Recentemente, trabalhos publicados no meio espírita têm provocado discussões doutrinárias intensas. Tais trabalhos abrangem assuntos como o eventual fim do mundo (assunto que vem sendo reiteradamente levantado, talvez em função do famigerado calendário maia) e a suposta presença de ETs em reuniões mediúnicas. Independentemente do valor intrínseco de tais obras, mediúnicas ou não, as referidas propostas podem ser perfeitamente exploradas à luz da Doutrina Espírita. Em primeiro lugar, precisamos frisar três dos paradigmas fundamentais do Espiritismo: A Existência e a Imortalidade da Alma; A Pluralidade das Existências (também chamada Reencarnação, Renascimento ou Palingenesia); e a Pluralidade dos Mundos Habitados.
Assim sendo, fenômenos materiais de quaisquer ordens podem causar o fim da vida física, mas não podem causar a extinção do Espírito. O Espírito é imortal enquanto a matéria, que é apenas o veículo de manifestação do Princípio Inteligente do Universo (O Espírito), o qual é indestrutível, está em constante transformação. Comportamentos de ordem moral não são determinados pelo contexto material, muito embora possam ser influenciados pelas circunstâncias da vida física. Essa influenciação justifica a nossa necessidade da reencarnação, pois as tribulações que a vida material nos impõe servem de exercícios iluminativos para o Espírito imortal. Portanto, a matéria pode gerar alguma influência sobre a atitude do Ser Humano, mas a decisão final sempre é do Espírito, o princípio inteligente do Universo. Kardec discute a questão na Revista Espírita quando debate sobre o mecanismo de influência de medicamentos homeopáticos nos pacientes. É um debate interessante, via cartas, com um estudioso da homeopatia, que o Codificador publica em Revue Spirite. Daí, os fenômenos materiais poderem indiretamente afetar nossas atitudes porque afetam nossos pensamentos, sentimentos e sensações físicas, despertando reflexões e outras atitudes espirituais. Mas é sempre o Espírito o responsável por todas as atitudes mentais, verbais e físicas porque ele representa a mente humana e o corpo físico é apenas o "computador" que a comunica.
Como Espíritos encarnados que somos, estamos susceptíveis às transformações materiais do mundo físico que habitamos, e, eventualmente, às grandes catástrofes materiais que vitimam muitos indivíduos. Entretanto, temos de convir que sempre a humanidade conviveu com tais desastres. Nós sempre os tivemos e sempre os teremos, pois tais fenômenos são inerentes à vida material, ou seja, intrínsecos a um plano material como é o caso da Terra. Aliás, com a população cada vez maior (já atingimos sete (7) bilhões de habitantes encarnados) e com a revolução dos meios de comunicação, os quais são cada vez mais eficientes, nós identificaremos, cada vez mais com o passar do tempo, o impacto desses processos de transformação material. De fato, atualmente a probabilidade de um desastre natural matar um número grande de pessoas é bem maior do que no passado assim como a probabilidade de ficarmos sabendo do respectivo desastre. Vale lembrar que somente em meados do século XIX a terra atingiu pela primeira vez o número de um (1) bilhão de habitantes encarnados.
Assim sendo, o “Fim do Mundo” poderia ser entendido como o Fim de uma etapa (ou o Fim de uma fase ou ciclo evolutivo) de valor didático para as nossas reflexões focadas na evolução coletiva dos habitantes da Terra. Se houvesse realmente o fim do mundo material, do ponto de vista espiritual seria apenas o fim de um ciclo de experiências para determinado grupo de Espíritos, que continuariam sua vida espiritual, obviamente, e reencarnariam aqui, na “Terra pós-apocalíptica”, ou em outros mundos físicos.
No que se refere à informação sobre os ETs, que estariam, pressupostamente, presentes em determinadas reuniões mediúnicas, realmente, se não for equivocada, é de pouca relevância, pois a discussão de formas perispirituais mais abstratas e diferenciadas, o que, a priori, não seria de todo impossível, não fornece significativo adendo doutrinário. Quanto à visita de seres de mundos mais elevados, não parece ser algo extraordinário, pois temos poucas informações sobre as esferas mais elevadas para termos posturas taxativas contrariamente a essas colocações. Entretanto, a verdadeira humanidade envolve todo o Universo (“Há Muitas Moradas na Casa do Pai”) e nós sabemos que protetores espirituais mais elevados buscam contribuir conosco desde suas esferas superiores, o que é natural considerando a “Lei de Justiça, Amor e Caridade”. De qualquer maneira, seria, novamente, pouco relevante, pois, no próprio “O Livro dos Espíritos”, os Espíritos esclarecem que há muitos espíritos encarnados pela primeira vez na Terra, mas que não teria função alguma saber quem está pela primeira vez ou quem é veterano de outras vivências físicas no nosso planeta. O que vale, obviamente, é a contribuição do Espírito, a depender de sua evolução intelecto-moral. Ressalta-se que Allan Kardec, em “A Gênese” (Capítulo XIV, Os Fluidos), afirma que o Espírito forma o seu veículo perispiritual do material fluídico do próprio planeta em que esteja momentaneamente localizado. Por conseguinte, um “Espírito visitante” deveria formar sua constituição perispiritual com os fluidos presentes na Terra, o que, sem descartar tal possibilidade, causaria certa estranheza se tal Espírito protetor se apresentasse com uma forma muito diferenciada da nossa. Ocorre que não sabemos se o corpo espiritual do ET poderia ficar significativamente diferenciado do nosso, algo que, em princípio, também parece ser de valor doutrinário secundário.
