discutido nas mensagens que fossem previamente aprovadas na seleção inicial individual do conteúdo da mensagem.

                Portanto, a análise primordial individual do conteúdo seria uma primeira análise qualitativa, que, em se tratando de aprovação, candidataria a referida obra à classificação de “conteúdo doutrinário”, se validada pela segunda análise, ou seja, o respaldo “Universal do Ensino dos Espíritos”.

           Dentro deste contexto, um assunto extremamente difícil é a determinação de reencarnações passadas. De fato, a conclusão definitiva de que duas personalidades correspondem a um mesmo Espírito é algo de difícil comprovação para pesquisadores encarnados. Os trabalhos de Ian Stevenson, de Banerjee e de Hernani Guimarães Andrade são exemplos de tarefas extraordinariamente bem desenvolvidas nesse sentido, pois a partir de evidências que sugeriam reencarnações, foram feitos estudos detalhados sobre tais hipóteses. Nestes casos, analisou-se o efeito (lembranças, marcas de nascença, conhecimento de idiomas estrangeiros, personalidades muito peculiares etc.), procurando-se, a partir daí, remontar às possíveis causas, que poderiam ou não estar associadas diretamente a reencarnações passadas.

   No entanto, em se tratando de figuras proemientes da história da humanidade, a curiosidade reencarnatória torna-se extremamente aguçada. Ao contrário do caminho natural de deixarmos o fenômeno ocorrer espontaneamente para avaliarmos suas eventuais causas materiais e espirituais, costumamos fazer justamente o contrário, ou seja, começamos a especular, por conta própria, sobre as possibilidades de encarnação anterior de pessoas importantes da história e/ou do Espiritismo. Assim, não respeitamos a sábia informação de Chico Xavier de que “o telefone toca de lá para cá” em matéria de assuntos espirituais e começamos consciente e inconscientemente a “telefonar” para o lado de lá ou mesmo a “telefonar” para o nosso próprio inconsciente, esperando que nossas curiosidades sejam atendidas.

     Evidentemente, toda curiosidade, em matéria que tenha alguma utilidade mínima, tem grande valia em nossa busca constante pelo conhecimento intelectual. Todavia, os “freios morais e racionais” devem estar muito atentos e atuantes, pois sem esse tipo de escrúpulo, podemos cometer graves erros. O professor Herculano Pires comenta a célebre frase “evoque uma pedra e ela responderá”, pois qualquer Espírito pode manifestar e utilizar de qualquer nome famoso e respeitável, trazendo uma pressuposta revelação, independentemente da veracidade dessa informação e da condição moral deste Espírito.
         
               Dentro deste contexto preliminar, a famigerada hipótese Chico Xavier/Allan Kardec suscita várias reflexões. Em primeiro lugar, é uma polêmica complexa como todas as polêmicas ditas reencarnatórias, justamente pela dificuldade de se obter uma certeza na conclusão. Considerando essa dificuldade inicial e sem querer limitar a uso da curiosidade científica, nós, espíritas, deveríamos ter algum critério ao fomentar hipóteses deste tipo no meio doutrinário, a fim de saber se elas são verdadeiramente úteis ao desenvolvimento doutrinário bem como ao movimento espírita. Discutir o “sexo dos anjos” sem termos a possibilidade de obter uma resposta cabal para satisfazer a gregos e troianos pode ser um subterfúgio para não focalizarmos os assuntos verdadeiramente relevantes e passíveis de conclusões doutrinárias definitivas, que são muito mais prioritários para nós a curto e médio prazos. Obviamente, o estudo, a discussão e até mesmo a polêmica são perfeitamente válidos em nossa busca pela Verdade à luz da Fé Raciocinada, mas nem todas as proposições são igualmente contribuintes para os nossos crescimentos moral e intelectual. Como diria o Apóstolo Paulo: “Tudo me é lícito, nem tudo me convém”.
           
              O notável orador e médium espírita José Raul Teixeira afirma que nós espíritas adoramos questões extremamente complexas e distantes da nossa realidade imediata, justamente porque tais discussões não nos comprometem, ou seja, não nos sensibilizam para uma mudança de comportamento para melhor, a fim de que nossa reforma íntima seja implementada com maior urgência e esforço no campo do bem.
         
