As relações ecológicas, incluindo o predatismo,
constituem um dos aspectos mais decisivos para o equilíbrio material do
planeta. Entretanto, tais relações apresentam uma relevância ainda mais dilatada,
se levarmos em consideração os aspectos espirituais desta questão. De fato, as
relações ecológicas possuem um profundo significado em termos de evolução
espiritual para o princípio inteligente na fase Pré-hominal. É muito
interessante notar, que, no reino animal, nem sempre os indivíduos realmente
mais fortes e aptos fisicamente desenvolvem o papel de predador. Além disso, na
disputa entre predadores por território e pelas presas, não necessariamente os
animais mais fortes apresentam um predomínio, que seria de se esperar
analisando simplesmente a força física e as habilidades de luta de cada
espécie. Essa mesma linha de raciocínio também pode ser aplicada às chamadas
“presas”, isto é, os animais predados, pois há um número significativo de casos
em que as espécies fisicamente mais frágeis não constituem, na prática, nos
animais mais facilmente “caçáveis”.
Isto ocorre em função da capacidade de trabalho em equipe
de cada uma das espécies. Realmente, a capacidade de trabalhar sinergicamente
em relação ao grupo é algo decisivo para defender filhotes, confrontar inimigos
muitas vezes maiores e/ou mais bem dotados fisicamente e desenvolver
estratégias não poucas vezes complexas de comunicação e de organização frente a
diversos tipos de perigo. De fato, nem todos os animais conseguem utilizar
eficientemente vantagens táticas como é o caso da superioridade numérica.
Como seria possível a um cão selvagem ou a uma hiena
confrontar individualmente um leão ou um leopardo? A desproporcional diferença
de força física entre esses animais praticamente inviabiliza este tipo de
confronto quando os exemplares de cada espécie se encontram em confronto
individual. Entretanto, quando se trata de famílias, clãs ou grupos, intensos
combates ocorrem, naquilo que poderíamos considerar as origens das batalhas que
diversas vezes testemunhamos nas guerras humanas entre diferentes povos e
países. E, de fato, este tipo de embate muitas vezes apresenta relativo
equilíbrio de forças entre os respectivos grupos rivais. Este fato, que não
deixa de apresentam aspectos surpreendentes, demonstra que a organização
sinérgica como um time é fundamental para o ataque e para a defesa do grupo de
animais. Os canídeos selvagens, por exemplo, formam grupos muito unidos em bem
organizados e, geralmente, atuam de maneira extremamente colaborativa e
inteligente para aproveitarem vantagens, como é o caso da frequente
superioridade numérica.
Suricates trabalham em conjunto para confundir e se
defender de predadores como cobras e águias. No caso das cobras, os suricates
tentam desviar a atenção de predador para que o inimigo não identifique a real
localização da toca dos suricates. Já com relação às aves de rapina, um
complexo sistema de comunicação é acionado para que rapidamente todos se
escondam na própria toca evitando a captura pelo predador através dos vôos
rasantes das referidas aves.
Por outro lado, existem igualmente confrontos entre
grupos de predadores, ou seja, de animais de porte menos discrepante. Este é o
caso, por exemplo, da luta entre leões e búfalos; leões e elefantes, entre
outros.
Neste contexto, vale registrar que animais como as zebras
não apresentam táticas de defesa mais elaboradas, ou seja, não se organizam de
maneira efetiva, do ponto de vista da colaboração mútua, sobretudo quando
submetidos a um ataque de predadores. Em suma, tais animais não lutam em
conjunto, não partindo de forma organizada para tentar rechaçar o ataque. Estes
animais não demonstram agir como uma “equipe de batalha” para confrontarem
felinos ou cães selvagens ou hienas, como acontece como outros animais que se
defendem de forma mais eficaz.
Ora,
a zebra é um animal de grande força física e de elevada inteligência. Portanto,
não saberíamos dizer por que esse tipo de comportamento mais passivo frente aos
predadores é a praxe para esses tipos de animais. Poderíamos especular que se
trata de grupos muito numerosos, tal como ocorre com os gnus, e, obviamente, a
organização e o gerenciamento de grupos tão expressivos numericamente podem se
tornar impraticáveis. Mas, ainda assim, vale questionar o motivo da evolução
ter ratificado tais grupos numerosos se essa organização é mais suscetível do
ataque de predadores. Certamente, há outras vantagens estratégicas mais globais
para a totalidade do grupo que prevalecem em relação a vantagens mais pontuais
para um ou poucos indivíduos. De fato, em animais menos evoluídos do que os
mamíferos, há precedentes para respaldam essa hipótese. Este é o caso das
abelhas, as quais possuem um temido ferrão detentor de substâncias irritantes
para ser inoculado nos inimigos. Acontece que quando tais ferrões são
utilizados como armas de defesa e/ou ataque, o espécime que ferroou o
adversário morre automaticamente. Tal situação é muito sugestiva, pois a
seleção natural deveria ratificar ferramentas que viabilizassem a vida do
animal e não o contrário, ou seja, no momento da defesa, o indivíduo
necessariamente morrer. Segundo estudiosos da questão, tal fato indicaria que o
mais importante neste caso não seria a vida do espécime individualmente, mas de
seu grupo, que no caso seria toda a colméia. Desta forma, a abelha operária,
por exemplo, se sacrificaria pela coletividade. Obviamente, aquilo que se
aplica aos insetos não necessariamente se aplicaria a mamíferos dos mais inteligentes,
como as zebras, mas, pelo menos, serve de parâmetro para reflexões e estudos
futuros mais profundos.
De
qualquer maneira, do ponto de vista da evolução anímica do princípio
espiritual, essas relações ecológicas são muito instrutivas, pois demonstram
que a organização de famílias e clãs bem como o desenvolvimento de estratégias
em conjunto para a defesa do grupo trata-se de aspecto fundamental para a
sobrevivência de toda uma espécie. Certamente, a providência divina utiliza
desses mecanismos muitas vezes penosos, como é o caso do predatismo, para
forjar nos seres espirituais em início de processo evolutivos rudimentos de
inteligência e de amor, assim como de companheirismo e de senso de
solidariedade (ajuda mútua).
Para
nós seres humanos (seres espirituais que atingiriam a condição hominal),
indiscutivelmente, as dificuldades na conquista do “pão material” e a luta
cotidiana da vida requerem muita intelectualidade, inteligência emocional,
senso de trabalho de equipe, paciência, estratégia, resignação, perseverança e
resistência moral frente a frustrações. Por outro lado, essas mesmas lutas
aprimoram esses valores, desenvolvendo-os e desmembrando-os em novas
habilidades e aquisições, ou, em termos evangélicos, em “novos talentos”,
conforme a belíssima Parábola que Jesus nos ensinou.
Todavia,
é interessante notar que, guardadas as devidas proporções e nuances inerentes a
cada estágio evolutivo do princípio espiritual, esse processo já começa de uma
forma bem significativa na passagem do princípio anímico pelo reino animal,
principalmente em se tratando de mamíferos. “O átomo será anjo, assim como o
anjo já foi átomo” nos ensina a Falange do Espírito de Verdade em “O Livro dos
Espíritos”, o que denota que não há descontinuidade em nosso processo
evolutivo.
Leonardo Marmo Moreira
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