Recentemente, temos sido questionados sobre a
atitude espírita mais adequada no velório. Obviamente, o espírita deve ter uma
atitude de vigilância moral e espiritual para contribuir efetivamente com o
desencarnante, principalmente através da prece e das suas vibrações através da
conduta elevada; e com a família bem como os amigos encarnados do desencarnante,
através do apoio emocional e espiritual, dentro dos limites naturais que a
situação permita. Isso pode ou não
incluir algum esclarecimento doutrinário pontual, desde que solicitado por um
único indivíduo ou por um grupo e respeitando a liberdade individual de cada
ser humano. Entretanto, alguns confrades nos questionaram a respeito de
orientações recebidas em determinados grupos espíritas que recomendavam um
trabalho fortemente doutrinário em velórios, seja velório de famílias espíritas
ou não-espíritas, independentemente desse trabalho ser sido ou não solicitado
pela família.
Primeiramente temos que relembrar que o assunto
velório é muito delicado, pois cada indivíduo reage à desencarnação de um ser
querido de uma forma muito particular. Em que pese a muito provável boa
intenção dos proponentes da supracitada diretriz, temos que convir que muitos
familiares e amigos podem estar em verdadeiro estado de choque, ou seja, em
contundente perturbação emocional e espiritual. Ademais, o trabalho de uma vida
de amadurecimento religioso não pode ser improvisado, sobretudo em um momento
de grande estresse emocional. Como dizem alguns estudiosos norte-americanos:
“Na hora da ação, a hora da preparação já passou”.
Assim sendo, em princípio, sem maiores detalhes a
respeito das nuances que envolvem tal orientação, não podemos concordar com
as referidas sugestões. Não é possível elaborar um grupo de estudo ad hoc para o velório (e o que é pior,
para velório de qualquer tipo de família). A iniciativa poderia ser modificada
e melhorada consideravelmente se fosse para ser formado um grupo de estudos na
casa espírita que abordasse temas como velório, morte, adaptação ao mundo
espiritual etc.
Seria interessante, por exemplo, o estudo das obras
de André Luiz, a obra "Voltei" de Irmão Jacob, entre outras obtidas
pela mediunidade de Chico Xavier. Poderíamos também citar “Memórias de Um
Suicida” de Yvonne Pereira e as obras de Manoel P. Miranda pelo médium Divaldo
Franco. Tais obras deveriam ser utilizadas objetivando, obviamente, o estudo
dentro da Casa Espírita. Daí a constituir um grupo que vá a "velórios
espíritas ou não espíritas, para orar, e fazer uma explanação" vai uma
enorme diferença. Portanto, a não ser que exista um convite bem explícito, que
represente o desejo de toda a família, tal iniciativa não seria interessante,
pois poderia acarretar situações desagradáveis de conflito religioso e
antipatia, totalmente dispensáveis, principalmente para o Espírito
desencarnante, em momento de tamanha comoção.
De fato, nem sempre o “grupo de estudos e exposição
espírita” será bem-vindo no velório, sobretudo em se tratando de velórios não
espíritas! E mesmo em velórios espíritas, nem sempre somos amigos da família
e nem sempre a família quer que haja "explanações".
Neste contexto, fomos igualmente interrogados sobre
o respeito que devemos ter pelas orientações dos dirigentes espíritas que
recomendaram tal iniciativa. Essa também é uma questão que requer
necessariamente grande cota de educação, tato, bom-senso e preparação
doutrinária.
A "hierarquia" no
Movimento Espírita é dada em primeiro lugar pelo amor e pela
autoridade moral (enfim, pelo elevado caráter e pela bondade) e
pelo conteúdo doutrinário dos participantes, juntamente com a coerência e
simplicidade de atitudes associadas à ação de cada trabalhador dentro da
instituição espírita. Claro que devemos respeitar os cargos e a direção da Casa
e/ou órgãos espíritas, assim como as respectivas responsabilidades associadas a
cada posição no Movimento Espírita, mesmo quando tenhamos opiniões divergentes
a respeito de algum ponto doutrinário ou diretriz institucional. Mas isso não
quer dizer que a direção da Casa esteja necessariamente correta, do ponto de
vista doutrinário, em todas as suas determinações. A Doutrina Espírita tem por
meta encaminhar-nos à Verdade e é para isso que estudamos e trabalhamos, a fim
de que “a Verdade nos liberte” de nossas mazelas morais. Entretanto, o
Espiritismo também ensina-nos o “Livre-arbítrio” e que “A cada um é dado
conforme suas obras”, implicando que não conseguiremos, e muito menos
deveremos, violentar a consciência de quem quer que seja, independentemente da
situação. Nosso trabalho é de educação global, e, para que isso ocorra de forma
eficaz, temos que respeitar o tempo requisitado pelos indivíduos.
Somente a constância no estudo doutrinário fará com
que nós tenhamos segurança doutrinária para, juntamente com uma "humildade
dinâmica", poder avaliar a qualidade de cada informação que é veiculada no
movimento espírita, seja de origem mediúnica ou não. Essa atitude é fundamental
porque individualmente somos membros do Movimento Espírita, e teremos, é claro,
nossa cota de responsabilidade pessoal pelo que fizermos e pelo que não
fizermos como células do Movimento Espírita.
Leonardo Marmo Moreira