Um confrade amigo pede para que eu forneça a
minha opinião, à luz da doutrina espírita, a respeito da homossexualidade nos
animais, uma vez que tal comportamento já foi identificado em determinadas
espécies de mamíferos.
Antes
de quaisquer considerações, faz-se necessário admitir três pré-requisitos
conceituais para construirmos a nossa resposta. O primeiro deles é que o
Espírito, princípio inteligente do Universo, em princípio não tem sexo, ou
seja, a realidade espiritual de homens e/ou machos e mulheres e/ou fêmeas na essência
é a mesma. O pensamento e o comportamento tipicamente associados a determinado
gênero advém de experiências reencarnatórias, nas quais pode haver pequena ou
mais significativa variação das morfologias sexuais de cada corpo. Assim, alguém
que apresente um pensamento e uma atitude tipicamente masculina provavelmente deve
esse perfil psíquico a uma sequência de experiências em corpos masculinos que
foram gerando condicionamento masculino (“educação é a arte de adquirir
hábitos”). Para a mulher, o raciocínio seria análogo. Por outro lado, alguém
que não apresente um quadro, em termos de personalidade, muito polarizado do
ponto de vista do comportamento sexual pode ter vivenciado uma maior
alternância sexual em seus corpos durante uma sucessão de reencarnações, além, obviamente,
de uma série de fatores psico-sociais que afetam a sexualidade da criatura.
O
segundo pré-requisito que devemos considerar é que os espíritos humanos e os
espíritos dos animais são, na essência, o mesmo princípio evolutivo, ou seja, o
mesmo “princípio inteligente do universo”, que é a definição de espírito. A
diferença fundamental entre eles é que os seres humanos encontram-se muito à
frente dos animais espiritualmente, isto é, intelecto-moralmente. Isso ocorre
em função de uma criação por Deus prévia e/ou um avanço espiritual mais
acelerado. Considerando que a distância evolutiva é muito grande, pode-se supor
que na grande maioria dos casos em questão, o fator que prevalece na diferença
evolutiva é o momento da criação desses princípios inteligentes por Deus. Deus
não pára de criar jamais. Disse Jesus: “Meu trabalha e eu trabalho também”.
O
terceiro pré-requisito é a compreensão do fato de que a evolução anímica é algo
extremamente complexo Segundo André Luiz, em “Evolução em Dois Mundos”, o
chamado “Elo Perdido”, entre as diferentes espécies somente será decifrado
pelos naturalistas quando os mesmos considerarem o perispírito e a vida no mundo
espiritual. Além disso, o número de reencarnações em variadas espécies animais
que o princípio inteligente necessita vivenciar para atingir a condição de
Espírito humano é incontável (elevadíssimo mesmo!). Assim sendo, o fato de
determinadas espécies animais apresentarem manifestações homossexuais não deve
ser tido como algo chocante, pois, em uma sequência reencarnatória, sobretudo
na fase pré-hominal, também poderia ocorrer uma alternância sexual por parte de
cada individualidade espiritual. Em adição, vale registrar que do ponto de
vista do comportamento animal, há uma série de fatores que podem afetar o
comportamento sexual dos espécimes de cada grupo. Liderança do grupo assim como
mecanismos de relação associados ou não ao poder dentro do grupo variam de espécie
para espécie, implicando que vários fatores podem influenciar o comportamento
sexual dos animais. Portanto, como o espírito não tem sexo e o sexo é, antes de
tudo, uma atitude mental adquirida por condicionamentos em função dos hábitos, determinados
grupos podem ter tais hábitos como naturais, sem nenhuma violação em um sentido
mais profundo do instinto próprio de cada espécie.
Precisamos
considerar ainda que, quanto mais evoluído for o animal, maior independência
ele começa a ter em relação ao instinto, o que é natural no caminho que leva à
conquista plena do livre-arbítrio e à condição hominal. Animais mais evoluídos,
portanto, como é o caso dos mamíferos, poderiam apresentar comportamentos mais
claramente discrepantes de uma previsão inicial dos naturalistas no que se
refere ao instinto, justamente por já apresentarem níveis significativos de
inteligência. Assim sendo, essa discrepância em relação a previsões
comportamentais não constitui uma aberração, mas algo natural, uma vez que
consideremos a complexidade do processo de aquisição e de manifestação do
chamado instinto. Podemos supor que, em pelo menos alguns destes casos, o próprio
comportamento, a priori discrepante, não deixa de evidenciar peculiaridades do
instinto nessas espécies. De fato, conhecemos pouco sobre a evolução anímica,
sua relação com o instinto, e as peculiaridades de cada espécie nesse processo
evolutivo.
Podemos
inferir que a homossexualidade nos animais, tal como ocorre no homem, não
deveria causar tanta surpresa, pois estaria associada ao processo
reencarnatório inerente à evolução espiritual de todo princípio inteligente. Desta
forma, nesta longa e complexa jornada evolutiva, as variações de condições de
corpos são inúmeras, estando todos submetidos ao mesmo mecanismo evolutivo
desde as experiências reencarnatórias nas formas pré-hominais.
Leonardo Marmo Moreira
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