O
Espiritismo esclarece que o chamado “milagre” não existe da forma como é
admitido por um grande número de criaturas. Realmente, se considerarmos o dito
“milagre” como algo totalmente contrário às Leis Naturais, teremos que
considerar que tal fenômeno não deixa de ser algo meramente mitológico. A
Doutrina Espírita explica que os chamados “milagres” são fenômenos
frequentemente incompreendidos e/ou ignorados tanto pela “Ciência Oficial” como
pela Religião. Assim, enquanto a Ciência Oficial, tida por muitos como
materialista, rejeita as evidências da ocorrência do fenômeno, justamente por
se negar a estudar qualquer fato de pressupostas implicações espirituais, as
Religiões Ortodoxas exploram o mesmo evento como “algo divino”, que derrogaria
as Leis Naturais, admitindo que tais fenômenos seriam inerentemente
incompreensíveis por se tratarem de “Mistérios”. Assim, os religiosos, apesar
de sua evidente limitação na explicação destes fatos, manteriam uma espécie de
poder intelectual sobre tais eventos, aproveitando do descaso dos cientistas. A
manutenção deste tipo de postura por grande número de representantes dos dois
supracitados grupos faz com que a maioria das criaturas permaneça na mais
profunda ignorância a respeito dos princípios básicos que explicam os
mecanismos pelo qual os supostos “milagres” ocorrem.
No
entanto, as Leis Naturais incluem não somente aquelas que regem a matéria, mas
igualmente aquelas que estão relacionadas aos fenômenos espirituais. O
Espiritismo fazendo uma união sinérgica entre Ciência e Religião, que é inédita
na história da humanidade, estabelece que os “milagres” são fenômenos
perfeitamente explicáveis e estudáveis e que foram taxados como
“espetaculares”, “maravilhosos” e “inadmissíveis” intelectualmente, por
ignorância das suas causas e mecanismos de ação.
Assim
sendo, é possível entender que se a Química, a Física e a Biologia são ciências
que estudam fenômenos observados dentro da esfera do mundo material, o
Espiritismo estuda as Leis Naturais que regem o Mundo Espiritual e o
Intercâmbio com o Mundo Físico. Portanto, seria interessante que o estudioso do
Espiritismo, que busque lograr um aprofundamento nos conteúdos espíritas, apresentasse
um conhecimento básico sobre as ciências materiais, uma vez que nesse
“intercâmbio com o mundo físico”, aspectos complexos dessa interface
espírito-matéria são estudados.
Dentro
desse contexto, o entendimento dos chamados “milagres” passa necessariamente
pela compreensão da realidade psicossomática do ser humano. Essa realidade é
formada por uma série que realidades minimamente independentes e interagentes
que seriam o Espírito propriamente dito (A Mente), o Corpo Mental, o Corpo
Espiritual (Perispírito ou Modelo Organizador Biológico), o Duplo Etérico
(Corpo Vital) e o Corpo Físico ou Material.
O
Perispírito e o Duplo Etérico como realidades intermediárias em termos de
materialidade entre o Espírito (A Mente) e o Corpo Material do indivíduo
encarnado representam peças chaves em quaisquer fenômenos de natureza
paranormal. Logo, os fenômenos mediúnicos e os fenômenos anímicos observados em
todos os tempos na história da humanidade têm nas propriedades desses dois
sistemas pré-requisitos fundamentais para as suas respectivas compreensões.
As
chamadas “Curas Espirituais”, por exemplo, que são observadas em todas as
culturas, ritos e religiões, somente podem ser explicadas a partir do
entendimento dessa inter-relação entre os componentes do “complexo humano”
encontrado no indivíduo reencarnado. De fato, tais fenômenos, na maioria das
vezes, envolvem componentes materiais, semi-materiais e espirituais.
Os
“Passes”, as “cirurgias espirituais” e
processos similares de curas físicas e mentais envolvem, portanto, a
administração de recursos materiais, semi-materiais e espirituais.
