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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A memória espiritual e a evolução em face da tese roustainguista dos criptógamos carnudos


Um dos principais atributos do Espírito consiste em um dom fornecido pela divindade e inerente ao princípio inteligente que é a capacidade de registrar vivências e aprendizados, erros e experiências, lutas e dores, traumas e emoções. Essa espécie de “arquivo espiritual” está presente em todos os seres vivos e é a base tanto da definição da personalidade de cada indivíduo como da evolução espiritual propriamente considerada.
Tendo-se em vista a informação doutrinária de que “a Lei de Deus está escrita na consciência” da criatura, conforme a questão 621 de “O Livro dos Espíritos”, este registro há de ser total e implacável para que a Lei de Deus realmente seja soberana e inexpugnável. Assim sendo, nós, de uma forma ou de outra, sempre temos o registro total de nossas vivências como Espíritos imortais, mesmo que conscientemente não tenhamos uma maior fixação de todo esse espetacular conjunto de dados. Um exemplo disso é o próprio desdobramento parcial pelo sono físico, que para a maioria das criaturas deixa um registro aparentemente “superficial” das vivências, mas, no fundo, são experiências riquíssimas que vão indiretamente nos induzir a determinados comportamentos, de acordo com o tipo de experiência vivenciada durante essa pequena emancipação da alma.
De fato, Jesus afirmou que na Lei nada passaria, “nem um único jota e nem um único ponto”. Somente admitindo esse registro absoluto de tudo o que pensamos, falamos, sentimos e praticamos é que se torna lógica, universal e, portanto, científica, a Lei de Causa e Efeito, ou seja, o famoso “A cada um conforme suas obras” do Mestre Jesus. Somente assim, a Lei de Ação e Reação representaria uma manifestação das soberanas Justiça e Bondade de Deus para conosco, seus filhos, porque apenas desta forma a Lei se apresenta exatamente igual para todas as criaturas.
É crível propor que esta discussão acima estabelecida não é nenhuma novidade para todos os espíritas. Sendo assim, é inadmissível a tese de que um Espírito organizador de mundos tenha que reencarnar na forma de uma espécie de lesma para expiar. João Evangelista afirmara: “Aqueles que não amam não conhecem a Deus porque Deus é amor” e Jesus já havia chamado Deus de “Pai Nosso que está nos Céus...”, assim como a falange do Espírito de Verdade definiu Deus como “a inteligência suprema, a causa primária de todas as coisas” (questão 1 de “O Livro dos Espíritos”). Admitir essa radical metempsicose seria duvidar das soberanas bondade e inteligência de Deus. Realmente, essa “inteligência suprema”, “soberanamente justa e boa”, não disporia de nenhum outro mecanismo menos cruel, mais educativo e mais produtivo para a sociedade visando à educação ou reeducação do chamado “Espírito culpado”? Aliás, o “Espírito culpado” não é antes um filho ignorante necessitado de amor e de oportunidade?!
Há um aspecto que deve ser igualmente discutido. Qual seria o estado de consciência do Espírito nessa condição de lesma?! Ele estaria com uma lucidez intelectual plena, digna de um organizador de mundos, observando e refletindo sobre a crueldade desse Deus que, a princípio, deveria ser sinônimo de amor, consoante a bela assertiva de João Evangelista? Ou ele estaria inconsciente e totalmente animalizado e regredido espiritualmente? Nessa hipótese da inconsciência total, qual seria a reeducação do culpado se o Espírito não tem mais nenhum registro?!
Se esse Espírito perdesse todos os seus registros evolutivos, significaria que ele perdera a sua memória espiritual. Essa hipótese consistiria em admitir que esse Espírito perdeu sua individualidade, isto é, sua personalidade e, por conseqüência, que ele já é outra coisa, não sendo mais ele mesmo. Essa proposta, apesar de ser, a priori, espiritualista, acaba tendo como conseqüência prática um profundo materialismo, semelhantemente à análise exarada em “O Livro dos Espíritos” sobre o panteísmo, pois se eu não sou mais eu, eu não existo mais.
A discussão sobre esse tópico deve estar muito pautada nos atributos de Deus que é, como sabemos através de “O Livro dos Espíritos”, soberanamente justo e bom, e também soberanamente inteligente. De fato, se pensarmos nas expiações mais duras que conhecemos, elas sempre têm algo de profundamente reeducador e nenhuma delas seria tão terrível como a possibilidade de reencarnação como “criptógamo carnudo”, isto é, um tipo de minhoca. Síndrome de Down, autismo, deficiências físicas, miséria material e todos os outros problemas, que podem ter causa expiatória, são claramente mais educativos e menos cruéis do que esse tipo de metempsicose. Deus aproveita o máximo do mínimo, sempre potencializando possibilidades de crescimento para cada um de seus filhos, tanto individualmente como também para as coletividades em que cada um de seus filhos participe. A lei de progresso é, antes de tudo, uma lei de educação e é por isso que “O amor cobre a multidão de pecados” como diria o Apóstolo Pedro, já que, em muitos casos, é amplamente “vantajoso” para a Obra da Criação que o indivíduo acerte suas contas com a própria consciência através do trabalho e do amor e não pela dor. De fato, o trabalho e o amor tornam o processo de educação não apenas individual mas benéfico a um número muito grande de irmãos que são influenciados direta e indiretamente por essa ação.
