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quarta-feira, 13 de março de 2013

Roustaing e Ubaldi: Uma Estranha União de Forças Cismáticas


O Roustainguismo, também conhecido como Rustenismo, é a maior chaga do movimento espírita brasileiro. Verdadeiro "espinho na carne" do movimento espírita, essa mistificação é literalmente o “joio” difícil de ser extirpado do seio dos grupos espíritas. Trata-se do movimento dos adeptos da obra “Os Quatro Evangelhos”, organizada pelo advogado francês J. B. Roustaing.

O Ubaldismo é o movimento de adeptos das obras de Pietro Ubaldi, médium e escritor italiano que, ao radicar-se no Brasil, ganhou notoriedade dentro de ambientes espiritualistas brasileiros, inclusive, dentro do movimento espírita.

Curiosamente, um esforço de união entre as dissidências roustainguista e ubaldista em uma espécie de processo cismático único tem sido constatado em algumas regiões brasileiras.

O Ubaldismo seria, em alguns aspectos, uma nova edição do Roustainguismo. De fato, trata-se de obra sem o respaldo da “Universalidade do Ensino dos Espíritos”. Ubaldi, tal como Roustaing, defende a existência da “Queda espiritual”, implicando que a Reencarnação seria uma espécie de “Castigo Divino”, a priori dispensável, se o ser espiritual cumprisse suas “metas” de evolução e comportamento adequadamente. Ressalta-se que esse ensino é uma das maiores discordâncias de Roustaing em relação a Kardec. Assim sendo, a tentativa de união entre Roustaing e Ubaldi é respaldada em um conceito claramente oposto à Codificação.

De fato, o Ubaldismo, como um tipo de “Roustainguismo repaginado”, também atraiu muitos espiritualistas pelo Brasil, tornando-se mais uma fonte de confusão em nosso movimento. Neste contexto, em determinado momento, os Roustainguistas  viram em Ubaldi uma “tábua de salvação”, visto que os absurdos de Roustaing estavam muito mais evidenciados e discutidos do que os de Ubaldi, uma vez que as obras anti-doutrinárias de Roustaing geraram mais adeptos dentro do movimento espírita brasileiro do que os livros de escritor italiano. Além disso, a obra de Roustaing é mais antiga, contemporânea de Allan Kardec, tendo gerado célebres embates doutrinários na própria França, onde Gabriel Delanne foi um dos autores que mais lutou para que as bases Kardequianas não fossem deturpadas.

 Portanto, historicamente, a obra de Roustaing foi muito mais analisada do que a obra de Ubaldi. Assim sendo, as evidentes incoerências roustainguistas foram exaustivamente explicitadas à luz da Codificação Espírita por Espíritas Renomados, tais como J. Herculano Pires, Júlio Abreu Filho, Luciano Costa, Nazareno Tourinho, entre outros. Estudo desse teor não foi desenvolvido em relação às limitações da obra ubaldista. Dessa forma, encarar Ubaldi como uma nova vertente desse corpo de idéias, seria fornecer um novo fôlego à cisma que atormenta o movimento espírita desde o século XIX. Essa realidade seria uma tentativa de dar amparo às teses anti-espíritas de Roustaing, uma vez que os routainguistas não conseguem manter os fracos argumentos de sua “obra máter”. Realmente, o que mais os roustainguistas tem feito é tentar associar, muitas vezes de forma indébita, a figura de espíritas ilustres do passado ao roustainguismo, pois eles não têm logrado apresentar, de forma eficaz, argumentos sólidos para defender “Os Quatro Evangelhos”.

O método de análise do conteúdo da obra preconizado por Allan Kardec deixa claro que o conteúdo da mensagem está sempre em primeiro lugar, em termos de prioridade de avaliação. Em segundo lugar, estaria o caráter moral do médium que trouxe a obra de origem espiritual. Por último, o nome do autor espiritual. Poderíamos extrapolar a análise do caráter moral do médium para o caráter do moral do escritor encarnado, quando a obra não se tratar de produção mediúnica.  De forma similar, poderíamos também expandir a questão do nome do autor espiritual aos nomes de confrades ilustres que apoiaram ou apóiam, por quaisquer motivos, obras claramente contrárias à codificação, uma vez que todos os indivíduos, por mais ilustres e respeitáveis que sejam suas contribuições, podem, eventualmente, cometer algum erro pontual.  A opinião pessoal, por mais meritória que seja o portador da idéia, não é, necessariamente, indicativo de Verdade.

De qualquer maneira, fomentando essa fusão de obras cismáticas, os roustainguistas poderiam captar um bom número de discípulos de Ubaldi, os quais, eventualmente, poderiam não ser adeptos de Roustaing, ou mesmo ser anti-roustainguistas, visto que as obras, apesar de pontos convergentes, também apresentam significativas diferenças.