A
atuação de ordem mais materializada estaria associada principalmente às
propriedades do duplo etérico (corpo vital) do médium que exerce essa ação
fluídica. De fato, o duplo etérico ou corpo vital seria composto
predominantemente de fluido vital, o qual, uma vez exteriorizado, poderia ser
chamado de ectoplasma, conforme nomenclatura proposta pelo “Pai da
Metapsíquica” Charles Richet. É importante salientar que o ectoplasma sofre
significativa influência da alimentação do médium, pois o “corpo vital” ou
“corpo energético” dos alimentos ingeridos constituem um importante componente
desse fluido vital que consiste no elo entre o perispírito propriamente dito e
corpo físico. Além disso, o fluido vital seria uma espécie de “combustível”
para o corpo físico, sendo, por conseguinte, importante influência para a
definição prévia e provisória do tempo de vida física do indivíduo encarnado.
A
influência da alimentação na constituição do fluido vital é uma das causas da
necessidade de disciplina alimentar por parte dos médiuns, sobretudo daqueles
que desenvolvem trabalhos com grande doação de energia fluídica, como é o caso
dos chamados “médiuns de cura”. De fato, a “mediunidade de cura”, entre várias
peculiaridades, não deixa de ser também uma mediunidade de efeitos físicos,
pois, mesmo atuando predominantemente sobre o perispírito do necessitado, o
efeito esperado e desejado de cura do corpo material é obviamente uma espécie
de “efeito físico”, tal como as célebres materializações de espíritos.
Desta
forma, assim como os Espíritos desencarnados sentem a influência da matéria, a
energia semi-material de natureza mais densa, como é o caso do fluido vital,
poderia igualmente influenciar a organização da matéria dos corpos físicos.
Obviamente, os Espíritos esclarecidos quanto a esse intercâmbio fluídico
utilizam desses mecanismos para os diversos objetivos a que estão vinculados,
sejam eles elevados ou não. Os Espíritos superiores administram recursos em
favor dos indivíduos encarnados. Poderíamos citar o livro “Nosso Lar”, onde
encontramos uma passagem em que o segundo marido de Zélia, a viúva de André
Luiz, estava com a saúde muitíssimo
debilitada e foi recuperado fisicamente através de Passes Espirituais de
Narcisa e André Luiz, que utilizavam, entre outros recursos, da administração
de essências retiradas de mangueiras e eucaliptos por Mentores Espirituais. Essa
passagem ilustra que o corpo vital, sendo também uma realidade dos vegetais,
pode contribuir juntamente com o ectoplasma animal e outros fluidos espirituais
para gerar saúde física.
Esse
intenso intercâmbio fluídico entre o mundo espiritual e os indivíduos
encarnados explica uma série de fenômenos conhecidos da literatura espírita,
como, por exemplo, a vampirização por parte de entidades muito atrasadas do
fluido vital de um suicida e de vários cadáveres de bois no matadouro, conforme
narração de André Luiz na obra “Missionários da uz”. Nesta mesma obra,
Espíritos inferiores que “habitavam” um lar sem barreira de proteção magnética,
em função da pouca elevação espiritual da família, aspiravam os fluidos que
emanavam dos alimentos que eram cozinhados, haurindo dos mesmos fluidos vitais
que eram prazerosos a estes espíritos, obviamente muito vinculados à matéria.
Ainda em “Missionários da Luz”, no capítulo intitulado “Passes”, é narrado um
interessante caso relacionado a uma jovem gestante que estava literalmente
passando fome, devido a dificuldades econômicas de seu marido.
Consequentemente, as condições físicas dessa mulher e de seu feto eram de
grande fragilidade, implicando em grande risco de morte para o bebê. Os
Mentores Espirituais auxiliaram intensamente essa senhora através dos Passes,
utilizando de fluidos vitais emanados pelos médiuns passistas encarnados,
logrando melhorar sensivelmente o quadro de saúde dela e de seu filho.