Admitindo-se essa estranhíssima hipótese de regressão espiritual, toda a Lei de Progresso estaria comprometida, para não dizer totalmente destruída, pois se um Espírito que organiza mundos regrediu uma vez, o que o impediria de regredir duas, três ou mais vezes?! A Criação Divina seria uma incrível gangorra de avanços e regressões sucessivas! E nenhuma conquista espiritual seria realmente eterna. Frases de Jesus como, por exemplo, “Guardai o vosso tesouro onde as traças não corroem e os ladrões não roubam” perderiam o seu significado profundo, pois os avanços e conquistas, a priori, inalienáveis da criatura espiritual seriam passíveis de serem perdidos. Até mesmo a própria elaboração da personalidade, que faz com que cada um de nós seja uma pessoa única, e nunca mais deixe de ser essa pessoa totalmente diferenciada das demais, estaria afetada. Frases do Apóstolo Paulo como “Dando mais valor às coisas que não se vêem do que às que se vêem porque as que se vêem são perecíveis e as que não se vêem são eternas” não passariam de retórica vazia, constituindo “letra morta”, não representativa, por conseguinte, dos aspectos mais belos da Lei de Deus que Jesus resumiu basicamente no amor.
Ademais, esse possível ciclo eterno de estranhas reencarnações desacopladas de um processo evolutivo profundamente amoroso e belo tornaria injustificáveis as dores da vida. De fato, todos os sofrimentos, que têm na constante evolução sua principal razão de ser, perderiam o sentido, já que todas as conquistas intelecto-morais poderiam ser perdidas de uma hora para outra, o que implica que, a rigor, o ser espiritual em questão não teria conquistado nada. Assim, nós sofreríamos por nada ou, se preferirmos, sofreríamos porque Deus quer, e, por algum motivo “misterioso”, acha isso interessante. Ele que deveria ser um Pai de amor e bondade.
Por conseguinte, poderíamos elaborar a subseqüente indagação: uma vez que o ciclo de reencarnações poderia se tornar interminável, qual seria o real interesse de Deus nesse processo?! Aquilo que chamamos de vida seria, indubitavelmente, um conjunto de sofrimentos intermináveis sem nenhuma finalidade, caracterizando o mais terrível inferno.
Para concluir este tópico, deixando os questionamentos mais concernentes com a filosofia e com a religião e partindo para uma abordagem mais à maneira da ciência, indagaríamos: Existe alguma evidência na natureza de que algum Espírito já tenha regredido?! Alguém que já tenha regredido contou sua experiência? Alguns leitores poderiam afirmar que os Espíritos não comunicariam em função de não se lembrarem dessa regressão espiritual, uma vez que perderam o registro de todas as suas experiências anteriores e, neste caso, nós voltamos às discussões anteriores sobre a crueldade de Deus nesse processo e sobre as suas intrínsecas maldade e inutilidade. Vale lembrar que mesmo Espíritos em condições complicadíssimas, como é o caso dos ovóides, não perdem sua memória espiritual conforme nos ensina André Luiz em Libertação e em Evolução em Dois Mundos. Além disso, é bom frisar que essa condição é perispiritual e não física! Esses Espíritos, logicamente, reencarnarão em corpos defeituosos, mas humanos, sempre humanos! Comparar essa informação de André Luiz com a reencarnação em lesmas do conceito roustainguista é buscar, ridiculamente, “dourar a pílula” por puro fanatismo, personalismo e teimosia.
A fé raciocinada nos propõe uma atitude de busca sincera em direção à verdade. Assim sendo, ter a humildade e, principalmente, a inteligência de se admitir em erro para repensar pontos de vista é o mínimo que se esperaria de quem ama a verdade mais do que suas paixões e fixações pessoais. Importante salientar que há ainda na obra de Roustaing muitos outros posicionamentos em choque com a Doutrina Espírita seduzindo incautos e companheiros que formaram opinião precipitadamente e que, por um motivo ou por outro, contra todas as evidências, insistem em não reavaliar suas posições.
“É preferível rejeitar dez verdades a aceitar uma única mentira”, ensinou-nos o sábio Espírito Erasto em “O Livro dos Médiuns”. A aplicação desse relevante princípio da Codificação nos faz, a priori, rejeitar essa teoria e a obra que a contém, ou seja, “Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing. Aliás, foi exatamente esse o posicionamento de Allan Kardec há quase 150 anos na sua avaliação desta obra, quando afirmou explicitamente que essa obra e suas idéias não podem fazer parte constituinte do Espiritismo.

Leonardo Marmo Moreira 

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