             Em todo caso, admitindo o valor de toda curiosidade sadia e de todo estudo que possa trazer algum avanço intelectual mínimo, é lícito avaliar as possibilidades a respeito de estudos reencarnatórios, pois, obviamente, a reencarnação é tópico altamente relevante em matéria de Espiritismo. Assim sendo, sem ousar dar uma conclusão cabal a essa hipótese, podemos, em um estudo preliminar, refletir criticamente se tal proposição é minimamente plausível. Portanto, avaliemos alguns tópicos.
       
           Chico Xavier era profundamente religioso mantendo traços que denotavam profunda marca espiritual do catolicismo. Referia-se a Jesus com muita frequencia como "Nosso Senhor Jesus Cristo", mantinha uma imagem de Nossa Senhora em seu quarto e pediu para tocarem a música "Nossa Senhora" de Roberto Carlos no seu velório. Tais características pessoais parecem bem distintas da atitude sóbria de Allan Kardec em relação a assuntos religiosos.
  
              Ainda sobre a atitude religiosa de ambos, vale lembrar que Allan Kardec teria sido Jan Huss, reitor da Universidade de Praga e precursor da Reforma Protestante, morrendo queimado por ser um erudito crítico das pregações e políticas da Igreja Católica. Apesar de admitir os diferentes contextos e meios de cada encarnação, não seriam mudanças de personalidades muito drásticas para um mesmo Espírito? Se forem mudanças realmente muito drásticas, qual seria a proposta correta? Ou as duas estariam erradas?!

            Emmanuel, mentor espiritual de Chico Xavier, apresenta apenas uma única mensagem na codificação (O Evangelho Segundo o Espiritismo). Não seria muito pouco para o guia espiritual de Allan Kardec, assumindo-se que se trata do mesmo Espírito (Chico Xavier/Allan Kardec)?

                Chico Xavier, muito provavelmente, é o maior médium da história, tanto se analisarmos sua polivalência mediúnica como se analisarmos a obra oriunda dessa potencialidade. Quando nos referimos à sua obra, não estamos restringindo a análise aos seus mais de 420 livros publicados, mas igualmente ao mérito do exemplo moral e da divulgação doutrinária que ele desenvolveu. Vale lembrar Emmanuel no livro “Roteiro”, quando afirma peremptoriamente: “Não há bom médium sem homem bom”. Ora, segundo Bezerra de Menezes, conforme a excepcional obra de Dona Yvonne Pereira “Recordações da Mediunidade”, os médiuns mais ostensivos e preparados para as tarefas mais relevantes no campo da espiritualidade normalmente são aqueles que manifestam desde a primeira infância tal aptidão, pois já foram preparados para tal tarefa. Tal observação sugere que Chico Xavier já teria “treinado” sua mediunidade, sobretudo sua psicografia, em etapas anteriores. De fato, um médium notável como Chico Xavier não poderia ser improvisado pela espiritualidade. Como Allan Kardec não era propriamente um médium ostensivo, será que ele desenvolveu toda a sua preparação para atuar como médium ostensivo na erraticidade, sem um teste efetivo na esfera carnal onde atuaria em tarefa importantíssima por quase um século?! Muitos argumentarão que o Codificador teria capacidade para uma mudança de tarefa de tal magnitude, mas, de qualquer forma, é algo surpreendente a alteração drástica nos estilos de trabalho desenvolvidos nas duas reencarnações. Em “Obras Póstumas”, os mentores espirituais esclarecem Allan Kardec, na mensagem intitulada “Meu Sucessor”, que o sucessor do Codificador, que para o Professor Herculano Pires se trata de Léon Denis, tem aptidões diferentes das dele, Allan Kardec, porque as duas missões seriam bem distintas quanto às exigências de habilidades espirituais.

 Alguns confrades espíritas, tais como Arnaldo Rocha, afirmam que Chico Xavier teria confidenciado ter sido Ruth Celine Japhet em sua última encarnação. Sem entrarmos em uma análise mais profunda sobre essa proposta, poderíamos dizer que, a priori, tal possibilidade seria, sob o aspecto do tipo de tarefa, mais plausível, pois Ruth Celine Japhet foi grande médium psicógrafa, tendo sido responsável pela revisão final do texto da primeira edição de “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, cuja estrutura inicial havia sido obtido através das famosas filhas do Senhor Baudin, Julie e Caroline Baudin. Ora, somente um instrumento que fosse de elevadíssima confiança mediúnica poderia desenvolver a tarefa de grande responsabilidade de definir o texto final da primeira edição de “O Livro dos Espíritos”, publicado em 18 de abril de 1857. Chico Xavier, evidentemente, poderia perfeitamente ter sido este instrumento mediúnico em uma encarnação anterior. De qualquer maneira, discussões mais profundas a respeito dessa possibilidade ficam limitadas em função de nossa pouca informação bibliográfica sobre Ruth Celine Japhet.

