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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Espiritismo versus Roustainguismo: Quem são os autores espirituais da obra “Os Quatro Evangelhos” de J.B. Roustaing?


                Analisando o conteúdo da obra de Roustaing, somos compelidos a responder a uma importante questão: O Evangelho de Jesus é um único Evangelho ou são quatro Evangelhos?!

                De fato, Emmanuel, Amélia Rodrigues e outros relevantes autores espirituais que trouxeram suas mensagens através de médiuns confiáveis, respectivamente Chico Xavier e Divaldo Franco, descreveram com detalhes passagens conhecidas de modo restrito em função das limitações que o tempo e os erros humanos impuseram aos chamados “textos sagrados”. Entretanto, sempre narraram de uma única forma uma mesma passagem bíblica, pois a passagem em questão consiste em fato real, isto é, em evento histórico, que pode ser enfatizado de maneira diferente, mas nunca modificado.

                Entretanto, os chamados “Evangelhos Canônicos” muitas vezes apresentam informações confusas ou, em alguns casos, realmente conflitantes. Informações que realmente se opõem mutuamente nos textos atribuídos a Mateus, Lucas, Marcos e João. Ora, é claro que isso se deve aos processos históricos de deturpação, interpolação, erros de tradução, perdas de originais, entre outros processos, no decorrer de dois mil anos. Todavia, se considerarmos que os apóstolos foram testemunhas oculares dos fatos, seria de se esperar que, ao transmitir do mundo espiritual a “verdade verdadeira”, ou seja, a versão legítima dos fatos, eles concordassem em transmitir um único e verdadeiro Evangelho segundo Jesus Cristo, e não interpretarem e basearem suas análises naquilo que sobrou de textos atribuídos a eles e que, em muitos casos, pelo menos parcialmente, nem foram eles os autores.

                Portanto, por que os Evangelistas e os Apóstolos não ditaram o Evangelho, conforme Ele realmente aconteceu?! De fato, se quase todos os supostos autores espirituais foram testemunhas oculares dos eventos evangélicos, isto é, os próprios Apóstolos de Jesus, por que não contaram uma única versão?! Qual a razão de não enviarem um único Evangelho ao invés de comentar as quatro versões bíblicas?!

                Os autores espirituais da obra de Roustaing ao comentar os quatro evangelhos canônicos do Novo Testamento, elaborando um texto de mais de duas mil páginas parecem hipervalorizar os textos bíblicos em seu sentido literal. Ora, se eles se lembram dos acontecimentos, sendo mais de uma dezena de Espíritos evoluidíssimos e tendo os recursos avançados do mundo espiritual para ver, rever e estudar os eventos em questão, certamente poderiam trazer uma versão mais fiel dos fatos associados à Vida e aos Ensinos de Jesus. Assim sendo, os autores da obra de Routaing não precisavam utilizar como base de estudo, extensiva e integralmente, os textos da Bíblia que chegaram até nós, ou seja, os deturpados e limitados textos de 2000 anos atrás.

O próprio Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo intitulado “Moral Estranha”, assevera que os eventos da época de Jesus estavam sujeitos às perdas já supracitadas neste texto (tradução, interpolação, deturpação etc.). Assim sendo, considerar como literalmente verdadeiros todos os textos bíblicos do Novo Testamento seria cometer o mesmo erro crasso de católicos e protestantes. Aliás, erro que foi consistentemente exposto e analisado por Léon Denis na sua célebre obra “Cristianismo e Espiritismo”.

                Obviamente, cada indivíduo, por mais evoluído que seja, tende a imprimir certo caráter pessoal em qualquer narrativa em que seja o autor. Entretanto, em uma obra supostamente “assinada” pelos próprios Apóstolos e Evangelistas, seria de se esperar que houvesse uma homogeneidade de informações, o que não é o caso. Aliás, é essa a orientação de Allan Kardec no que diz respeito ao controle universal do ensino dos Espíritos (CUEE).

Além disso, em uma obra cognominada pelos seus próprios autores “Revelação da Revelação” (o que é uma falta de respeito com Allan Kardec, além de excessiva autovalorização, para não dizermos vaidade) e “Espiritismo Cristão” (o que consiste em uma espécie de crítica a Allan Kardec, pois sugere que o Espiritismo, que é único e é aquele codificado por Allan Kardec, não seria cristão, o que é um absurdo), a hipervalorização dos textos bíblicos e a falta de homogeneidade de ideias, além do caráter prolixo do texto, denotam as “impressões digitais” características de autores que, na melhor das hipóteses, são pseudo-sábios.

