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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Questionamentos sobre esclarecimentos espíritas no velório

Recentemente, temos sido questionados sobre a atitude espírita mais adequada no velório. Obviamente, o espírita deve ter uma atitude de vigilância moral e espiritual para contribuir efetivamente com o desencarnante, principalmente através da prece e das suas vibrações através da conduta elevada; e com a família bem como os amigos encarnados do desencarnante, através do apoio emocional e espiritual, dentro dos limites naturais que a situação permita.  Isso pode ou não incluir algum esclarecimento doutrinário pontual, desde que solicitado por um único indivíduo ou por um grupo e respeitando a liberdade individual de cada ser humano. Entretanto, alguns confrades nos questionaram a respeito de orientações recebidas em determinados grupos espíritas que recomendavam um trabalho fortemente doutrinário em velórios, seja velório de famílias espíritas ou não-espíritas, independentemente desse trabalho ser sido ou não solicitado pela família.

Primeiramente temos que relembrar que o assunto velório é muito delicado, pois cada indivíduo reage à desencarnação de um ser querido de uma forma muito particular. Em que pese a muito provável boa intenção dos proponentes da supracitada diretriz, temos que convir que muitos familiares e amigos podem estar em verdadeiro estado de choque, ou seja, em contundente perturbação emocional e espiritual. Ademais, o trabalho de uma vida de amadurecimento religioso não pode ser improvisado, sobretudo em um momento de grande estresse emocional. Como dizem alguns estudiosos norte-americanos: “Na hora da ação, a hora da preparação já passou”.

Assim sendo, em princípio, sem maiores detalhes a respeito das nuances que envolvem tal orientação, não podemos concordar com as referidas sugestões. Não é possível elaborar um grupo de estudo ad hoc para o velório (e o que é pior, para velório de qualquer tipo de família). A iniciativa poderia ser modificada e melhorada consideravelmente se fosse para ser formado um grupo de estudos na casa espírita que abordasse temas como velório, morte, adaptação ao mundo espiritual etc. 

Seria interessante, por exemplo, o estudo das obras de André Luiz, a obra "Voltei" de Irmão Jacob, entre outras obtidas pela mediunidade de Chico Xavier. Poderíamos também citar “Memórias de Um Suicida” de Yvonne Pereira e as obras de Manoel P. Miranda pelo médium Divaldo Franco. Tais obras deveriam ser utilizadas objetivando, obviamente, o estudo dentro da Casa Espírita. Daí a constituir um grupo que vá a "velórios espíritas ou não espíritas, para orar, e fazer uma explanação" vai uma enorme diferença. Portanto, a não ser que exista um convite bem explícito, que represente o desejo de toda a família, tal iniciativa não seria interessante, pois poderia acarretar situações desagradáveis de conflito religioso e antipatia, totalmente dispensáveis, principalmente para o Espírito desencarnante, em momento de tamanha comoção.

De fato, nem sempre o “grupo de estudos e exposição espírita” será bem-vindo no velório, sobretudo em se tratando de velórios não espíritas! E mesmo em velórios espíritas, nem sempre somos amigos da família e nem sempre a família quer que haja "explanações".

Neste contexto, fomos igualmente interrogados sobre o respeito que devemos ter pelas orientações dos dirigentes espíritas que recomendaram tal iniciativa. Essa também é uma questão que requer necessariamente grande cota de educação, tato, bom-senso e preparação doutrinária.

            A "hierarquia" no Movimento Espírita é dada em primeiro lugar pelo amor e pela autoridade moral (enfim, pelo elevado caráter e pela bondade) e pelo conteúdo doutrinário dos participantes, juntamente com a coerência e simplicidade de atitudes associadas à ação de cada trabalhador dentro da instituição espírita. Claro que devemos respeitar os cargos e a direção da Casa e/ou órgãos espíritas, assim como as respectivas responsabilidades associadas a cada posição no Movimento Espírita, mesmo quando tenhamos opiniões divergentes a respeito de algum ponto doutrinário ou diretriz institucional. Mas isso não quer dizer que a direção da Casa esteja necessariamente correta, do ponto de vista doutrinário, em todas as suas determinações. A Doutrina Espírita tem por meta encaminhar-nos à Verdade e é para isso que estudamos e trabalhamos, a fim de que “a Verdade nos liberte” de nossas mazelas morais. Entretanto, o Espiritismo também ensina-nos o “Livre-arbítrio” e que “A cada um é dado conforme suas obras”, implicando que não conseguiremos, e muito menos deveremos, violentar a consciência de quem quer que seja, independentemente da situação. Nosso trabalho é de educação global, e, para que isso ocorra de forma eficaz, temos que respeitar o tempo requisitado pelos indivíduos.


Somente a constância no estudo doutrinário fará com que nós tenhamos segurança doutrinária para, juntamente com uma "humildade dinâmica", poder avaliar a qualidade de cada informação que é veiculada no movimento espírita, seja de origem mediúnica ou não. Essa atitude é fundamental porque individualmente somos membros do Movimento Espírita, e teremos, é claro, nossa cota de responsabilidade pessoal pelo que fizermos e pelo que não fizermos como células do Movimento Espírita.

Leonardo Marmo Moreira