 A discussão acima nos induz, indiretamente, a uma segunda análise focada sobre o sexo do corpo utilizado por Chico em encarnações anteriores. Chico teria dito que a atual encarnação seria sua primeira encarnação na morfologia masculina em várias experiências. Obviamente, Chico poderia ter usado tal artifício para despistar os “pesquisadores” de plantão, porém, neste complexo quebra-cabeça, não deixa de ser algo digo de menção. Em “Ação e Reação”, Assistente Silas comenta que a chamada “inversão sexual” ocorre pode motivos de expiação ou de grande missão, o que poderia claramente ser o caso de Chico Xavier.

 Por fim, aparentemente, as personalidades de Chico Xavier e de Allan Kardec seriam significativamente distintas, o que pode ser devido à influência do meio e das especificidades das respectivas tarefas, mas, talvez, as diferentes peculiaridades de cada um sejam demasiadamente representativas para considerá-los um mesmo Espírito.

Admitindo, uma vez mais, que Chico Xavier e Allan Kardec se tratem do mesmo Espírito. Por que subitamente essa informação tornou-se um ponto de honra por parte dos defensores desta tese? Por que somente após a morte de Chico Xavier, quando o próprio não poderia mais desmentir ou confirmar a hipótese, os defensores desta tese passaram a se manifestar publicamente de forma tão ardorosa para defender tal idéia? Por que lutar tão apaixonadamente por essa proposição? A defesa da proposta feita à exaustão, ora pelos Espíritos autores da revelação, ora pelos médiuns dessas comunicações, deixa-nos perplexos! Por que isso é tão importante? Em vários livros de diferentes autores espirituais esse tema volta à baila! Ora, tal hipótese poderia ser aventada em uma ou duas obras e submetidas, como tudo o que vem do mundo espiritual, à análise de todos os Espíritas para que, com o passar do tempo, uma análise criteriosa fosse efetuada, conforme nos ensina Allan Kardec. Além da eventual fascinação, não devemos desprezar a possibilidade de significativa manifestação anímica e, neste caso, de caráter auto-obsessivo. De fato, não sabemos a diferença de opinião do médium e dos Espíritos, em função de defenderem exasperada e semelhantemente a mesma idéia por todos os meios de divulgação disponíveis.

Em uma palestra denominada “Encontro com Dirigentes”, Divaldo Franco diz que certa vez Joanna de Ângelis recomendou que ele não tentasse defender os autores espirituais que se manifestassem pelo intermédio dele, Divaldo (incluindo ela, Joanna de Ângelis).

Realmente, tamanho envolvimento emocional, chegando a níveis passionais, pode influenciar a “filtração mediúnica” do psicógrafo, facilitando a manifestação anímica. Qual proposta é originada da mente do médium e qual idéia surgiu da mente do Espírito? É interessante notar que, apesar de viverem e trabalharem em bela sintonia com seus protetores espirituais, Chico, Yvonne e Divaldo permitem que identifiquemos minimamente a diferença entre suas personalidades e a dos Espíritos que se manifestam ou manifestaram pelas suas respectivas mediunidades.

No presente estudo, vale citar obras recentemente publicadas atribuídas ao próprio Chico Xavier/Espírito, em que o autor espiritual sugere ser Allan Kardec. Ora, Chico Xavier sempre manteve profunda discrição quanto à verdadeira identidade de André Luiz, tanto que até hoje tem sido debatido sobre quem realmente seria esse Espírito. Por que motivo fomentaria uma discussão, após desencarnado, baseada na idéia dele próprio Chico Xavier ser Allan Kardec? Se fosse para registrar isso, não seria mais conveniente comunicar tal informação enquanto encarnado, pois, concordando ou não, saberíamos com certeza ser ele o portador do comunicado?

