A morte consiste na falência biológica do organismo que permite a vida material do Espírito, ou seja, é a interrupção da vigência das condições mínimas exigidas para que o corpo físico desenvolva suas manifestações fisiológicas imprescindíveis à manifestação da vida.
A morte do corpo físico pode ocorrer de forma brusca, quando um acidente físico interrompe a vida orgânica de um indivíduo minimamente saudável, ou de forma lenta e gradual, quando a velhice ou determinada doença vão desgastando, passo a passo, a vitalidade do organismo. Nestes casos, sobretudo quando é dito popularmente que o indivíduo “morreu de velhice” ou simplesmente “morreu de velho”, podemos inferir que ocorreu um esgotamento total do fluido vital que é uma espécie de combustível da vida física. Além disso, o fluido vital tem participação fundamental na constituição do chamado “cordão de prata” ou “cordão prateado”, que é o liame que une o perispírito ao corpo físico desde o momento da concepção até a desencarnação.
Apesar de utilizarmos frequentemente como sinônimos os termos morte e desencarnação, a rigor, estes seriam fenômenos distintos. De fato, em nosso nível evolutivo, é rara a coincidência temporal das durações de ambos os processos. Para Espíritos que, como nós que moramos na Terra, habitam planos de Provas e Expiações, é muito mais freqüente o processo de morte propriamente dita ser concluído muito antes da chamada desencarnação.
A desencarnação seria a desvinculação de quaisquer elos entre o perispírito e o corpo físico. André Luiz e Irmão Jacob discorrem com profundidade sobre o tema em suas obras “Obreiros da Vida Eterna” e “Voltei”, respectivamente. Irmão Jacob chega a afirmar que quando foi “cortado” o chamado “cordão prateado” entre o cadáver e seu perispírito durante o seu velório, o impacto que ele sentiu foi tão intenso que ele achou que “estava morrendo por segunda vez”. Vale adir que, segundo Irmão Jacob (pseudônimo do ex-presidente da Federação Espírita Brasileira, Frederico Figner), após esse processo de rompimento do “cordão prateado”, a deteriorização do cadáver se acentuou significativamente. Em casos de suicídios diretos e indiretos, esse processo é bem mais lento, pois além de ser um atentado grave frente às Leis de Deus, o desencarnante ainda possui excesso de fluido vital, uma vez que está “morrendo” muito antes do previsto. Essa abundância de fluido vital (também conhecido como “ectoplasma”, quando exteriorizado e/ou materializado) fortalece a intensidade de interação entre perispírito e corpo físico, deixando o perispírito ou corpo espiritual excessivamente “materializado”, e dificultando demasiadamente o processo de libertação do Espírito em relação ao cadáver. A diminuição de fluido vital explica, de certa forma, fenômenos comuns a doentes terminais que, apesar de nunca terem sido médiuns ostensivos durante toda sua vida física, começam a terem sonhos verdadeiramente espirituais, vidências claras, intuições mais concretas. Além da proteção espiritual preparatória para a morte, a maior liberdade em termos de desdobramento perispiritual, em função do desligamento lento e gradual do doente, ocorre devido à menor intensidade de interação perispírito/corpo físico associada ao esgotamento dos órgãos fisiológicos e à escassez de fluido vital. Esses processos podem ocorrer com elevada ostensividade no leito de morte, quando, apesar de ainda encarnado, o Espírito desencarnante acentua sua percepção espiritual. André Luiz comenta sobre esse assunto em um capitulo intitulado “Mediunidade no Leito de Morte”, da obra “Nos Domínios da Mediunidade”. Além disso, vários casos de “Experiência de Quasi-Morte (EQM)” relatados por médicos e profissionais da área de saúde totalmente desvinculados do Espiritismo tem corroborado as análises espíritas a respeito destes fenômenos de desenlace quase total do Espírito encarnado.
A própria passagem depuradora pelo Umbral, necessária para muitos de nós, tem relação com o nível de materialidade excessiva de nosso perispírito, em função de excesso de foco mental em questões puramente materiais que muitos indivíduos mantêm durante suas existências materiais. Tal vício mental, associado a outros estados doentios da alma como consciência de culpa, medo, ódio, ressentimento, apego à matéria, entre outros, aumenta o nível de materialidade do perispírito, tornando-o mais “denso”, mais “grosseiro”, deixando-o, por conseqüência, mais próximo ao corpo material em suas necessidades e manifestações. Em função da afinidade espiritual que define as barreiras vibratórias do mundo espiritual, Espíritos de evolução semelhante acabam habitando as mesmas regiões ou regiões de nível espiritual semelhante. Quanto mais materializado for o perispírito, mais complexo, demorado e sofrido tende a ser a elevação de padrão vibratório do Espírito recém-desencarnado. Consequentemente, mais tardio tende a ser a saída desse Espírito de um estado de perturbação espiritual ociosa e contraproducente em uma região umbralina em direção a uma região de trabalho efetivo no bem, como é o caso das colônias espirituais como Nosso Lar, Campo da Paz, entre outras. Essa etapa é conhecida como “socorro ou regaste espiritual”.