Na verdade, os Roustainguistas têm necessidade de escorar as incoerências da obra de J.B. Roustaing em outros autores que possam minimamente corroborar suas opiniões, por mais frontalmente opostas a Allan Kardec sejam essas idéias. Além disso, a própria obra “Os Quatro Evangelhos” de J. B. Roustaing se autodenominava uma iniciação conceitual, que seria continuada, aprofundada e ratificada por uma obra subseqüente. De fato, essa obra nunca veio ao mundo, nem pela médium Emilie Collignon, nem por Roustaing ou algum de seus seguidores.  Obviamente, essa ausência criou um problema para os Roustainguistas, pois a “Revelação da Revelação” não poderia ter se equivocado na sua previsão de continuidade. Essa previsão de uma obra “definitiva”, aliada à lenta e gradual decadência da divulgação roustainguista no movimento espírita brasileiro, levou alguns líderes roustainguistas a elegerem a obra de Pietro Ubaldi como a referida obra continuadora de “Os Quatro Evangelhos”.  De fato, ambas defendem a tese anti-Kardecista da Queda Espiritual. Aliás, não deixa de ser curiosa tal associação, pois Ubaldi, à semelhança de Roustaing, demonstrou uma vaidade desmedida. Talvez Ubaldi, em matéria de vaidade, tenha até superado Roustaing, pois jamais se considerou espírita ou vinculado ao movimento espírita, desejando, desde sempre, criar um movimento próprio. De qualquer maneira, tal postura egocêntrica não deixa de apresentar certa coerência, uma vez que ele não disse que era uma coisa que não correspondia à realidade, ou seja, nunca afirmou ser adepto da Doutrina Espírita. Pelo contrário, manteve sérias críticas à Doutrina Espírita. Em todo caso, Ubaldi teve uma atitude de menor contradição, pois Roustaing coloca a Obra “Os Quatro Evangelhos” como Obra Espírita, apesar dela contradizer fortemente vários princípios básicos da Codificação.

Por outro lado, é muito significativo e sintomático constatar o fato dos roustainguistas elegerem a obra de um autor que nunca se considerou espírita como a continuação e, principalmente, o desenvolvimento da obra de Roustaing. Ora, se “Os Quatro Evangelhos” de J. B. Roustaing fosse mesmo uma obra espírita, não seria de se supor que sua continuação e seu respectivo desenvolvimento fossem consolidados por um grande autor verdadeiramente espírita?!

Essa “eleição” de Pietro Ubaldi ocorre justamente por ser impossível a correlação do conteúdo de grandes autores espíritas como André Luiz, Joanna de Ângelis, Manoel Philomeno de Miranda, entre outros, com as idéias exaradas na obra “Os Quatro Evangelhos” de J. B. Roustaing.

Ademais, Ubaldi jamais se considerou Roustainguista e, o que é mais sintomático, segundo alguns biógrafos, não teria nem mesmo conhecido a obra de Roustaing. Ora, o grande continuador e ampliador de uma obra, que supostamente seria “um curso avançado de Espiritismo”, conforme alguns Roustainguistas apregoam, não teria notícia da existência da obra de seu predecessor? Este fato, por si só, já constata o quanto essa ligação entre eles é artificial. Essa correlação foi forjada, de certa forma indebitamente, por roustainguistas ansiosos por uma tentativa de revitalização de propostas que não têm sustentação doutrinária dentro do Espiritismo. Assim são as falácias roustainguistas, uma verdadeira colcha de retalhos de informações e subterfúgios, fazendo lembrar as incoerências do catolicismo. De qualquer maneira, admitindo essa possibilidade pouco provável de que ambas as obras sejam complementares, seria de se espantar o fato do planejamento da Espiritualidade Superior ser tão caótico, pois Ubaldi, sendo, a priori, tão relevante para o desenvolvimento e validação das teses da “Revelação da Revelação”, não teve em sua longa jornada carnal de 85 anos um contato mínimo com “Os Quatro Evangelhos”. Os nossos mentores espirituais estariam tão perdidos que não viabilizariam o acesso do “grande continuador” à obra de seu “precursor”?! Vale lembrar que, em princípío, Pietro Ubaldi teria sido portador de uma mediunidade ostensiva, o que seria uma oportunidade a mais para que esse autor fosse inspirado a conhecer uma obra tão importante para o desenvolvimento de sua própria missão. E isso não ocorreu. Por outro lado, podemos levantar a hipótese que Ubaldi tenha sido inspirado a conhecer a obra de Roustaing, mas tenha rejeitado fazê-lo em função do seu livre-arbítrio. Neste caso, questionaríamos a razão para tal procedimento. Ubaldi estaria rejeitando “a Revelação da Revelação” por considerar que ela não seria tão reveladora assim?! Neste caso, quem estaria equivocado?! Ubaldi ou Roustaing? Ou ambos? A Verdade é uma só, mas as visões distorcidas da realidade são muitas, o que torna perfeitamente possível dois autores equivocados discordar mutuamente de seus respectivos pontos de vista.

Roustaing e/ou seus “Orientadores Espirituais” repetem exaustivamente ser a obra “Os Quatro Evangelhos” a “Revelação da Revelação” ou “A Nova Revelação”, além de “Espiritismo Cristão”. Como se não bastasse, Roustainguistas fanáticos de nossa Pátria chegaram a afirmar categoricamente ser a Obra de Roustaing “um curso avançado de Espiritismo”, enfatizando que “quem não aceita Roustaing, não pode ser considerado espírita”. Ora, será que Léon Denis, Gabriel Delanne e Camille Flammarion e tantos outros não podem ser considerados espíritas?! E o que é pior, será que Allan Kardec não pode ser considerado espírita?! Afinal, nenhum deles aceitava a Obra de Roustaing.

A correlação dos conteúdos elaborados por autores espirituais e encarnados para um estudo em conjunto não é, de forma nenhuma, uma atitude reprovável. Entretanto, a união de dois grupos cismáticos, que se consideram espíritas, para manter e divulgar idéias que atrapalham o desenvolvimento doutrinário de nosso movimento consiste em atitude de grave responsabilidade espiritual.

Leonardo Marmo Moreira

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