Na obra "O Gênio Céltico e o Mundo Invisível" de Léon Denis (1926), último livro publicado pelo Apóstolo do Espiritismo, 13 mensagens atribuídas a Allan Kardec são publicadas na porção final do livro. Não seria interessante interrogar Chico Xavier/Espírito sobre o mecanismo pelo qual tais mensagens foram obtidas, uma vez admitindo-se a premissa que Chico e Kardec são o mesmo Espírito?! O motivo da questão é que Chico Xavier nasceu em 1910 e na época do recebimento dessas mensagens seria um adolescente. Ele teria desdobrado e tomado a personalidade de Kardec? Isto teria sido um fenômeno consciente ou inconsciente? Desde essa época ele já sabia ser Kardec? Ou ele teria deixado, antes de reencarnar, as mensagens para que outro Espírito as “trouxesse” à Crosta terrestre no momento adequado. Obviamente, isso não seria impossível, mas seria algo no mínimo inusitado. Considerando tal possibilidade, seria uma questão bastante interessante para submetermos a Chico Xavier/Espírito (admitindo que ele estivesse se comunicando mediunicamente) visando ao nosso aprofundamento doutrinário em matéria de mediunidade e de ação espiritual. Nesta mesma linha de raciocínio, devemos considerar a mensagem de Allan Kardec psicografada na reunião do Conselho Federativo Nacional, por ocasião da mudança da sede da FEB para Brasília. O médium foi Júlio César Grandi Ribeiro.
      
       Na obra intitulada “Chico Xavier Responde”, por exemplo, Chico Xavier/Espírito admite a possibilidade de abortarem-se embriões que fossem portadores de problemas graves como a chamada “anencefalia”. Tal atitude é terminantemente uma postura contrária à Doutrina Espírita. Somente a título de ilustração, vale lembrar que no livro "Ação e Reação", psicografado por Chico Xavier, o Assistente Silas é radicalmente contra o aborto, classificando tal ato simplesmente como "Crime". Chico Xavier estaria entrando em contradição com sua obra mediúnica?! Tal comentário poderia ser oriundo de uma figura tão amorosa como Chico que sempre combateu o aborto?! Analisando outras questões da obra, é evidente que as respostas atribuídas a Chico Xavier realmente não correspondem aos níveis de acuidade e profundidade intelectuais de Chico Xavier e de Allan Kardec. Vale frisar, de nenhum dos dois, independentemente da "possibilidade” de tais personalidades serem o mesmo Espírito. Se forem o mesmo Espírito, provavelmente não se trata do Espírito que responde às perguntas desta obra. A capacidade de trabalho e a intensidade hercúlea de aproveitamento das horas em tarefas úteis constituem algumas das mais impressionantes peculiaridades de Chico Xavier. No entanto, é perfeitamente admissível que ele pudesse visitar com objetivos meramente afetivos um amigo médium, mantendo com ele um diálogo simples, pois este tipo de atitude está inserido dentro do contexto da caridade, que sempre foi praticada exaustivamente por Chico Xavier. Por outro lado, é difícil conceber Chico Xavier mantendo um diálogo de certa forma superficial e extenso com o objetivo de enfeixar o respectivo conteúdo em um livro.
  
              Vale lembrar que Chico, Divaldo e Raul queimaram malas de mensagens psicográficas assim como a própria Dona Yvonne Pereira não publicou tudo o que psicografou. Admitindo que o contato mediúnico seja legítimo e que o Espírito em questão seja realmente Chico Xavier, esse texto deveria ser publicado? Finalmente, o texto de “Chico Xavier Responde” sugere que todos ou pelo menos a grande maioria dos fenômenos ditos mediúnicos tem predominância anímica, minando a credibilidade das obras mediúnicas do Espiritismo. O próprio Divaldo Franco afirma que médiuns bem desenvolvidos em tarefa de elaboração de conteúdo didático para o movimento, apresentam uma participação diminuta em sua contribuição anímica em relação ao fenômeno psicográfico. A predominância do animismo pode ser comum para a maioria dos médiuns em geral, mas não para médiuns que tenham tarefas de ampliação de nossas fontes verdadeiramente doutrinárias como é o caso de Chico Xavier, Divaldo Franco, Yvonne Pereira, entre outros.

 “É preferível negar 10 verdades a aceitar uma única mentira”, nos ensina Erasto em “O Livro dos Médiuns”, pois a Verdade mais cedo ou mais tarde se estabelece definitivamente e uma mentira pode gerar correlações e conclusões equivocadas sobre outros assuntos relevantes. Reflitamos e busquemos sincera e humildemente a Verdade.

Leonardo Marmo Moreira

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