É bom frisar que são abundantes na obra de André Luiz Espírito (Médium Chico Xavier) relatos sugerindo que seres muito mais evoluídos que os próprios guias de André Luiz citados nos livros estariam presentes (ou se faziam sentir pela intuição/inspiração) no ambiente em que André Luiz se encontrava. Podemos pensar em patamares fluídicos cada vez mais rarefeitos até níveis muitíssimo evoluídos de mentores espirituais. Entretanto, André Luiz, tal como ocorre com Manoel P. Miranda, não chega a sugerir formas perispirituais que seriam exóticas sob a nossa perspectiva. Rarefeitas, sutis, luminosas e invisíveis são propriedades sempre frisadas, mas sempre com características de apresentação, quando fosse possível identificá-los, semelhantes às nossas formas perispirituais.
Apesar de ser difícil (e, inclusive, pouco recomendável) para nós, estudantes encarnados, a definição de posicionamentos definitivos em matéria de vida espiritual, algumas colocações, que não necessariamente estariam equivocadas doutrinariamente, não parecem contribuir de forma representativa com o nosso crescimento intelecto-moral. Dessa forma, seria mais conveniente deixar o conteúdo em questão em uma espécie de “quarentena”, a esperar a pouco provável, mas não impossível, confirmação através da “Universalidade dos Ensinos dos Espíritos”. Lembremo-nos de Erasto em “O Livro dos Médiuns”, “É preferível rejeitar dez (10) verdades do que aceitar uma única mentira”.
Do ponto de vista espírita, devemos estar abertos a estudar e debater todo tipo de idéia construtiva, analisando, sem preconceitos, todas as possibilidades, a fim de não renegarmos a segundo plano o caráter científico do Espiritismo. Entretanto, devemos proceder tal busca com consciência, passo a passo, sem apegos a modismos e sem sucumbirmos à nossa tendência de buscar somente assuntos que fogem das nossas necessidades espirituais prementes, como mecanismo de fuga espiritual.
Muitas idéias semelhantes a essa proposta dos ETs em reuniões mediúnicas podem ter sido influenciadas pelos comentários atribuídos a Chico Xavier sobre o planeta “Chupão”. “Chupão” seria um planeta que lenta e gradualmente receberia imigrações planetárias oriundas da Terra, constituídas por Espíritos que estivessem em níveis espirituais abaixo da média do nosso planeta e que estariam prejudicando a evolução geral das criaturas terrenas. Por conseguinte, estariam freiando o avanço da Terra para um plano de Regeneração. Entretanto, não sabemos o que exatamente o Chico disse e como disse. Fornecendo o benefício da dúvida e admitindo-se, uma vez mais, essa possibilidade, haja vista informações da própria codificação e de outros médiuns ressaltando o período de transição pelo qual passa a Terra, o planeta “Chupão”, que receberia Espíritos não mais aptos a habitar a Terra, poderia ser apenas uma metáfora, denotando algum tipo de expurgo espiritual. De qualquer forma, se Deus quiser, como Kardec estabelece em “A Gênese”, ele poderia fazer o tão decantado Apocalipse de uma forma deveras sutil, simplesmente fazendo com que os mais atrasados ao desencarnar não voltassem a reencarnar no planeta. Semelhantemente, reencarnando Espíritos em melhores condições nas novas gerações, esses bebês mais evoluídos, em poucas décadas, gerariam um panorama espiritual bem mais avançado espiritualmente para a nossa Crosta terrestre.
Segundo Divaldo P. Franco, Doutor Bezerra de Menezes já informou que está sendo iniciado um processo de reencarnação de “Espíritos Espíritas”, os quais vêm à Crosta com amplas tarefas dentro e fora do Movimento Espírita, visando à melhoria do nível moral médio de nossa grande Casa Espiritual.
Seja como for, confiemos em Jesus e na Misericórdia Divina, tentando, minimamente, cumprir com nossos deveres perante o bem, o Evangelho e à Doutrina Espírita, para que possamos contribuir minimamente com o alvorecer desse novo tempo, que depende, obviamente, do esforço inicial daqueles que já iniciaram na seara do Mestre.
Leonardo Marmo Moreira
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