Esse “socorro ou resgate espiritual” pode acontecer simultaneamente aos processos de morte e desencarnação, mas essa é uma situação comum a Espíritos que retornam ao Mundo dos Espíritos em boas condições espirituais, o que, infelizmente em nosso mundo, ainda corresponde à minoria das criaturas. Esse socorro espiritual, com posterior encaminhamento para regiões onde o bem é o comportamento predominante livraria o desencarnante de um maior período depurativo em regiões de sofrimento.
Apesar da ajuda espiritual constante que sempre recebemos em quaisquer situações, o “socorro espiritual” somente será efetivamente providenciado e sentido pelo Espírito recém-desencarnado quando ele ascender minimamente do ponto de vista espiritual para ter condições de ser recebido em uma região espiritual de trabalho ativo no campo do bem. Esse tipo de cuidado evita que o Espírito desencarnante seja motivo de problemas para os trabalhadores espirituais e atrapalhe suas funções nas inúmeras tarefas a que se dedicam. Por outro lado, a inserção em uma colônia de um Espírito que ainda se encontra em uma atitude rebelde não será produtiva para esse próprio Espírito, pois ele não dará o devido valor a sua nova condição, uma vez que nem começou a reflexionar sobre os motivos que o teriam levado a uma situação de sofrimento após sua desencarnação.
Obviamente, a eventual passagem pelo Umbral também gera intenso temor. Esse medo costuma ser mais pronunciado em adeptos de religiões ortodoxas que pregam que as referidas regiões de sofrimento no além-túmulo, conhecidas pelo vulgo genericamente como “inferno”, estariam associadas a uma condenação eterna.
Subsequentemente, o desencarnante iniciaria a quarta etapa, que seria um processo mais amplo de adaptação ao mundo espiritual, no qual as evoluções moral e intelectual, com especial destaque para a bondade e o conhecimento associado às questões relacionadas à espiritualidade, seriam fundamentais para o recém-chegado à Erraticidade. Neste estágio, o Espírito começa a trabalhar e estudar com afinco e dedicação, procurando analisar, concomitantemente, os objetivos mais profundos da vida e, principalmente, sua atual condição espiritual. É uma fase importante, pois além de aprender sobre o mundo espiritual e conhecer mais sobre as leis da vida, analisa sua encarnação passada, identificando pontos positivos e negativos da sua trajetória, analisando tarefas desenvolvidas e trabalhos negligenciados. Vale destacar que além da avaliação das tarefas desenvolvidas, é uma fase em que o processo de auto-conhecimento, muitas vezes através de criteriosa auto-crítica, surge ou aprofunda-se, pois a Lei de Deus, que está escrita na consciência da criatura, eclode ainda mais concreta e lúcida do que no momento que envolve a desencarnação. Normalmente, essa fase também está associada aos primeiros contatos com entes queridos no mundo espiritual, mas essa oportunidade está sujeita a uma série de variações dependendo de uma gama de contingências espirituais dos espíritos envolvidos nesse eventual reencontro.
A quinta fase seria uma etapa extremamente interessante, pois corresponde à vida Espiritual do Ser Desencarnado perfeitamente adaptado à sua nova condição. Consciente do seu nível espiritual, incluindo falhas e conquistas, bem como ciente de dívidas espirituais e muitas vezes das condições espirituais de seres queridos. Esse Espírito passa a trabalhar com dedicação, muitas vezes tendo objetivos a curto, médio e longo prazo, envolvendo realizações no bem, conquistas espirituais, reencontros desejados com seres que permanecem encarnados, entre outros. Essa fase pode ser curta ou relativamente longa, dependendo de diversos fatores. De qualquer maneira, o Ser Espiritual compreende cada vez mais que colherá o que plantou na última encarnação ou que esteja plantando no mundo espiritual e, se minimamente maduro e consciente, acentua o esforço e o aproveitamento do tempo para cada vez mais realizar, aprender e ajudar, visando aos desafios do futuro.
Vale lembrar que André Luiz descreve atividades extraordinárias desenvolvidas por 6 ministérios em Nosso Lar: Regeneração, Auxílio, Comunicação, Esclarecimento, Elevação e União Divina. Os quatro primeiro estariam mais vinculados à inter-relação entre Nosso Lar e a Esfera física da Crosta Terrena e os dois últimos conectariam mais efetivamente Nosso Lar a esferas espirituais superiores.