De fato, a homogeneidade das ideias é o que se nota perfeitamente na obra Kardeciana, onde espíritos com peculiaridades bem distintas em termos de trajetória evolutiva, mas todos indiscutivelmente evoluidíssimos, reúnem-se em um belíssimo processo fraterno e solidário de construção comum de uma consistente descrição/explicação das Leis de Deus. Na Codificação, os autores se harmonizam sinergicamente em um todo coerente e coeso. Aliás, o próprio Codificador Allan Kardec, deixa claro na sua análise da Obra de Roustaing, explicitada na Revista Espírita, que a Obra de Roustaing, que no original em francês abrange três tomos, poderia ser sintetizada em um tomo único, tamanha sua prolixidade.

                Há ainda uma consideração importante. Por que o mundo espiritual enviaria uma nova “Revelação da Revelação”, se a supostamente “velha” Revelação, no caso a Codificação Kardeciana, ainda não havia nem sido concluída. Realmente, a publicação de Roustaing é de 1866 e “A Gênese” foi publicada em 1868. Ademais, o processo de psicografia da Obra de Roustaing teria começado em 1862, quando a Codificação (ou seja, a Terceira Revelação) mal começara a ser publicada, já que somente “O Livro dos Espíritos”, “O que é o Espiritismo” e “O Livro dos Médiuns” tinham sido publicados até esta data.

Neste contexto, a defesa que rustenistas fazem da expressão “Revelação da Revelação” é semelhante à defesa que católicos e protestantes fazem da hipótese de que o chamado “Pentecostes” seria o advento do “Consolador” prometido por Jesus.

                Outro aspecto que chama atenção na Obra de Roustaing consiste identidade de autoria de seus autores espirituais. Se fosse verdade seria algo absolutamente espetacular, pois à exceção do próprio Jesus de Nazaré, a equipe espiritual seria “a mais sagrada possível”. De fato, os autores seriam os Evangelistas, assistidos pelos Apóstolos, e Moisés. Ademais, João Evangelista, que é um dos nomes registrados no Prolegômenos de “O Livro dos Espíritos”, deveria, pressupostamente, ser um dos autores de “Os Quatro Evangelhos”, pois é Apóstolo e é Evangelista (seria o autor de um dos Evangelhos canônicos). Por que João Evangelista traria a “Revelação da Revelação” se ainda não havia terminado a “Revelação Velha”, isto é, a “Terceira Revelação”?!

Essa questão se aprofunda quando nós constatamos as contundentes diferenças entre os conteúdos das duas referidas obras. Será que João Evangelista teria duas opiniões diferentes ou suas opiniões estariam sendo deturpadas pelos instrumentos mediúnicos. Admitindo que João Evangelista realmente estivesse contribuindo nas duas obras, ainda assim, a obra de Kardec apresentaria muito maior credibilidade mediúnica, pois seria ratificada pela Universalidade dos Ensinos dos Espíritos, o que não aconteceu com a obra de Roustaing, que foi psicografada por uma única médium, Emile Collignon. Ademais, Kardec demonstrou um profundo senso crítico em relação às mensagens mediúnicas, tendo, inclusive, elaborado um capítulo em “O Livro dos Médiuns” que expõe mensagens que ele considerava mistificações. Roustaing, pelo contrário, demonstrou ter publicado absolutamente tudo o que os Espíritos lhe enviavam, sem restrição.

                Neste contexto, vale citar novamente o Apóstolo João Evangelista, que, além de ser um Apóstolo, é autor de um dos quatro Evangelhos considerados canônicos, ou seja, pertencentes à Bíblia (João Evangelista é, portanto, considerado escritor inspirado por católicos e protestantes). De fato, por diversas vezes Jesus convocou somente Pedro, Tiago e João para assisti-lo em determinados eventos, o que enfatiza que João Evangelista seria uma das mais importantes testemunhas oculares da trajetória de Jesus (inclusive, teria sido o único a acompanhar a crucificação do Mestre). Ademais, tanto nos Evangelhos como nos Atos dos Apóstolos, está evidente o papel de liderança de João no grupo apostólico. Como se não bastasse, João Evangelista é ainda o autor do último livro do Novo Testamento e, por extensão, da Bíblia, ou seja, o Apocalipse. Por que ele contribuiria com a “Revelação da Revelação” se ainda não havia terminado a “Revelação Velha”?! Será que para cada grupo o Apóstolo teria uma opinião diferente?! Ou será que a opinião dele só era considerada por um dos grupos?! Neste caso, os dois grupos estariam divergindo quanto às leis de Deus?! Mas não seriam ambos os grupos formados por espíritos evoluidíssimos, tendo, provavelmente, componentes em comum?! Ou um dos grupos seria formado por Espíritos ignorantes e/ou mal intencionados?! Ou, ainda, o problema foi causado pela influência anímica e/ou obsessiva da instrumentação mediúnica?! Vale reafirmar que a Obra de Kardec era ratificada pela Universalidade do Ensino dos Espíritos através de vários médiuns e a Obra de Roustaing foi obtida por um único veículo mediúnico.