Pode-se
citar igualmente interessante caso de Chico Xavier, quando o maravilhoso médium
visitou uma família com sérios problemas espirituais para fazer o que hoje poderíamos
denominar de “atendimento fraterno”. Chico, que adorava bananas, se encantou
com um cacho de bananas muito formosas que havia na mesa. No decorrer da
conversa com os familiares, entretanto, Chico Xavier ficou extremamente chocado
ao ver duas entidades espirituais inferiores entrarem no recinto e literalmente
comerem as bananas. Ora, como um Espiríto desencarnado pode comer a banana?!
Posteriormente, Emmanuel esclareceria a Chico Xavier que o referido lar não
tinha barreiras vibratórias em função de uma sintonia mental com entidades
negativas, em função de seus sentimentos, pensamentos e hábitos negativos do
ponto de vista moral. Assim, seres espirituais atrasados e com perispíritos
muito materializados e que teriam grande necessidade de sensações de ordem
material não teriam impedimentos maiores para entrarem no lar, podendo gerar
obsessões e quadros lamentáveis em função da afinidade vibratória. Ao sentirem
fome, estes Espíritos comeram, de fato, as bananas, ingerindo o corpo vital das
mesmas. Por outro lado, além de eliminarem grande parte do conteúdo vital das
bananas, deixaram nas mesmas impregnações fluídicas negativas, fazendo com que
as bananas se tornassem alimentos perigosos para aqueles que as ingerissem,
tanto sob o aspecto físico quanto do ponto de vista espiritual.
O
Espírito organiza o Perispírito, pois o Espírito haure dos constituintes da
atmosfera de um determinado planeta, a constituição do seu próprio Perispírito,
conforme nos ensina “A Gênese”, de Allan Kardec. Logo, assim como o Espírito
determina o nível fluídico da constituição do seu Perispírito, dependendo da
matéria-prima haurida na atmosfera em função da sua evolução espiritual, o
Perispírito modela e direciona grande número de fenômenos biológicos no corpo
de carne.
Assim
sendo, as chamadas curas espirituais deveriam ser mais propriamente denominadas
de “Curas Perispirituais”, pois o Perispírito é o principal foco das
influências magnéticas proprocionadas pela fluidoterapia, incluindo aí os
Passes, a Água Magnetizada e a intervenção fluídica do mundo espiritual. Neste
contexto, é importante frisar que a legítima cura verdadeiramente espiritual é
a transformação moral da criatura para o bem, pois elevando a vibração, em
função da elevação de valores espirituais e melhoria de sentimentos,
pensamentos e ações, iniciaria efetivamente o processo de tratamento real da
causalidade das enfermidades espirituais que são a causa primária das afecções
perispirituais e físicas.
O
próprio Divaldo Franco narra que, em suas palestras, ocorre um número
incontável de cirurgias no perispírito dos indivíduos que estão assistindo a
conferência, pois, em função da elevação de pensamentos, sentimentos e
propósitos na reunião, acontece uma maior elevação de condição espiritual dos
assistentes, favorecendo maior sintonia fluídica com os protetores espirituais
e viabilizando a eficácia da intervenção espiritual.
No
famoso caso evangélico da multiplicação de pães e subseqüente alimentação das
multidões com cinco pães e dois peixes, Jesus pode ter se valido do somatório
dos ectoplasmas gerados por Ele e por seus Apóstolos, além dos fluidos dos
Espíritos desencarnados superiores que estavam acompanhando a passagem.
Ademais, essências vegetais podem ter sido trazidas para o local, o que
explicaria a sensação de saciedade dos presentes. Com relação à multiplicação
dos pães propriamente dita, poderia ter sido simplesmente um transporte ou uma
materialização em que o auxílio dos Apóstolos, que eram grandes médiuns de
efeitos físicos, pode ter contribuído de forma significativa. Obviamente, nesta
análise estamos admitindo a possibilidade da ocorrência literal destes fatos, o
que pode não ter acontecido exatamente como os textos relatam.
Leonardo Marmo Moreira
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