A
Parapsicologia e a sua precursora denominada Metapsíquica assim como outras
propostas de estudo da chamada “paranormalidade”, através de diversas metodologias
científicas, não devem ser consideradas como adversárias do Espiritismo, mesmo
quando alguns representantes destas áreas fazem afirmações desse jaez.
Em
primeiro lugar, temos que considerar que as áreas do conhecimento são, a
priori, neutras em relação a quaisquer interpretações de fenômenos naturais,
pois, do contrário, não seriam científicas. Assim, as inferências individuais
constituem algo secundário em matéria de análise científica, sendo muito mais
relevante a proposta de estudo do fenômeno em si, independentemente das
opiniões que possam advir dessas pesquisas.
De
fato, considerando que a tradição materialista ainda limita os estudos
associados às questões relacionadas à espiritualidade e à paranormalidade em
nossos meios acadêmicos, o fato de alguns pesquisadores se predisporem ao
estudo do fenômeno por si só já representa algo extremamente positivo para o
avanço do conhecimento de natureza espiritual em nichos de maior resistência ao
assunto em nossa sociedade.
Ademais,
a existência da área científica relacionada ao estudo do fenômeno paranormal já
é um forte indício de que o fenômeno existe, ou seja, que o fato é real,
autêntico, independentemente da interpretação que as diferentes correntes
proporcionem em relação a este fato. Portanto, a simples constatação da
existência do fenômeno já abre um campo extraordinário de quebra de
preconceitos acadêmicos e avanço científico.
Alguns
confrades poderão argumentar que significativa percentagem de grupos que se
propõem ao estudo de áreas como a parapsicologia o fazem eivados por idéias preconcebidas de acordo com
suas respectivas orientações filosófico-religiosas e/ou “científicas”. Esta
constatação realmente tem fundamento, mas, ainda assim, não elimina os pontos
positivos de se estudar a questão. Até porque estes grupos não constituem a
totalidade dos pesquisadores da área, e, como é sabido, existe grande número de
pesquisadores que tem contribuído significativamente para a divulgação das
evidências de autenticidade de fenômenos que comprovam a imortalidade da alma.
Neste
contexto, devemos admitir que o debate, mesmo que muitas vezes exacerbado,
sempre fez parte do processo científico. A forte oposição entre grupos de
idéias e interpretações contrárias está associada a grandes avanços científicos
da academia e, por conseqüência, de nossa sociedade, não sendo, por
conseguinte, uma exclusividade das questões ditas “paranormais” e afins.
Estes debates seriam
positivos independentemente das idéias que, a priori, pareçam “vencer” as
referidas discussões, pois tais polêmicas, quando apropriadamente divulgadas na
mídia geram mais reflexões, mais debates e mais discussões, o que fomenta a “fé
raciocinada”, isto é, desperta as criaturas para pensarem sobre o assunto, o
que é extremamente válido para fomentar uma busca sincera da Verdade.
Do
ponto de vista espírita, tais discussões seriam interessantes, pois não
queremos impor nossa doutrina a quem quer que seja, queremos respeitosamente
estudar e aprofundar a busca pela Verdade. Vale sempre lembrar a sábia
orientação de Allan Kardec para que seguíssemos a Ciência se, em algum momento,
ficar comprovado que o Espiritismo se equivocou em algum tópico. Recomendou o Codificador
que, se isso acontecer, ou seja, se identificarmos alguma falha conceitual
dentro da estrutura doutrinária do Espiritismo, deveríamos corrigir o erro e
avançar em busca da Verdade coerentemente com a Ciência. Essa proposta do Codificador
ilustra o caráter científico do Espiritismo, pois pessoa ou grupo algum no
mundo pode monopolizar a Verdade. Nosso próprio Mestre Jesus afirma categoricamente:
“Aqueles que não estão contra nós, estão por nós”, demonstrando que a busca
pelo bem e pela Verdade na melhoria da nossa sociedade requer diferentes tipos
de contribuição.