Kardec realmente fez por merecer o título de “Bom senso encarnado”, a ele atribuído por Camille Flammarion, sendo um verdadeiro gênio na elaboração e na organização do conteúdo da Codificação. Kardec, inclusive, chega a elaborar um capítulo em “O Livro dos Médiuns” com mensagens apócrifas, que, em sua análise, não apresentariam o nível requisitado para justificar os nomes que as assinavam, demonstrando que nem mesmo ele, Kardec  (O Espírito escolhido por “O Espírito de Verdade” para ser o Codificador da Terceira Revelação), estaria isento aos riscos inerentes ao fenômeno mediúnico. Roustaing, por outro lado, demonstra certa pressa em publicar tudo o que obtivera mediunicamente sem nenhuma postura crítica. Não submete o texto para a apreciação de ninguém, ou seja, de nenhum dirigente espírita da época que pudesse ler criticamente o texto para oferecer uma segunda opinião. Esta atitude temerária tornou a sua obra extremamente extensa e repetitiva, além de completamente arriscada em termos de credibilidade do conteúdo.

Por outro lado, vários pesquisadores da Bíblia questionam a autoria de grandes trechos do chamado “Livro Sagrado” e até de todos os respectivos textos dos chamados “quatro evangelhos canônicos” (ou seja, há partes dos textos atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João, que não teriam sido estes autores que escreveram). Curiosamente, os autores espirituais da obra de Roustaing não fazem menção a nenhum problema dessa ordem. Defensores de Roustaing, ao contrário, afirmam que tudo o que existe nos evangelhos canônicos é autêntico, em franca oposição à opinião do próprio Allan Kardec que separa um capítulo de “O Evangelho segundo o Espiritismo” e o denomina “Moral Estranha”, onde levanta algumas hipóteses para explicar passagens estranhas registradas no Novo Testamento que chegou até nós. O Codificador do Espiritismo admite problemas de tradução, interpolações, deturpações, que a obra de Roustaing e seus discípulos não admitem. A própria obra “Paulo e Estevão” (Emmanuel/Chico Xavier) apresenta passagens diferenciadas em relação ao que a Bíblia nos informa.

É bem estranha a ênfase dada aos “Quatro Evangelhos Canônicos”, pois, mesmo admitindo que os textos em questão tenham sido realmente redigidos por Mateus, Marcos, Lucas e João, é sabido que Marcos e Lucas foram discípulos e não Apóstolos propriamente ditos. Assim sendo, tudo o que eles escreveram, eles aprenderam com algum ou alguns dos Apóstolos que realmente acompanharam os fatos evangélicos. Outras fontes fidedignas seriam figuras evangélicas altamente relevantes como as mulheres missionárias que acompanhavam o Mestre, como a própria Maria de Nazaré, que estavam junto a Jesus em várias passagens. Portanto, para explicar como realmente os fatos evangélicos aconteceram, Marcos e Lucas teriam menor autoridade do que os 12 apóstolos e os demais presentes. Note que Moisés e os Apóstolos teriam apenas “assistidos” os Evangelistas na elaboração da obra Rustenista, sugerindo que o papel dos quatro Evangelistas bíblicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) na obra de Roustaing teria sido muito mais predominante.

Aliás, vale um novo questionamento?! Por que somente os Evangelistas, os Apóstolos e Moisés poderiam contribuir na Revelação da Revelação?! Será que outros Espíritos superiores não poderiam ajudar também, como ocorreu na Codificação Kardequiana?! Ou será que somente “Figuras Bíblicas” teriam competência para tal projeto?! Grandes cientistas e filósofos como acontece com a “Terceira Revelação”, não poderiam também contribuir com a pressuposta “Revelação da Revelação”?! Não poderiam contribuir com seus conhecimentos para que nós aprendêssemos mais sobre as Leis da Vida?!

E quanto aos autores de Evangelhos considerados apócrifos pela Igreja (os quais não foram incluídos na Bíblia)?! Eles não poderiam discutir passagens verdadeiras presentes em seus respectivos Evangelhos para que tivéssemos uma narrativa mais completa dos tempos de Jesus?! Somente pelo fato de seus textos terem sido repudiados pela Igreja Católica haveria justificativa para que a “Revelação da Revelação” também os repudiasse?! Alegar falta de espaço é utilizar um argumento fraco considerando que “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing consiste de mais de 2000 páginas! De qualquer maneira, em se tratando de uma suposta “Revelação da Revelação” não custava comentar as passagens verídicas dos chamados Evangelhos Apócrifos (ou será que todas elas são falsas?!).