A sexta e última fase seria a preparação para a reencarnação. Essa fase que em significativa parte coexiste com a quinta fase, começa a ganhar contornos mais definidos quando os projetos começam a ser delineados mais concretamente. De fato, na quinta fase, em que pese a consciência de que deverá reencarnar no futuro, essa preocupação ainda não é prioritária, pois o mundo espiritual reserva muitos trabalhos, estudos e oportunidades de crescimento. Quando os projetos da nova experiência carnal passam a ser efetivamente planejados, o regime de urgência na preparação para a próxima experiência física começa a coexistir com as tarefas próprias à vida espiritual.
Em função muito provavelmente dos nossos ancestrais medos de morrer fisicamente e de ir para o “inferno”, sempre nos preocupamos mais com as 3 primeiras etapas (Morte, desencarnação e socorro espiritual). De fato, mesmo a preocupação com o chamado socorro espiritual não é tão difundida, pois depende de um nível de informação nível a respeito da vida após a morte que poucos indivíduos em nossa sociedade detêm. Nós sempre nos preocupamos mais em ter uma “boa morte”, de preferência sem dor e com rápido socorro espiritual, do que realmente com a nossa futura condição espiritual real. André Luiz, por exemplo, teve uma morte difícil e sofrida em um hospital, tendo passado mais de 8 anos no umbral. Entretanto, ainda assim, após sua fase de adaptação à colônia espiritual Nosso Lar, apresentou extraordinário amadurecimento espiritual, tendo sido escolhido em função de suas conquistas para a grande missão de se tornar uma espécie de “repórter do mundo espiritual”, desvelando-nos grandes realidades e permitindo a todos nós espíritas um aprofundamento nos ensinos da Codificação, a nós deixados por Allan Kardec. Portanto, apesar de não ter tido excelentes morte e desencarnação, André Luiz tinha um notável bagagem espiritual, as quais catalisadas por seu esforço e disciplina espiritual permitiram que o nobre autor espiritual proporcionasse uma obra de relevância ímpar para o avanço espiritual do planeta Terra.
Muitas vezes também nos preocupamos com o nível evolutivo da colônia espiritual em que seremos socorridos, o que também não deixa de ser algo secundário, pois, apesar de certo nivelamento, essa homogeneização não é absoluta, implicando que Espíritos de evoluções bem diferenciadas podem habitar uma mesma colônia espiritual, sobretudo nas mais populosas. É comum que Espíritos verdadeiramente missionários como Veneranda (conforme narrado em Nosso Lar) e Bezerra de Menezes abdicarem de habitar esferas superiores para auxiliar-nos em nosso processo evolutivo em nome da prática autêntica do Amor e da Fraternidade. Irmão Jacob, autor da extraordinária obra “Voltei”, é um exemplo de um Espírito que realizou muito enquanto encarnado fazendo jus ao que poderíamos classificar de uma “ótima morte”, uma vez que foi digno de ser socorrido espiritualmente por uma equipe espiritual liderada pelo próprio Dr. Adolfo Bezerra de Menezes. Esse socorro aconteceu durante o processo de morte e desencarnação, minimizando grandemente a perturbação inerente à grande transição, pois foram imediatamente sucedidas pela entrada de Irmão Jacob em uma elevada colônia espiritual. No entanto, o nobre trabalhador espírita percebeu, após determinado tempo de adaptação no mundo espiritual, que não tinha as condições de elevação espiritual que, a priori, supusera deter, mesmo tendo sido merecedor de toda assistência desencarnatória bem como da inserção na referida colônia espiritual.
É importante frisar que a duração destas fases é extremamente variável, sendo que algumas delas podem ser drasticamente reduzidas ou mesmo ser praticamente suprimidas dependendo da evolução espiritual de cada ser. A título de ilustração, podemos citar o pai de André Luiz que, em função de suas dificuldades espirituais, saiu literalmente do umbral para o procedimento reencarnatório. Portanto, as fases de socorro espiritual e de preparação para a reencarnação se sobrepuseram, havendo uma supressão praticamente total das fases de adaptação ao mundo espiritual e de realizações.
De qualquer maneira, em ocorrências mais gerais e freqüentes, as seis etapas são observadas para um grande número de Espíritos. Realmente, o período de permanência no mundo espiritual para a maioria dos Espíritos que habitam atualmente a Terra costuma ser superior ao tempo médio em que permanecemos encarnados na crosta. Assim sendo, o intervalo entre encarnações é um período significativo, o qual, se realmente bem aproveitado, pode melhorar muito as condições do indivíduo em sua próxima experiência reencarnatória.
A nós encarnados resta realizar mais e melhor no campo dos deveres materiais e espirituais, estudando cada vez com mais dedicação a Doutrina Espírita, para termos o mérito moral e o conhecimento intelectual sobre a vida espiritual, os quais tornarão nosso futuro período na Erraticidade, uma fase de paz, trabalho no bem e realizações plenificadoras desde o primeiro momento, isto é, o momento da morte física.
Leonardo Marmo Moreira
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