Dentro
destes parâmetros, o Espiritismo ganha destaque pela consistência de seu
tríplice aspecto. O fato de ser uma doutrina científico-filosófico-religiosa
(entendendo religiosa em um sentido profundo de busca por uma efetiva e
constante transformação ético-moral da criatura visando o seu equilíbrio
emocional e a prática da fraternidade) conecta diretamente as conseqüências do
esclarecimento científico a uma luta constante da própria criatura por uma
mudança comportamental para melhor, ou seja, pela sua auto-educação. Logo, o
trabalho espírita torna-se uma fonte de equilíbrio pessoal e social, em função
de valorizar a conexão esclarecimento científico-transformação moral.
Obviamente,
a Parapsicologia bem como sua precursora (a Metapsíquica) não atinge tamanho
nível de abrangência, o que não é nenhuma incoerência, pois elas não se propõem
a este tipo de objetivo. Entretanto, as questões morais estão intrinsecamente
associadas ao fenômeno paranormal e a outros fenômenos afins como, por exemplo,
a Experiência de Quasi-Morte (EQM), a
lembrança de vidas passadas etc.
Entretanto,
sobre as limitações da Parapsicologia e da Metapsíquica em relação ao
Espiritismo propriamente dito é importante esclarecer que os Espíritos
desencarnados não são cobaias de laboratório, manipuladas ao bel-prazer dos
pesquisadores. Assim, ignorar os fatores morais que regem tais fenômenos limita
a probabilidade de controle sobre as variáveis inerentes aos referidos
experimentos, diminuindo o controle dos fatores que afetam os resultados das
análises, que é algo de praxe em metodologias científicas.
Léon
Denis, conforme é narrado na excelente obra biográfica “Léon Denis, O Apóstolo
do Espiritismo” de Gaston Luce, questiona as exigências experimentais dos
Metapsiquístas, uma vez que eles não levam em consideração as Leis Morais que
regem toda a influência fluídica entre os Espíritos. Realmente, as barreiras
magnéticas que impedem o acesso de Espíritos pouco evoluídos em determinados
ambientes (o que é amplamente ilustrado nas obras de vários autores, tais como
André Luiz e Manoel Philomeno de Miranda)
somente existem quando o grupo reunido para o trabalho em questão
apresenta uma série de pré-requisitos morais. Condições como boas intenções,
homogeneidade de pensamentos e propostas, amizade mútua, afinidade espiritual, hábitos
morais elevados, sobretudo no dia da respectiva reunião, preces iniciais e
finais sinceras e elevadas, entre outras. Isso ocorre, pois o nível vibratório
do perispírito (corpo espiritual) do Espírito desencarnado, isto é, o nível de
materialidade do corpo energético da entidade, depende da evolução espiritual
dessa criatura (A evolução do Espírito propriamente considerado).
Além
disso, um ambiente previamente selecionado, que seja fluidicamente elevado e
que apresente condições de tranqüilidade para o grupo, favorece a assistência
de Espíritos mais elevados, uma vez que os mentores espirituais são,
invariavelmente, Espíritos altamente comprometidos com o aproveitamento do
tempo em atividades úteis e fraternas para um maior proveito espiritual do
maior número possível de indivíduos. Obviamente, a curiosidade científica é
algo meritório aos olhos de nossos protetores. Entretanto, a curiosidade
ociosa, pseudo-científica, em um ambiente sem compromisso com o bem e a
fraternidade, onde muitas vezes impera a vaidade intelectual, a rivalidade e o
ceticismo, não atrairá os verdadeiros trabalhadores espirituais.
As
Leis Universais que regem a Afinidade Espiritual estabelecem naturalmente o
intercâmbio fluídico entre seres afins, o que frequentemente limita a ação
efetiva dos mentores espirituais em estudos comprobatórios da imortalidade da
alma. Tal dificuldade ocorre em função da eventual influência de um grande
número de entidades atrasadas sobre muitos componentes da respectiva reunião,
entre outros motivos. Isto aconteceria, pois a vinculação perispiritual entre o
Espírito encarnado e o Espírito desencarnado inferior moralmente, eventualmente
atuando sobre o primeiro como obsessor em função da sintonia de pensamentos
entre ambos, inviabilizaria uma maior atuação de Espíritos elevados sobre os
participantes do trabalho. Ademais, muitos desses obsessores não desejam que
suas vítimas e/ou parceiros de conúbio espiritual se convençam da realidade
espiritual, seja por preconceito religioso, seja por não desejarem que os seus
companheiros encarnados modifiquem suas atitudes morais, as quais muitas vezes
são do interesse desses obsessores.