A Codificação Kardequiana foi elaborada de forma muito diferente. Nasceu com “O Livro dos Espíritos”, “O que é o Espiritismo” e “O Livro dos Médiuns” e, somente após o alicerce científico-filosófico já estar muito bem estruturado é que foi publicado “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Mesmo assim, “O Evangelho Segundo o Espiritismo” somente aborda o ensino moral de Jesus, que é o que realmente importa. Kardec seleciona tais textos justamente por não querer cair em discussões infindáveis de palavras e não de conteúdo (“A Letra Mata e o Espírito Vivifica”, diz o Apóstolo Paulo). O Codificador dividiu o Evangelho em cinco aspectos e analisa somente o filão moral em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Evidentemente, Roustaing não respeita a proposta de gradação de informações que Kardec segue rigorosamente em sua Obra.

Em suma, procedimentos bem diferenciados foram utilizados para a elaboração das obras Kardecista e Roustainguista, apesar de, supostamente, terem Espíritos em comum participando de ambas. Por outro lado, mesmo que os Espíritos não fossem exatamente os mesmos, se ambas fossem igualmente verdadeiras e mutuamente complementares, como querem os Roustainguistas, por que existiriam tantas contradições conceituais em tópicos doutrinários fundamentais?!

                Neste contexto, é importante frisar que no texto intitulado “Meu Sucessor”, exarado em “Obras Póstumas”, os Espíritos superiores deixam claro que o sucessor de Kardec somente surgiria posteriormente, deixando claro que não se tratava de Roustaing, que já estava trabalhando em “Os 4 Evangelhos” e iniciando contato com Kardec. Como então os prepostos da Providência Divina puderam ignorar a Obra de Roustaing, que seria a “Revelação da Revelação”?! Um trecho muito significativo deste texto afirma que a Terceira Revelação precisava realmente ser totalmente centralizada no Codificador para ter um caráter de homogeneidade e coerência em seus pilares básicos. Ora, então por que a suposta “Revelação da Revelação” já estava sendo enviada a outro organizador, através de uma única médium?! Para o Professor Herculano Pires, o sucessor em questão trata-se de Léon Denis. De fato, a única alternativa a Léon Denis que poderíamos admitir como sucessor de Allan Kardec seria Gabriel Delanne. Ambos desenvolveram papel de destaque no Movimento Espírita após a desencarnação do Mestre Lionês, sendo estes dois autores altamente doutrinários, isto é, claramente coerentes com os ensinamentos organizados por Allan Kardec.

                A propósito dos cognomes da obra de Roustaing, “Espiritismo Cristão” e “Revelação da Revelação”, faz-se necessário alguns comentários. A expressão “Espiritismo Cristão” foi uma colocação de grande esperteza propagandística, mas igualmente de pouca fidelidade à Obra de Kardec (e se não é fiel à Kardec não pode ser considerada Espírita!). A denominação “Espiritismo Cristão” sugere, indiretamente, que há mais de um tipo de Espiritismo e que poderia haver algum Espiritismo não Cristão, o que nas entrelinhas poderia ser uma crítica à Obra de Kardec. Confirmando esse posicionamento de superioridade em relação à Obra de Kardec, o advogado de Bordeaux, inspirado pelos autores espirituais, deixa exarado “Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação”. Esse conectivo “ou” é bastante sugestivo, pois significa que a obra de Roustaing seria uma ou outra coisa. Neste caso, de uma forma ou de outra a Codificação Kardeciana perderia, pois ou seria um Espiritismo não-Cristão ou seria uma Revelação ultrapassada pela Revelação da Revelação. E poderia, eventualmente, ser as duas coisas ao mesmo tempo, ou seja, seria uma revelação superada pois não seria Cristã, o que seria o diferencial “positivo” da Revelação da Revelação.

Vale lembrar que os verdadeiros Apóstolos do Espiritismo, os Gigantes Léon Denis e Gabriel Delanne, jamais colocaram suas respectivas obras em condição de superioridade em relação à obra de Kardec. Pelo contrário, Delanne, por exemplo, chega a dedicar uma de suas obras ao Codificador exaltando a personalidade do Codificador e sua respectiva Obra. Aparentemente, o chamado “Espírito de Cisma” já surge na obra de Roustaing, por mais que alguns aficcionados tentem “dourar a pílula” e fazer uma fusão altamente artificial entre Kardec e Roustaing.

Leonardo Marmo Moreira

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