O
fenômeno mediúnico é a manifestação das “almas dos homens que viveram no mundo”
e que mantém, após a morte do corpo físico, suas peculiaridades em relação à
personalidade, principalmente seu livre-arbítrio, implicando que podem desejar
contribuir ou não com o bom andamento dos experimentos desenvolvidos,
dependendo dos interesses espirituais a que se afeiçoam. Em outras palavras, se
desejarem podem sabotar as reuniões objetivando desacreditar a imortalidade da
alma, quando são criaturas que por variadas razões se sentem infelizes e
revoltadas em relação às suas atuais situações.
A
Metapsíquica e a Parapsicologia não dão a tais aspectos morais a consideração que
eles merecem, ou melhor, na maioria das vezes não dão consideração alguma a tais
fatores, os quais são decisivos para que a reunião obtenha sucesso em suas
metas, conforme amplamente ilustrados na Obra Kardequiana. Além do mais, “o
telefone toca de lá para cá” como nos ensina Chico Xavier, enfatizando que as
evocações espirituais, apesar de não serem inviáveis, não são recomendáveis, em
função dos riscos óbvios de que ocorram manifestações de espíritos que não são
os evocados, mas que se identificam como tais. Daí o próprio Professor
Herculano Pires afirmar “Evoque uma pedra e ela responderá”, uma vez que os
Espíritos desencarnados podem evidentemente mentir, utilizando a identidade
previamente solicitada pelos participantes. Outro aspecto diz respeito à
própria condição do médium, que é perturbado pelas vibrações negativas desses
pesquisadores despreparados espiritualmente e que literalmente estão “torcendo”
contra o fenômeno. O médium é uma espécie de antena psíquica oscilante e que é
suscetível de sentir o impacto espiritual negativo dos companheiros presentes à
reunião sem o preparo devido, o que consiste em um dos principais motivos para
que as reuniões mediúnicas espíritas sejam privativas.
Um
tópico adicional que necessita ser mencionado na presente análise diz respeito
aos chamados neologismos que imperam em propostas como a Metapsíquica, a
Parapsicologia, entre outras. É possível constatar que vários conceitos
discutidos primeiramente por Allan Kardec são rediscutidos, com frequência sem
adição substancial de conteúdo, sob outras denominações. Se, sob um determinado
ângulo, tal realidade não agrada os adeptos do Movimento Espírita, por outro
lado, temos que admitir que os Verdadeiros Espíritas bem com os Mentores
Espirituais não estão preocupados com os nomes e os créditos referentes aos
conceitos espirituais, mas sim com a divulgação da Verdade, independentemente
da sua origem e de quem recebe os pressupostos reconhecimentos. Lembrando, uma
vez mais, Jesus: “Aqueles que não estão contra nós, estão por nós” e “Que a mão
esquerda não saiba o que dá a direita”. No mundo espiritual, verdadeiro mundo
causal, a contribuição real de cada indivíduo para a conquista e divulgação da
Verdade será efetivamente considerada.
Portanto,
a principal preocupação dos trabalhadores espíritas no que se refere aos
debates e eventuais correlações positivas ou negativas em relação à
Parapsicologia e áreas afins deveria ser a melhoria no nível doutrinário de
todos nós, espíritas militantes, para conseguirmos expor com mais consistência
e clareza o imensurável conjunto de evidências concretas que o Espiritismo nos
fornece da realidade do fenômeno mediúnico, da imortalidade da alma e da
reencarnação. Afinal, quem busca sinceramente a Verdade, não tem o que temer. Pelo
contrário, deve considerar positivos os incentivos ao debate e ao estudo
conjunto para que a realidade espiritual surja cada vez mais patente para um
número maior de irmãos a fim de que todos conheçam a Verdade para que a Verdade
nos liberte.
Leonardo Marmo Moreira
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